quinta-feira, 30 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis-Reclamos‏

Finda a Copa2014, este país grande e bobo passará a contar com uma coleção de elefantes brancos, manada de estádios para ninguém botar defeito 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 30/05/2013 

Determinada indústria automobilística japonesa vem apostando nos reclamos absurdos para vender seus carros. Primeiro, informava nos vídeos que determinado tipo de camioneta fora projetado para suportar os maiores desaforos, como se alguém comprasse um carro visando a levar desaforos para casa. Agora, o mesmo veículo tem sido associado a um polvo, molusco cefalópode octópode, que, sendo octópode, tem oito braços.

Reclamo é considerado diacronismo obsoleto pelo Houaiss, não por mim, que sou do tempo deles, reclamos ou reclames: observação em periódico com fins publicitários ou informativos; publicidade feita por meio de cartaz, anúncio, prospectos etc., e é aí, no et cetera, que entram os vídeos veiculados na televisão.

Philosophemos. O polvo, pessoa física, é animal repugnante, nojento, ascoroso. Não atino com a virtude de incluir animal asqueroso numa peça publicitária. Em restaurantes decentes, admito que o arroz de polvo seja prato supimpa, como também o é nas raras residências que ainda contam com boas cozinheiras.

De repente, os reclamistas que bolaram o ininteligível comercial televisivo estavam pensando na divertida maneira de transar dos octópodes macho e fêmea, que o planeta gay ainda não deve ter tomado conta do universo cefalópode. Não seria honesto transcrever, aqui, tudo que nos conta Robert A. Wallace em seu divertidíssimo O sexo entre os animas, que o leitor pode encontrar à venda no Google.

Dou algumas dicas: a esposa do polvo é maior que o seu marido e senhor, que, por seu turno, não tem pênis, mas um dos seus oito braços faz as vezes do referido. Os espermatozoides ficam estocados em pequenos pacotes dentro do corpo do maridão, que os retira com o tal braço e trata de transferi-los para a esposa afinzona de gerar polvinhos, operação que implica invadir o sistema respiratório de madame. A partir daí, só lendo Wallace, porque preciso falar dos polvos de nove patas que intrigaram os pescadores ao longo dos séculos.

Acontece que em algumas espécies o braço copulador do marido recolhe alguns pacotes de espermatozoides e se desprende do polvo apaixonado para sair nadando “como animal independente”. Esse braço consegue encontrar o sifão da amada, deposita os pacotes e morre, ficando seu cadáver pendurado do corpo da eleita, o que explica os estranhos polvos de nove braços.


Elefantes brancos
Há um consenso entre os melhores analistas de que, finda a Copa’2014, este país grande e bobo passará a contar com uma coleção de elefantes brancos, manada de estádios para ninguém botar defeito. Dizem os lúcidos estudiosos que um país com estradas, escolas, hospitais, tratamento de esgotos, tratamento e distribuição de águas, segurança pública, transportes de massa, ferrovias e o resto que temos ou não temos, deveria ser dispensado de construir estádios bilionários, que devem ficar às moscas depois da copa. Realmente, mesmo fazendo força para não filmar a assistência, a televisão nos mostra jogos de futebol em que há mais jogadores e policiais em campo do que pagantes nas arquibancadas.

Há, contudo, uma esperança: a de que seja possível produzir licores com elefantes brancos, a exemplo do Amarula sul-africano, que tem um elefante estampado na caixa e no rótulo. Produzido pela Southern Liqueur Company of South Africa, o licor começou a ser vendido em setembro de 1989, tem 17% de álcool por volume e é preparado, di-lo a internet, com creme de leite e frutos da árvore maruleira (Sclerocarya birrea).

São divertidíssimos os vídeos da internet em que aparecem diversos animais sul-africanos, elefantes e outros mamíferos, de pileque, depois de comer os frutos maduros da maruleira, árvore de 10 metros de altura espalhada pela África, da família das anacardiáceas, que tem como ilustres parentes a manga, o pistache e a castanha de caju.


Amor gay
Não digo que seja melhor ou pior, mas é inegável que a homoafetividade é diferente. Basta ver o seguinte: no amor hétero, que se usava no tempo de antigamente, quanto mais secreto, mais escondido, melhor – muito melhor! Dava o molho do proibido, do clandestino, do perigoso, que ele e ela amavam de montão e a mancheias.

O amor gay, como temos visto nos jornais, nas revistas, nas redes sociais e nos telejornais das maiores redes de televisão, exige divulgação, badalação, conhecimento geral da nação, motivo pelo qual reafirmo: é diferente.


O mundo é uma bola
30 de maio de 1416: pelo Concílio de Constança, Alemanha, Jerônimo de Praga é condenado à morte na fogueira por heresia. O pessoal do Concílio fez muito bem ao churrasquear Jerônimo, que era viajado, estudado, culto. Bom mesmo é o padre Beto, de Bauru, que usa piercing na orelha, vive dizendo besteiras e foi excomungado.

Por falar em fogueiras, no mesmo dia 30 de maio, mas em 1431, aos 19 anos de idade Joana D’Arc foi churrasqueada por bruxaria.

Em 1569, 11 dias depois da execução de Anne Boleyn, Henrique VIII se casa com Jane Seymour, que lhe daria o único filho homem, Edward VI. Consta que o autor destas bem traçadas é aparentado com Jane e Edward VI.

Hoje é o Dia do Geólogo, do Decorador, do Geógrafo e o feriado de Corpus Christi.


Ruminanças
 “Sou um pobre nato e, repito, um pobre vocacional. Ainda hoje o luxo, a ostentação, a joia, me confundem e me ofendem.” (Nelson Rodrigues, 1912-1980)

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