É difícil parar para refletir em meio à agitação da vida urbana. A memória recente é de catástrofes, tragédias, conflitos, o incêndio do qual todos tentam fugir. Mas o feriado alonga o incômodo, transformando o ócio em frenesi de transporte, bagagem, filas e mais pressa. A vida paga pedágio. Mas a civilização, mesmo saturada de seus excessos, não nos deixa totalmente isolados das fontes originais em que brotam os sentidos da vida. Elas estão ao nosso alcance, ocultas sob o tempo histórico aparentemente linear do Ocidente. Os ciclos da cultura e suas datas cartesianamente chamadas de "simbólicas" são vias de acesso.
Agora vamos à Páscoa e nos preparamos para um grande esforço. Da trajetória dos judeus herdamos aqueles 40 anos de marcha, atravessando o mar e o deserto para sair do cativeiro e do exílio e chegar à Terra Prometida onde, além da novidade da terra, haveria a alegria de viver em novidade de vida. Ressignificada pela tradição cristã, a passagem é íntima e radical: atravessamos o vale da morte, deixando os tesouros efêmeros sujeitos às traças e à ferrugem pelo tesouro da verdade que jorra na vida eterna.
E mesmo os que não professam uma crença estão profundamente mergulhados nessas densas camadas da subjetividade inerente à condição humana. O acesso às fontes, portanto, é possível a todos.
Talvez seja por isso que, em meio à variedade de crenças e descrenças, a humanidade sente aproximar-se sua Páscoa, seu grande esforço, seu supremo sacrifício para alcançar o que está além do tempo previsível. Sob a camada das repetições que criam couraças para nos encerrar em velhas certezas, há um incontornável medo da travessia do deserto, das tempestades, do sofrimento, da morte pela estagnação.
A crise mal começou, sabemos. Ultrapassou a miséria crônica das periferias e já penetrou nas fortalezas centrais do império. Adiamos as decisões mais urgentes para depois de todos os prazos, na mudança da economia, na prevenção das mudanças climáticas, na readequação das cidades, na proteção das comunidades, na educação das gerações. Atrasamo-nos, especialmente, na política, transformada num jogo de vitrines e estilingues do ego. Desprezamos os avisos da ciência, deixamos a sabedoria clamando no deserto. Comprometemos as safras dos tempos vindouros pela colheita de apenas algumas décadas.
Há, entretanto, uma força silenciosa e sem nome. Chamam-na esperança, utopia, sonho, fé e até destino. É um grão de certeza, uma pequeníssima semente. Uma promessa de que a vida será restaurada em seu sentido mais profundo. Chegaremos ao Reino e nele não teremos armas, mas simplesmente leite e mel. Serenidade na passagem da dor à alegria. Feliz Páscoa para todos.
Agora vamos à Páscoa e nos preparamos para um grande esforço. Da trajetória dos judeus herdamos aqueles 40 anos de marcha, atravessando o mar e o deserto para sair do cativeiro e do exílio e chegar à Terra Prometida onde, além da novidade da terra, haveria a alegria de viver em novidade de vida. Ressignificada pela tradição cristã, a passagem é íntima e radical: atravessamos o vale da morte, deixando os tesouros efêmeros sujeitos às traças e à ferrugem pelo tesouro da verdade que jorra na vida eterna.
E mesmo os que não professam uma crença estão profundamente mergulhados nessas densas camadas da subjetividade inerente à condição humana. O acesso às fontes, portanto, é possível a todos.
Talvez seja por isso que, em meio à variedade de crenças e descrenças, a humanidade sente aproximar-se sua Páscoa, seu grande esforço, seu supremo sacrifício para alcançar o que está além do tempo previsível. Sob a camada das repetições que criam couraças para nos encerrar em velhas certezas, há um incontornável medo da travessia do deserto, das tempestades, do sofrimento, da morte pela estagnação.
A crise mal começou, sabemos. Ultrapassou a miséria crônica das periferias e já penetrou nas fortalezas centrais do império. Adiamos as decisões mais urgentes para depois de todos os prazos, na mudança da economia, na prevenção das mudanças climáticas, na readequação das cidades, na proteção das comunidades, na educação das gerações. Atrasamo-nos, especialmente, na política, transformada num jogo de vitrines e estilingues do ego. Desprezamos os avisos da ciência, deixamos a sabedoria clamando no deserto. Comprometemos as safras dos tempos vindouros pela colheita de apenas algumas décadas.
Há, entretanto, uma força silenciosa e sem nome. Chamam-na esperança, utopia, sonho, fé e até destino. É um grão de certeza, uma pequeníssima semente. Uma promessa de que a vida será restaurada em seu sentido mais profundo. Chegaremos ao Reino e nele não teremos armas, mas simplesmente leite e mel. Serenidade na passagem da dor à alegria. Feliz Páscoa para todos.
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