Ingerir suplementos que prometem perda de
peso, fim das gordurinhas e definição muscular sem orientação ou que
têm substâncias proibidas pela Anvisa pode sabotar seu organismo
Sara Lira
Estado de Minas: 30/05/2013
Atrás do
corpo perfeito muita gente tem adotado, além de atividades físicas,
dietas milagrosas – geralmente com restrição de moderada a severa de
carboidratos e glúten – e adicionado à rotina alguns suplementos para
atingir objetivos diversos como perda de gordura, definição muscular e
até aumento da disposição para desempenhar as práticas esportivas. Na
última reportagem da série sobre alimentação suplementar, o Estado de
Minas mostra que muitos produtos têm sido consumidos sem orientação
médica ou nutricional, o que representa um risco à saúde das pessoas.
Entre
os suplementos mais procurados estão as proteínas, consumidas para
ganho de massa muscular. Alguns bloqueadores de gordura ou que auxiliam
na definição dos músculos também estão na lista. Para quem quer mais
disposição para as atividades, existe um suplemente que produz esse
estímulo e que deve ser ingerido antes da atividade. O perigo é que
muitos aumentam a constrição dos vasos sanguíneos, podendo elevar a
pressão arterial e acelerar os batimentos do coração, o que pode ser um
perigo para pessoas com problemas cardíacos ou que tenham predisposição
para cardiopatias.
Muitos deles são encontrados em farmácias,
lojas especializadas em suplementos esportivos e até em academias. Os
preços variam de R$ 70 a R$ 135. E não é difícil comprá-los, uma vez que
não é exigida prescrição de um especialista. Mas o uso indiscriminado
dessas substâncias – como a carnitina e os aminoácidos – e sem
recomendação de nutricionista ou médico não é indicado. As substâncias
podem gerar efeito inverso do desejado ou até mesmo prejudicar a saúde.
É
o que explica a médica do esporte pela Sociedade Brasileira de Medicina
do Esporte Fernanda Lima, responsável pelo Ambulatório de Medicina
Esportiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (HC/FMUSP). “Existe um abuso de suplementos de
forma desnecessária. Isso pode oferecer uma sobrecarga de nutrientes e
alguns podem estar contaminados com hormônios ou estimulantes que não
trazem benefício algum para o organismo. Além disso, eventualmente, se
prescritos de forma errada, podem até resultar em ganho de peso para a
pessoa, pois grande parte desses suplementos tem valor calórico muito
alto”, afirma.
A especialista destaca que os suplementos só são
indicados quando, por alguma razão, o indivíduo não consegue obter na
alimentação os nutrientes que o organismo necessita. Durante a atividade
esportiva – sendo de alta intensidade ou longa duração – algumas
pessoas também precisam de suplementação. “Nesses casos, os suplementos
são usados, por exemplo, para facilitar a entrada de carboidratos. Então
pode-se usar gel de carboidrato para dar energia ou, eventualmente, a
suplementação de um produto pós-treino com esse composto e proteínas
para ajudar a reconstituir a musculatura”, explica Fernanda.
Os
resultados dos suplementos só são sentidos se a pessoa usar da forma
correta, ou seja, quando aliados a uma alimentação saudável e atividades
físicas, e tendo sido prescritos por médico ou nutricionista. “A partir
daí é necessário acompanhamento periódico para avaliar a necessidade de
manutenção de uso, a dosagem ideal e efeitos de acordo com o esperado”,
explica a nutricionista do esporte do Minas Tênis Clube, em Belo
Horizonte, a especialista em fisiologia do exercício Márcia Bernardes.
O
biomédico Gabriel Magalhães, de 24 anos, malha seis vezes por semana,
em média uma hora e meia a duas horas diárias. Para complementar o
treino pesado, ele usa suplementos há cerca de três anos, mas a primeira
vez que ingeriu um desses produtos foi na adolescência. A necessidade
veio depois de começar a malhar para perder peso. “Tive que fazer uso
dos suplementos para emagrecer, pois era obeso. Aos 21 anos, minha
receita foi trocada e comecei a usar suplementação para criar massa
magra”, conta.
Atualmente ele toma proteína do soro do leite
(conhecido como whey protein), o BCAA (um aminoácido), glutamina (que
evita que o excesso de exercício catabolise, ou seja, destrua a massa
muscular), além de um produto pré-treino, usado para estimular o
organismo. Gabriel garante que faz tudo sob orientação profissional.
“Procurei um nutricionista porque queria conseguir mais resultados na
malhação”, diz.
De acordo com a nutricionista esportiva do
HC/FMUSP Fabiana Benatti, atualmente existe uma variedade enorme de
suplementos no mercado. Cada um tem uma função, mas ela destaca: “São
poucos os que têm efeitos, pois ele vai depender da atividade que a
pessoa faz”, afirma. “Se a pessoa corre, por exemplo, ela pode precisar
da suplementação de carboidrato porque ele funciona como um combustível
durante o exercício e assim poupa o carboidrato que está no músculo.
Isso auxilia no desempenho”, acrescenta.
Quem quer usar
suplementos deve procurar orientação. “Hoje temos um problema, que é a
compatibilidade do que está no rótulo com o que está realmente na
fórmula. Por isso, é sempre importante ter orientação adequada de um
nutricionista, porque ele avalia se a pessoa precisa realmente ingerir o
suplemento, o potencial que aquele produto terá para melhorar seu
desempenho”, diz Fabiana.
Perigo em cápsulas
Em
abril, o Estado de Minas e o jornal Correio Braziliense mostraram que o
uso abusivo dos remédios emagrecedores levou a restrições de venda no
Brasil, considerado o segundo mercado de academias de ginástica – com
6,7 milhões de matriculados em 22,4 mil estabelecimentos, perdendo
apenas para os Estados Unidos. Uma série de produtos agrupados no
conceito genérico de suplementos tem sido consumida de forma perigosa no
país, por meio de comércio ilegal, por usarem substâncias proibidas
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Parte do
material entra no país pela fronteira com o Paraguai, onde a Receita
Federal apreendeu 49.670 unidades de anabolizantes, frascos de
suplementos alimentares e vitaminas em 2012, aumento de 320% em relação
ao ano anterior, que teve 11.593 produtos apreensões. Na terça-feira, a
Vigilância Sanitária de Limeira (SP) anunciou que fez, de janeiro a
abril, via Correios, 121 apreensões de suplementos alimentares e
anabolizantes importados. Todos usavam na fórmula substâncias proibidas
pela Anvisa, que podem acelerar os batimentos cardíacos, causar infarto e
contribuir no desenvolvimento de tumores.
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