Outono já chegou com queda nas temperaturas e traz consigo as gripes,
desprezadas pela maioria das pessoas. Doença chega a matar 500 mil por
ano no mundo
Lilian Monteiro
Estado de Minas: 28/03/2013
São Paulo
– Já estamos no outono, estação que antecede o inverno, quando as
temperaturas caem e é dado o sinal de alerta para os cuidados com a
saúde. A vilã do período é a gripe causada pelo vírus influenza, doença
altamente contagiosa, que afeta nariz, garganta e pulmões, e pode se
manifestar de forma severa e causar até a morte. A transmissão ocorre
por meio de gotículas expelidas pelas pessoas infectadas, quando
espirram, tossem ou falam. Pode-se contrair também ao se tocar
superfície ou objetos contaminados levando a mão à boca, olhos e nariz.
Portanto, é hora de ligar o sinal de alerta e estar vigilante para
amenizar uma enfermidade tão comum nesta época do ano.
No Brasil, por
meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), da Secretaria de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a campanha de vacinação
anunciada na terça-feira pelo ministro Alexandre Padilha ocorre de 15 a
26 de abril com prioridade para os grupos de risco: crianças entre seis
meses e dois anos, gestantes, maiores de 60 anos, profissionais da
saúde, indígenas e população prisional. Este ano as mulheres em
puerpério (45 dias após o parto) também estão inclusas na campanha e
devem ir aos postos. A parcela restante da população que quiser se
proteger terá de procurar uma clínica particular.
A gripe atinge até
15% da população mundial, o equivalente a mais de 600 milhões de
pessoas, causando até 500 mil mortes, principalmente de idosos e
portadores de doenças crônicas (asma, diabetes, angina, enfizema, doença
renal crônica etc.), e milhões de internações, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, um grande problema de saúde
pública.
Recentemente, um evento em São Paulo reuniu especialistas
para tratar do tema, com o intuito de esclarecer a população sobre os
perigos da gripe. Reunidos na Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo, os médicos debateram sobre o quadro encarado desde
novembro de 2012 pelos Estados Unidos, que enfrentam a pior epidemia de
gripe dos últimos quatros anos. Tanto que os estados de Nova York (mais
de 19 mil novaiorquinos) e Pensilvânia declararam estado de emergência. A
doença já infectou mais de 27 mil norte-americanos.
A médica Nancy
Bellei, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo, onde coordena o programa de pós-graduação de
viroses respiratórias, explica que “a chegada antecipada do influenza
coincidiu com a circulação de outros vírus, como o sincicial e o
parainfluenza, atingindo a população em cheio”. Um sinal vermelho e
tanto para o Brasil, já que os números voltaram a crescer depois da
pandemia de 2009, quando foram mais de 50 mil casos documentados. No ano
passado, o H1N1 provocou 2.614 internações, contra 181 registradas ao
longo de 2011. Entre os estados mais afetados está Minas Gerais, com 134
casos. Os piores cenários foram de Santa Catarina (743), Paraná (621),
Rio Grande do Sul (520), São Paulo (370), Mato Grosso do Sul (60) e
Ceará (53).
De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde, as internações por essa cepa – vírus A/H1N1 –
representaram 65,5% das 4.016 causadas pela gripe. O quadro de mortes de
pessoas com diagnóstico positivo para o vírus também piorou: os números
subiram de 21 em 2011 para 351 em 2012, com ocorrências principalmente
em Santa Catarina (76), São Paulo (73), Rio Grande do Sul (68), Paraná
(45), Minas Gerais (44), Goiás (12) e Ceará (11).
“Em 2012, a maior
taxa de óbito foi na população jovem e é preciso ter atenção com os
portadores de asma, doença subestimada de risco para o Influenza”,
destaca Nancy. Ela enfatiza o valor da vacina: “Em 2010, foram 88
milhões de pessoas vacinadas pela campanha, o maior índice. Mas é
preciso que saibam que depois de 14 meses ninguém mais tem anticorpos.
Precisamos do nível alto que ocorre em torno de oito meses, pico máximo
de proteção. É importante vacinar todo ano porque o vírus é mutante. A
recomendação dos EUA é universal para que todos se vacinem”. E reforça:
“A gripe causada pelo influenza é uma doença social. A tendência é
imprevisível e depende de múltiplos fatores”.
MITOS A
médica Lúcia Bricks, diretora de saúde pública do laboratório Sanofi
Pasteur, desmente alguns mitos que circulam entre a população e, muitas
vezes, impedem a vacinação correta: “A vacina não causa gripe. Às vezes,
ao administrá-la, o vírus já está circulando e é preciso duas semanas
para produzir anticorpos. As reações são transitórias, leves e só não há
como esconder que dói um pouquinho. O profissional da saúde que reclama
de febre e dor está errado porque impacta negativamente sobre os
demais. As exceções e reações alérgicas são pouco comuns, casos da rara
doença Guillain-Barré e alergia a ovo. A recomendação é discutir o risco
e benefício e aplicar a dose num lugar próprio e cuidadoso”.
A
vacina é a forma mais eficaz para a prevenção da gripe e suas
complicações. As doses aplicadas no Brasil estão atualizadas para
proteger as pessoas com as três principais cepas em circulação no
Hemisfério Sul: H1N1, H3N2 e o influenza B. As crianças são as
principais transmissoras e os idosos morrem mais. Por isso a importância
da proteção indireta, que reduz o risco de infecção para os contatos de
pessoas vacinadas e não apenas para os vacinados. Quanto maior a
proporção de pessoas vacinadas, menor a circulação do vírus na
comunidade.
Tanto é verdade que pesquisadora do Instituto Butantan
Vera Gattás revelou que vacina contra a gripe em escolares protege seus
familiares não vacinados. “A meta é a homogeneidade de cobertura. Ou
seja, mais de 80% da população-alvo e mais de 5 mil municípios
brasileiros. Todos têm acesso à vacina e nossos índices do programa de
vacinação são invejados pelo mundo”, destaca o médico José Cássio de
Moraes, professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa
de São Paulo. Em 2012, o Brasil imunizou 26.034.956 pessoas ou 86% do
público-alvo, formado por 30.144.550 de brasileiros, resultado parcial
do Ministério da Saúde. A novidade de 2013 é que os seis milhões de
portadores de doença crônica vão ter mais facilidade para se proteger,
já que poderão receber a dose em 35 mil salas de vacina do Sistema Único
de Saúde (SUS). Até o ano passado, esse grupo tinha de vacinar nos
centros de referência de imunização especial (Cries).
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