Tête-à-tela
Assistir à tv com smartphones e tablets na mão aproxima telespectador
Ela se expandiu para, agora sim, uma telinha: as de seu computador, celular e tablet. E, por saber que você está na frente de um desses dispositivos --ou navegando na internet enquanto assiste à programação--, quem faz televisão não quer perder sua atenção.
Segundo o Ibope, 43% dos internautas assistem à televisão enquanto navegam; nos EUA, são 77% das pessoas, de acordo com dados do Google.
A consequência disso é a ascensão da chamada "segunda tela", o termo do momento entre as emissoras.
Os aparelhos que se conectam à web permitem à audiência interagir com o que está passando na TV, seja acessando informações complementares, sincronizadas à transmissão, seja comentando sobre a programação nas redes sociais.
"É um fenômeno estabelecido que tende a evoluir", diz Juliana Sawaia, 35, gerente do Ibope Media. "As pessoas não estão abandonando a TV, estão consumindo-a de outra forma."
Emissoras e patrocinadores têm investido em aplicativos para celulares e tablets que fazem a ponte entre a programação e a internet --quem assiste a uma corrida de F1 ou a um jogo de futebol, por exemplo, pode seguir estatísticas extras.
Já os fãs das séries "The Walking Dead" ou "Hannibal" baixam os aplicativos das séries e podem, enquanto assistem ao episódio, obter informações detalhadas sobre o passado de um personagem, por exemplo.
Atenta ao fenômeno, a Rede Globo lançou recentemente seu app, o Com_VC.
"As mídias sociais enriqueceram a forma de ver TV, deram um dinamismo novo às conversas", diz Sergio Valente, diretor de comunicação da Rede Globo.
A segunda tela também serve para dar vazão à sede de consumo disparada pela TV, como mostra o exemplo do site brasileiro TV Square.
"Você coloca o que está vendo e tem não só informações do que as pessoas estão vestindo, mas acessa os links para comprá-los", diz Mariana Eva, 39, fundadora do TV Square.
TV+INTERNET = $$$
O potencial mercadológico da interação entre TV e internet já é explorado.
No maior negócio de sua história, o Twitter pagou quase US$ 100 milhões pela Bluefin Labs, criadora de uma plataforma que mede as reações das redes sociais à programação de TV.
Uma pesquisa recente da Motorola Mobility mostrou que 78% dos entrevistados no Brasil se disseram interessados em relacionar seus perfis de redes sociais com os serviço de TV, de forma que pudessem mostrar aos amigos o que estão vendo e discutir isso on-line.
Espectadores relacionam-se entre si, e hábito de comentar a programação deixa a sala de estar para a internet
Opiniões também funcionam para chamar mais audiência e para informar sobre o que está passando
"Eu costumo dizer que é uma nova profissão, comentarista de TV das redes sociais", diz o ator Luiz Fernando Almeida, 38, de Santos, usuário do site TV Square, que reúne telespectadores.
"Quando você está em casa, assistindo sozinho, é uma forma bacana de interagir, inclusive com gente desconhecida. Você acaba conhecendo pessoas que se interessam pela mesma programação."
Com a proliferação da segunda tela (do computador, do celular ou do tablet) e do hábito de ver TV e navegar na web ao mesmo tempo, a experiência de socializar em torno da programação passou da sala de estar para sites como o Facebook e o Twitter.
"Comentar os programas de TV sempre foi um hábito do brasileiro. E as mídias sociais conseguiram torná-lo ainda mais interessante", diz Sergio Valente, diretor de comunicação da Globo.
O burburinho na rede acaba atraindo para a TV gente que não estava ligada, além de atuar como um guia de programação personalizado.
"Antes, eu ficava zapeando na televisão e ia para a rede social, agora eu faço o contrário, vejo pelos comentários o que está rolando e vou para o canal que me interessa", conta Allan Novo, 21, DJ e produtor musical do Rio.
"Era muito mais interessante ver Avenida Brasil' com o Twitter ou com o Facebook, porque transformava a experiência num grande fórum", diz Sérgio Branco, 38, professor da FGV-RJ, especialista em direitos autorais e tecnologia.
"Esse grande debate coletivo é o futuro de assistir à TV e, para as próprias emissoras, é fundamental essa resposta do público enquanto o programa está acontecendo."
Assim, os canais investem em apps para concentrar as conversas que estão soltas nas variadas redes sociais.
"Mas não achamos que fazer um app é o melhor caminho para todos os programas", afirma Eric Berger, vice-presidente de conteúdo digital da Sony Pictures. Para ele, reality shows, por exemplo, não são conteúdo que peça um software próprio.
"O ato de compartilhar é inerente hoje. As emissoras vão se adaptar a esse novo cenário e criar ambientes específicos para que essa conversa aconteça de uma forma mais estruturada", diz Juliana Sawaia, gerente do Ibope Media.
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