Linhas cruzadas no PT
Cada vez mais pragmático, o PT ainda carrega, para consumo interno, seus resquícios de ideologia. É a única explicação para o atual conflito entre o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e dirigentes de seu partido sobre a questão da banda larga.Segundo Bernardo, para aumentar os investimentos privados em telecomunicações, o governo prevê desoneração fiscal de R$ 6 bilhões ao setor nos próximos cinco anos. Foi o que bastou para áreas do petismo passarem a acusar o ministro de fazer lobby pelas empresas de telecomunicações.
"Será que o PT pensa que são as empresas que pagam esse imposto?" -reagiu o ministro em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". Quem paga pelos altos custos das comunicações no país, assinalou, é o consumidor. "Quando você faz incentivo para automóvel, ninguém acha anormal."
São bem outras, na realidade, as razões do dissenso entre Paulo Bernardo e o PT. O alvo do partido tem muito pouco a ver com investimentos na infraestrutura de tráfego de dados, da qualidade dos serviços e dos custos ao usuário.
O PT procura fundir essas preocupações -legítimas, porque o país está muito atrasado na matéria- com objetivos de ordem doutrinária. Critica-se o governo Dilma Rousseff, em seu próprio partido, por não levar adiante uma antiga reivindicação -a "democratização dos meios de comunicação".
O termo esconde mal o propósito, especialmente agudo depois do escândalo do mensalão, de impor controle sobre a imprensa. Ela é acusada, como se esse não fosse o seu dever, de criticar o governo.
Surge, assim, o paradoxo tipicamente petista de carregar nas tintas ideológicas quando se vê desmascarado na fisiologia. A tática é fazer-se de oprimido por inimigos poderosos, quando a banda podre do PT busca prosseguir, sem críticas, no desmando e na corrupção.
Refratário, por qual motivo for, ao ressentimento dos mensaleiros, o governo aposentou por ora a tese da "democratização" da imprensa. Concentra suas ações nos problemas econômicos -as quais não deveriam excluir, por certo, medidas de estímulo à concorrência no setor de telecomunicações.
Paulo Bernardo terminou eleito como bode expiatório por alas frustradas de seu próprio partido. No entanto, o PT não ousa, ao que tudo indica, atribuir à presidente da República a responsabilidade pela orientação em curso.
A comédia se destina só a contemplar o inconformismo daqueles que, flagrados em irregularidades, não perdem a arrogância jamais.
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Duas faces da violência
Índice de homicídios segue em alta na Grande São Paulo e no Estado, mas situação dá sinais de melhora e contrasta com a de outras capitais
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria da Segurança Pública relativos a fevereiro, já são sete meses consecutivos em que se verifica um número de assassinatos maior do que no mesmo período do ano anterior.
Em fevereiro de 2012, haviam sido registrados 328 casos de homicídio doloso (com intenção de matar) em todo o Estado. Agora, foram 371, alta de 13%. Se considerada apenas a capital, o aumento foi de 14%, passando de 78 para 89 ocorrências desse tipo de crime.
A exemplo do que ocorrera em janeiro, a Grande São Paulo -excluídas as ocorrências da própria capital- é a principal responsável pelas estatísticas negativas. Neste fevereiro, foram 100 assassinatos, contra 76 do mesmo mês de 2012 -vale dizer, um incremento de 32%.
Parece evidente que ainda se fazem sentir os efeitos da onda de violência iniciada no segundo semestre do ano passado, com o confronto prolongado e sinistro entre criminosos organizados e agentes da Polícia Militar.
Além de resultar na disparada dos índices de criminalidade no Estado, o conflito levou à queda do responsável pela Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto. O atual secretário, Fernando Grella Vieira, assumiu em novembro com a proposta de fortalecer as investigações, a cargo da Polícia Civil.
Apesar da gravidade da situação, não se pode deixar de constatar que a taxa de homicídios dolosos em São Paulo permanece em patamar relativamente baixo. Nos últimos 12 meses, foram 11,67 assassinatos por 100 mil habitantes.
Ou seja, mesmo contabilizados os sete períodos de alta seguida, a taxa paulista ainda fica bem abaixo da média nacional, superior a 20 por 100 mil habitantes. Além disso, os percentuais de aumento vêm decrescendo desde novembro.
A cidade de São Paulo, que repete a cifra estadual de assassinatos por 100 mil habitantes, tampouco se compara com algumas das "capitais do medo" retratadas numa série de reportagens desta Folha. Maceió (AL), por exemplo, tem taxa de 110 homicídios por 100 mil. Em Natal (RN), a morte de jovens cresceu 952% na última década.
Nem por isso se mostra tranquilizador o nível da violência em São Paulo. Pode parecer uma obviedade dizer que os indicadores paulistas sobre homicídios, estacionados na faixa entre 10 e 12 por 100 mil, deveriam melhorar, e não piorar, mas é o que a população espera.
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