segunda-feira, 22 de abril de 2013

21 DE ABRIL » Na conta de Tiradentes-Daniel Camargos e Felipe Canêdo‏

Presidente do Supremo Tribunal Federal diz em Ouro Preto que decisão da corte sobre a constitucionalidade das cotas sociorraciais em universidade seguiu ideais do alferes 


Daniel Camargos e Felipe Canêdo
Enviados especiais

Estado de Minas: 22/04/2013 


Ouro Preto – Um ano depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar ser constitucional a adoção de políticas de cotas raciais em instituições de ensino no Brasil, o presidente da corte, ministro Joaquim Barbosa, defendeu as cotas e disse que a decisão seguiu os ideais de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. “No Brasil contemporâneo há progressos recentes na promoção do ideário de igualdade de Tiradentes, como é o caso do reconhecimento da desigualdade e da exclusão social histórica de que foi vítima um segmento-chave da comunhão nacional, os negros, fato que levou o nosso STF a chancelar as políticas de ações afirmativas para grupos sociais hipossuficientes em universidades públicas”, declarou Barbosa.

O presidente do STF disse ainda que muito deve ser feito para que o país tenha “pelo menos uma aceitável igualdade de oportunidades para todos os nossos concidadãos”. Para Barbosa, o Estado tem o dever de garantir a igualdade de todos, principalmente com políticas públicas para quem se encontra em situação de vulnerabilidade. Para referendar a política de cotas o presidente do STF citou Aristóteles e também Rui Barbosa: “O princípio da igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam”.

A decisão do Supremo completa um ano na sexta-feira, dia 26. Na ocasião foi votado por unanimidade que é constitucional a adoção de políticas de cotas raciais em instituições de ensino. Dos 11 ministros do tribunal, somente Dias Toffoli não participou do julgamento porque elaborou parecer a favor das cotas quando era advogado-geral da União. A ação julgada, protocolada pelo DEM, questionou o sistema de cotas raciais na UnB, com reserva de 20% das vagas do vestibular exclusivamente para negros e vagas para índios independentemente de vestibular.

Orador oficial da solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto, Barbosa recebeu o Grande Colar, homenagem máxima do governo mineiro, durante a cerimônia. Antes da solenidade, pediu um fisioterapeuta de prontidão, por causa de suas fortes dores lombares, e teve um tenente da área médica da Polícia Militar à disposição.

AUSENTES
Dois dos homenageados na cerimônia ligados à presidente Dilma Rousseff (PT) não foram até Ouro Preto receber suas medalhas. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e a ministra do STF Rosa Maria Webber. Entre o primeiro escalão do governo federal, somente o ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, foi à antiga capital mineira.

Já o senador Aécio Neves, provável nome do PSDB como candidato à Presidência da República em 2014, sentou ao lado direito de Barbosa e durante vários momentos da cerimônia os dois conversaram ao pé do ouvido. Do lado esquerdo de Barbosa estava o governador Antonio Anastasia (PSDB). Aécio, entretanto, em entrevista após a entrega das medalhas, descartou que a presença de Joaquim Barbosa teve um teor político. “Estamos homenageando um mineiro que é reconhecido não apenas no Brasil, mas no mundo, pela importância que tem”, afirmou o senador, que aproveitou para citar o recente julgamento do STF do mensalão, que condenou nomes importantes do PT.


21 DE ABRIL » Defesa da luta pela liberdade
O governador Antonio Anastasia (PSDB) em seu discurso durante a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência destacou as passagens de Minas Gerais em lutas pela conquista da liberdade. “Nos rebelamos em 1708, em 1720, em 1789 e em 1842. Mas não nos seduziam, e não nos seduzem, os arroubos da anarquia. O nosso empenho está na busca da liberdade para construir a ordem da justiça, e no emprego da ordem a fim de garantir a liberdade. Nesse equilíbrio entre os dois pesos, se encontra a Justiça. E esse equilíbrio só se obtém na paciente atividade política”, disse.

Recebido na Praça Tiradentes com honras militares e aplausos, o governador estava acompanhado do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. Anastasia passou em revista a Guarda de Honra da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais e homenageou Tiradentes, com a colocação de uma coroa de flores no monumento ao mártir da Inconfidência.

A solenidade é marcada por ritos, como a chegada do chamado fogo simbólico, levado por cerca de mil cavaleiros, que se revezaram num percurso de 355 quilômetros, passando por várias cidades históricas, até chegar a Ouro Preto. As autoridades foram recebidas com salva de 21 tiros.

Criada em 1952, durante o governo de Juscelino Kubitschek, a Medalha da Inconfidência é entregue pelo governo estadual a personalidades que ajudaram no desenvolvimento de Minas e do Brasil. Cerca de 1,8 mil pessoas participaram da cerimônia, sendo 853 estudantes que carregaram bandeiras de cada uma das cidades mineiras.

Protesto frustrado

O presidente da Câmara Municipal de Ouro Preto, Leonardo Barbosa (PSDB), o Léo Feijoada, foi acordado ontem com uma surpresa. O protesto que havia organizado – panos pretos pendurados nas sacadas do prédio da Câmara Municipal, na Praça Tiradentes – foi retirado e no lugar foram colocadas bandeiras de Minas (foto), como as outras varandas estavam decoradas para a cerimônia. “Tiraram a faixa sem ordem”, afirmou Feijoada. O motivo do protesto, segundo o vereador, é que a cerimônia não tem presença livre para os moradores. O capitão da Polícia Militar André Domiciano de Oliveira, que é diretor de inteligência da corporação, tentou demover Feijoada da ideia do protesto, mas não teve sucesso. As bandeiras de Minas Gerais foram retiradas da sacada, que também não recebeu os panos pretos de protesto de volta. “Sumiram até com nossos panos, assim como fizeram com o corpo de Tiradentes.”
21 DE ABRIL » Prioridade ao TRF mineiro 


Senador Aécio Neves defendeu em conversa com o ministro Joaquim Barbosa a criação de Tribunal Regional Federal em Minas, aprovado no Congresso, mas que aguarda promulgação
 



Daniel Camargos e Felipe Canêdo
Enviados especiais

Ouro Preto – O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) conversou ontem com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, e acredita que Barbosa concorda com ele sobre a importância da criação do Tribunal Regional Federal para atender as demandas de Minas na segunda instância. “Ele tem uma posição que eu respeito, mas eu continuo achando que o TRF de Minas precisa ser criado para desafogar a Justiça Federal”, afirmou o senador. Barbosa, entretanto, deixou a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência sem conversar com a imprensa.

Logo após a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 554, no início deste mês, o presidente do STF manifestou-se contra a criação de novos tribunais regionais federais. Barbosa chegou a encaminhar ofícios ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e ao presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), criticando o aumento do número de tribunais. Com isso, Calheiros suspendeu a promulgação da PEC.

O presidente do STF também protagonizou um bate-boca com o juiz federal Ivanir César Ireno Júnior, que é vice-presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe). O ministro considerou que os juízes agiram de forma “sorrateira” e na “surdina” para apoiarem a PEC no Congresso. “Sorrateira, não, ministro. Sorrateira, não. (De forma) Democrática e transparente”, rebateu Ivanir na ocasião.

A instalação de uma sede do TRF em Minas Gerais promete acabar com um problema que há anos incomoda população e advogados mineiros: a demora na tramitação dos processos que envolvem a União. As ações atualmente levam, em média, 10 anos para serem julgadas e apresentam uma taxa de congestionamento de 40%. Isso porque os casos que têm mineiros como parte são todos julgados no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, com sede em Brasília, responsável por outros 12 estados e o Distrito Federal. Além do novo tribunal em Minas, serão implantados três nas capitais do Paraná, Bahia e Amazonas.

Além da promulgação da PEC pelo Congresso para que o TRF mineiro, que será denominado da Sétima Região, seja criado caberá ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) editar uma lei ordinária, determinando a criação dos cargos necessários para o funcionamento do órgão. A lei será examinada pelo Conselho de Justiça Federal (CJF) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

DEMORA Estudo da Associação dos Juízes Federais de Minas Gerais (Ajufemg) revela um imenso gargalo entre a primeira instância, sediada nos estados, e a segunda instância, em Brasília. Desde 1989, a primeira instância, presente em 214 municípios, cresceu 470%. Até 2014 chegará a 273 cidades, o que representará um crescimento de 606%. Entre 1989 e 2010, a segunda instância continuou com os cinco tribunais e o número de desembargadores aumentou 89%, passando de 74 para 139.

O quadro é mais grave na primeira região, que engloba Minas Gerais. De acordo com relatório de inspeção conjunta realizada pelo CNJ e Corregedoria-Geral da Justiça Federal, o atraso é endêmico, sendo normal que a tramitação dure até sete anos. Enquanto a taxa média de congestionamento de todos os TRFs é de 67,1%, a do TRF1 é de 87,2%.

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