Feira de Poços de Caldas, Flipoços chega à
oitava temporada e espera receber, até domingo, cerca de 50 mil
visitantes, firmando-se como importante evento do calendário do estado
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 02/05/2013
Aberta no sábado em Poços de
Caldas, Sul de Minas, a oitava edição da Flipoços trouxe à cidade alguns
dos autores mais importantes da literatura brasileira contemporânea,
como Antonio Torres, Ariano Suassuna, Jaime Prado Gouvea, José Castello e
alguns estrangeiros, como o poeta peruano Pedro Granados e o
ficcionista português Luís Miguel Rocha, que acaba de lançar no Brasil o
romance O último papa, pela Editora Ediouro, no qual dá a sua versão
para a morte de Albino Luciano, o papa João Paulo I, ocorrida apenas 33
dias depois de ter assumido a chefia da Igreja Católica, em setembro de
1978.
Luís Miguel, que participou de mesa-redonda com o
jornalista espanhol Juan Arias, correspondente do El País no Vaticano
por 30 anos, informa que ainda este ano chega ao Brasil o seu novo
romance, A filha do papa, no qual falará sobre a relação entre o papa
Pio XII e Pasqualina, sua governanta por mais de quatro décadas. “Ela
foi tudo na vida dele: secretária, amante e uma das mulheres mais
poderosas da Igreja Católica no seu tempo. Tudo que dissesse respeito ao
papa, primeiro passava pelo crivo dela, e ninguém falava com ele sem a
permissão de Pasqualina”, disse o romancista, para quem Pio XII,
“independentemente das tantas injustiças que fizeram com ele, como dizer
que colaborou com os nazistas”, foi um dos papas mais importantes que a
Igreja já teve. Sobre a eleição do papa Francisco como o novo líder da
Igreja, Luís Miguel diz que está com muitas esperanças de que ele
promova mudanças positivas no campo social, principalmente pelo fato de
ser jesuíta. “Mas em questões polêmicas, como aprovar o casamento entre
pessoas do mesmo sexo, o fim do celibato e o direito ao aborto, nisso
posso afirmar que ele não mexerá. Tudo ficará do mesmo jeito para a
Igreja”, avalia.
Nascido na cidade do Porto, onde vive, Luiz
Miguel Rocha, de 37 anos, veio ao Brasil especialmente para participar
da Flipoços. Ele estreou na literatura em 2005, com o romance O país
encantado, e de lá para cá foi traduzido em 30 línguas e vendeu mais de 1
milhão de livros. Bom de prosa e muito tranquilo, ele conta que seu
interesse em escrever sobre a história dos papas e os bastidores do
Vaticano começou há alguns anos, quando fez amizade com vaticanistas em
Portugal, França, Itália e Espanha, países onde a Igreja Católica é
muito forte. “Gostei do tema e nunca mais o deixei”, revela o escritor.
FRIO NA BARRIGA
Também já publicado em diversas línguas, embora não tenha vendido tanto
como Luís Miguel, o baiano Antonio Torres, na palestra de terça-feira à
noite, falou sobre o início de sua carreira como escritor, quando
lançou o romance Essa terra, em 1976, chegando até as recentes traduções
de seus livros, entre elas a versão para o hebraico de seu romance de
estreia.
Casado com a professora de literatura Sonia Torres, e
de uns tempos para cá vivendo em Itaipava, no interior do Rio de
Janeiro, o romancista lembrou ainda da boa relação que sempre teve com
os escritores mineiros Roberto Drummond, Wander Piroli, Oswaldo França
Júnior, Alcione Araújo, Elias José e tantos outros. “É uma pena que
todos já morreram. Quando penso nisso, me dá um frio na barriga e sinto
muitas saudades das nossas andanças Brasil afora naquela década de ouro
da literatura brasileira que foram os anos de 1970, independentemente
das vicissitudes políticas”, disse Torres.
Quem também esteve na
Flipoços falando sobre tradução foi Caetano Galindo. Professor da
Universidade Federal do Paraná, ele já verteu para o português obras de
Thomas Pynchon, Tom Stoppard e John Gay. Sua tradução de Ulisses, de
James Joyce, publicada no ano passado, é considerada uma das melhores já
feitas no Brasil sobre a obra do escritor irlandês. “Traduzir é uma
coisa fantástica e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade, mas
tenho grande alegria em realizar tal tipo de trabalho”, disse.
FLIPOÇOS
Até
domingo, no Espaço Cultural da Urca, Praça Getúlio Vargas, s/nº,
Centro, Poços de Caldas. Informações:
www.feiradolivrodepolosdecaldas.com.br.
DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO
Hoje
17h30
–As influências da literatura latino-americana no Brasil, com Eric
Nepomuceno, Pedro Granados (Peru) e Manuel Angel Cerda (Argentina)
18h – Fronteiras do jornalismo, veredas da ficção, com Sérgio Abranches
19h30 – Como a saga da economia chega a livro do ano, com Miriam Leitão
Amanhã
9h30 – 3º Encontro de Educação, com Maurício Leite, Lidia Aratangy, Evanildo Bechara e Fábio Sombra
14h – Prazeres e descobertas da leitura de contos e romances, com Chico Lopes
Sábado
10h30
– Loucura e criatividade. Um olhar crítico sobre a genialidade na arte e
sua relação com os transtornos mentais, com Edson Amâncio
15h30 – Brasil contemporâneo de Albert Camus, com Manuel Costa Pinto
17h –Nelson: a mulher em Nelson Rodrigues, com Luis Felipe Pondé
17h – Literatura impressa x digital – as novas formas de ler e escrever, com Paola Carvalho
17h –Literatura popular, com Sandro Gomes dos Santos
19h30 – Encerramento
Domingo
9h – 3º Encontro de Mangá
15h – Literatura e espiritualidade, com Yonatan Shani
* O repórter viajou a convite dos realizadores do evento
Público de fora prestigia o evento
A Flipoços tem uma
série de eventos paralelos programados, como mostra de cinema e
oficinas, além de programação especial para os estudantes. Quem estava
empolgada com a feira, que ainda não havia visitado, era Joyce Aparecida
da Silva, de 15 anos, de Nova Rezende, também no Sul de Minas, onde
estuda na Escola Estadual Professor Caio Albuquerque. A cidade fica a
cerca de uma hora e meia de Poços. “Viemos especialmente para conhecer e
estou gostando muito. Comprei para mim a coleção básica do Enem 2012,
com oito livros, e um romance espírita para dar de presente para o meu
pai, que gosta muito de ler”, disse. Também de Nova Rezende, e aluno da
mesma escola, veio o estudante Igor Eduardo Evangelista Félix, de 14
anos. Não tem muito costume de ler, “mas até que fiquei animado a
começar, depois de tanto livro que vi na feira”, disse.
Já de
Cabo Verde, que fica a 40 minutos de Poços, Bianca Custódia Siqueira, de
13, da Escola Estadual Major Leonel, confessou estar encantada com tudo
o que viu. “Até comprei um livro, Diários de um vampiro, que vou
começar a ler esta semana.” Da mesma cidade e sua colega de escola é
Milena de Faria Souza Reis, que promete voltar para a sua terra com
alguns livros na mochila. “No ano que vem, quero estar aqui de novo”,
disse a estudante.
De acordo com a previsão da coordenadora do
evento, a publicitária Gisele Corrêa Ferreira, até domingo, dia do
encerramento da feira, cerca de 50 mil pessoas devem ter visitado a
feira, que a cada ano vem se firmando como um dos importantes
acontecimentos literários de Minas, ao lado da Bienal do Livro de Belo
Horizonte, do Fórum das Letras de Ouro Preto, da Literata de Sete Lagoas
e da Feira do Livro de Ipatinga. “Para uma feira que começou pequena,
conseguimos crescer muito e hoje a Flipoços traz à nossa cidade
visitantes de todo o Sul de Minas, de cidades do interior de São Paulo e
de outros estados”, completa Gisele.
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