The New York Times
Por GINA KOLATA
Os cientistas convidados para participar de uma conferência intitulada "Entomology-2013" acharam que tinham sido chamados para fazer uma apresentação perante a principal associação profissional de cientistas que estudam insetos.
Mas eles estavam equivocados. A conferência prestigiosa e academicamente sancionada que tinham em mente tem um nome ligeiramente diferente: "Entomology 2013" (sem o hífen). A conferência para a qual eles tinham se inscrito tinha palestrantes recrutados por e-mail que não foram indicados por acadêmicos renomados.
Àqueles que concordaram em comparecer foi, mais tarde, cobrada uma taxa polpuda pelo privilégio, e praticamente todos os que pagaram ganharam um espaço no pódio, que pôde ser usado para exagerar o valor de seus currículos.
"Acho que fomos ludibriados", escreveu um dos cientistas à Entomological Society.
Os cientistas tinham ido parar num mundo paralelo e pseudoacadêmico. Nesse mundo, muitos dos periódicos e das conferências possuem nomes quase idênticos aos de publicações e eventos respeitados e amplamente conhecidos.
Steven Goodman, reitor e professor de medicina na Universidade Stanford, na Califórnia, e editor do periódico "Clinical Trials", que tem seus próprios imitadores, descreveu o fenômeno como "o lado sombrio do acesso aberto", o movimento que busca disponibilizar publicações acadêmicas gratuitamente.
O número desses periódicos e conferências vem subindo vertiginosamente à medida que o mundo editorial científico passa de um modelo tradicional -voltado a sociedades de profissionais e baseado quase inteiramente em receitas de assinaturas- para o acesso aberto -que depende de autores ou de financiadores para a publicação de artigos on-line que podem ser lidos por qualquer pessoa.
Alguns pesquisadores estão soando o alarme para o perigo da proliferação de periódicos on-line que, ao que parece, publicam qualquer coisa em troca de uma taxa. Eles avisam que pessoas não especializadas que fazem pesquisas on-line terão dificuldade em distinguir pesquisas dignas de crédito de materiais que não têm valor.
Pesquisadores dizem também que as universidades estão enfrentando novos desafios para avaliar o currículo de acadêmicos. Será que os artigos que eles mencionam foram publicados em periódicos altamente competitivos ou em outros que se fazem passar por isso?
Alguns acadêmicos dizem que tiveram dificuldade em se distanciar desses periódicos depois de terem equivocadamente concordado em participar de seus conselhos editoriais.
Jeffrey Beall, bibliotecário pesquisador na Universidade do Colorado em Denver, redigiu uma lista negra de "periódicos de acesso aberto predatórios", em suas palavras. Em 2010, sua lista tinha 20 títulos de publicações. Hoje, ela inclui mais de 300. Bealls estima que hoje existam mais de 4.000 periódicos predatórios. "São publicações que rendem dinheiro fácil, requerem muito pouco trabalho e fazem poucas exigências", disse ele.
Um dos publishers mais prolíficos na lista de Beall é Sribubabu Gedela, diretor do Omics Group. Ele possui cerca de 250 periódicos e cobra dos autores até US$ 2.700 por artigo. Gedela, que afirma ser Ph.D. pela Universidade Andhra, na Índia, diz em seu site que "aprendeu a criar maravilhas na biotecnologia". "Não há concessões na política de revisões de qualidade", escreveu ele por e-mail.
O médico Paulino Martínez, de Celaya, no México, contou que foi ingênuo o suficiente para enviar dois artigos em resposta a um e-mail que recebeu no ano passado do "Journal of Clinical Case Reports". Seus artigos foram aceitos. Em seguida, chegou uma conta de US$ 2.900. Martínez ficou chocado -ele não fazia ideia de que era cobrada uma taxa pela publicação de artigos. Pediu que seus artigos fossem sustados, mas eles foram publicados assim mesmo.
O periódico ofereceu reduzir a taxa para US$ 2.600. Finalmente, após um ano, muitos e-mails e um telefonema, a publicação perdoou a dívida de Martínez. "Sou médico num hospital de província. Não tenho o dinheiro que a publicação pediu."
Por GINA KOLATA
Os cientistas convidados para participar de uma conferência intitulada "Entomology-2013" acharam que tinham sido chamados para fazer uma apresentação perante a principal associação profissional de cientistas que estudam insetos.
Mas eles estavam equivocados. A conferência prestigiosa e academicamente sancionada que tinham em mente tem um nome ligeiramente diferente: "Entomology 2013" (sem o hífen). A conferência para a qual eles tinham se inscrito tinha palestrantes recrutados por e-mail que não foram indicados por acadêmicos renomados.
Àqueles que concordaram em comparecer foi, mais tarde, cobrada uma taxa polpuda pelo privilégio, e praticamente todos os que pagaram ganharam um espaço no pódio, que pôde ser usado para exagerar o valor de seus currículos.
"Acho que fomos ludibriados", escreveu um dos cientistas à Entomological Society.
Os cientistas tinham ido parar num mundo paralelo e pseudoacadêmico. Nesse mundo, muitos dos periódicos e das conferências possuem nomes quase idênticos aos de publicações e eventos respeitados e amplamente conhecidos.
Steven Goodman, reitor e professor de medicina na Universidade Stanford, na Califórnia, e editor do periódico "Clinical Trials", que tem seus próprios imitadores, descreveu o fenômeno como "o lado sombrio do acesso aberto", o movimento que busca disponibilizar publicações acadêmicas gratuitamente.
O número desses periódicos e conferências vem subindo vertiginosamente à medida que o mundo editorial científico passa de um modelo tradicional -voltado a sociedades de profissionais e baseado quase inteiramente em receitas de assinaturas- para o acesso aberto -que depende de autores ou de financiadores para a publicação de artigos on-line que podem ser lidos por qualquer pessoa.
Alguns pesquisadores estão soando o alarme para o perigo da proliferação de periódicos on-line que, ao que parece, publicam qualquer coisa em troca de uma taxa. Eles avisam que pessoas não especializadas que fazem pesquisas on-line terão dificuldade em distinguir pesquisas dignas de crédito de materiais que não têm valor.
Pesquisadores dizem também que as universidades estão enfrentando novos desafios para avaliar o currículo de acadêmicos. Será que os artigos que eles mencionam foram publicados em periódicos altamente competitivos ou em outros que se fazem passar por isso?
Alguns acadêmicos dizem que tiveram dificuldade em se distanciar desses periódicos depois de terem equivocadamente concordado em participar de seus conselhos editoriais.
Jeffrey Beall, bibliotecário pesquisador na Universidade do Colorado em Denver, redigiu uma lista negra de "periódicos de acesso aberto predatórios", em suas palavras. Em 2010, sua lista tinha 20 títulos de publicações. Hoje, ela inclui mais de 300. Bealls estima que hoje existam mais de 4.000 periódicos predatórios. "São publicações que rendem dinheiro fácil, requerem muito pouco trabalho e fazem poucas exigências", disse ele.
Um dos publishers mais prolíficos na lista de Beall é Sribubabu Gedela, diretor do Omics Group. Ele possui cerca de 250 periódicos e cobra dos autores até US$ 2.700 por artigo. Gedela, que afirma ser Ph.D. pela Universidade Andhra, na Índia, diz em seu site que "aprendeu a criar maravilhas na biotecnologia". "Não há concessões na política de revisões de qualidade", escreveu ele por e-mail.
O médico Paulino Martínez, de Celaya, no México, contou que foi ingênuo o suficiente para enviar dois artigos em resposta a um e-mail que recebeu no ano passado do "Journal of Clinical Case Reports". Seus artigos foram aceitos. Em seguida, chegou uma conta de US$ 2.900. Martínez ficou chocado -ele não fazia ideia de que era cobrada uma taxa pela publicação de artigos. Pediu que seus artigos fossem sustados, mas eles foram publicados assim mesmo.
O periódico ofereceu reduzir a taxa para US$ 2.600. Finalmente, após um ano, muitos e-mails e um telefonema, a publicação perdoou a dívida de Martínez. "Sou médico num hospital de província. Não tenho o dinheiro que a publicação pediu."
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