Pesquisa indica que meninas com idade
entre 11 e 13 anos ficam protegidas contra o vírus participando de uma
vacinação em duas etapas. A recomendação atual é que a imunização ocorra
em três
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 02/05/2013
Na próxima
sexta-feira, o Distrito Federal chega ao fim da campanha de vacinação de
estudantes do sexo feminino contra o papilomavírus humano (HPV). De
acordo com a Secretaria de Saúde do DF, é possível que o objetivo
inicial de 80% de imunização seja ultrapassado e a ação chegue próximo a
100% das meninas com idade entre 11 e 13 anos matriculadas na rede
pública e particular de ensino. Com o fim da primeira etapa, as alunas
vacinadas em março receberão, longo em seguida, a segunda dose do
imunizante. Grupos de pesquisadores investigam se, em um futuro próximo,
seja possível parar por aí. Cientistas do Centro de Avaliação de
Vacinas na Universidade de British Columbia, no Canadá, afirmam que a
resposta do sistema imune das meninas que receberam somente duas doses
não é inferior ou pior que à do organismo de jovens mulheres imunizadas
com as três doses hoje recomendadas.
A infecção pelo HPV é uma das
principais causas para o desenvolvimento de câncer de colo do útero,
sendo os tipos 16 e 18 do vírus responsáveis por 70% dos casos em todo o
mundo. A prevenção contra a infecção pode ser feita com a vacina
bivalente ou quadrivalente. A diferença é que a última conta ainda com a
imunização contra os tipos 6 e 11, que causam a verruga genital. Os
pesquisadores canadenses reuniram 830 voluntárias, que foram divididas
em três grupos: 259 meninas com idade entre 9 e 13 anos receberam apenas
duas doses da vacina; 26, com a mesma idade, tomaram as três doses
recomendadas, assim como as 310 mulheres com idade entre 16 e 26 anos.
Amostras de sangue foram fornecidas pelas voluntárias antes da primeira
dose, sete meses depois e 36 meses após o início da imunização.
De
acordo com os resultados, as meninas que receberam duas doses, em
comparação às que tiveram três aplicações, não apresentaram uma resposta
imune inferior, como seria o esperado, por receberem uma quantidade
menor de vacinas. O resultado foi o mesmo para os quatro subtipos do
vírus. A soropositividade, isto é, a presença de anticorpos no sangue
para o HPV-18, por exemplo, foi de 89% para as meninas do grupo das duas
doses, de 94% para o de três doses e de 83% para as mulheres que
receberam três doses. Os níveis de anticorpos dos quatro genótipos da
vacina diminuíram entre 7 meses e 18 meses a um patamar que foi mantido
até os 36 meses. Ambos os grupos de meninas mantiveram os patamares mais
elevados de anticorpos em 36 meses do que as mulheres.
“O uso
global de vacinas contra o HPV para prevenir o câncer cervical é
impedido pelo custo. Um esquema de apenas duas doses para as meninas
pode ser viável”, observa Simon Dobson, líder da pesquisa. Ele e os
demais integrantes do estudo, no entanto, alertam que são necessários
mais dados sobre a duração da proteção antes que seja recomendada a
redução da dosagem. Dobson observa ainda que esses são os primeiros
dados conhecidos sobre a duração da resposta imune em jovens
adolescentes a uma programação reduzida da dose da vacina quadrivalente
contra o HPV. No entanto, a diferença clínica significativa entre os
dois procedimentos e os intervalos de três doses ainda não puderam ser
determinados.
Avaliação clínica Segundo o
professor e chefe do Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis da
Universidade Federal Fluminense (UFF), Mauro Romero, é preciso que a
eficácia das duas doses da vacina seja medida clinicamente. “O objetivo
precisa ser a infecção ou não pela doença porque nem sempre esse fator é
contabilizado.” A eficácia da vacina no estudo foi medida com as
respostas sorológicas, chamadas antigenicidade. “A pessoa pode ter a
taxa de anticorpos para determinado vírus nas alturas, mas ela continua
ficando doente. O trabalho é um avanço muito bom, mas temos que olhar
com calma.” Romero explica que a vacina é aplicada e o organismo
responde com a produção de anticorpos. Segundo o especialista, já é
conhecido que apenas metade das pessoas que são infectadas naturalmente
pelo HPV cria anticorpos para o vírus. A vacina propiciaria uma resposta
de quase 100%.
“Imaginamos que esteja dando proteção (a vacina), é
o raciocínio lógico. Porém, o que realmente precisamos medir é a
eficácia clínica, ou seja, tomou a vacina e não tem a doença. Esse
estudo ainda não mede isso. É a eficácia antigênica e não clínica. Mas é
o primeiro passo”, observa. Dobson acredita que reduzir o número de
doses afeta os custos da vacina e sua administração, bem como melhora
potencialmente as taxas de adesão à imunização. “Decisões em saúde
pública são baseadas em evidências que têm levado à redução das doses
para hepatite B, pneumococo e meningococo sorogrupo C nos programas de
vacinação. Há um equilíbrio a ser encontrado entre o valor incremental
de uma dose adicional sobre a eficácia na população e os custos da
oportunidade de usar os recursos necessários para a dose extra em outros
programas de saúde pública. Esse é especialmente o caso de vacinas
contra o HPV pelo seu alto custo.”
Palavra de especialista
Elias Fernando Miziara
secretário adjunto de Saúde do Distrito Federal
Mudança exige novos estudos
“Já
tínhamos conhecimento que esses trabalhos vinham sendo feitos. Quando
iniciamos a atual campanha, tínhamos a previsão de que, se essa
informação fosse consolidada, poderíamos fatalmente até suspender a
terceira dose e usar todo o material que nós temos para uma nova
aplicação no ano que vem, por exemplo. De qualquer forma, temos uma
pesquisa que ainda precisa passar por avaliação e consolidação em outros
programas. Há apenas um estudo mostrando isso. Definitivamente, não
podemos pegar aquela informação que foi consolidada por mais anos de
pesquisa e alterar para um novo padrão. Vamos ter que ver a mesma
experiência repetida em outros países, em outras realidades, para ter
certeza de que os dados são confiáveis. Por enquanto, o nosso programa
continua e vamos aplicar as três doses, a não ser que venha uma
recomendação com segurança adotada tanto pelo laboratório quanto pela
Organização Mundial da Saúde.”
Queda na contaminação
Dados preliminares
sugerem que, dois anos após a introdução da vacina quadrivalente contra
o HPV na Austrália, a proporção de diagnósticos de verrugas genitais
diminuiu 59% em mulheres com idade entre 12 e 26 anos, e em 39% em
homens heterossexuais. Pesquisadores da Universidade de New South Wales e
do Centro de Saúde Sexual de Melbourne buscaram descrever o efeito do
programa de vacinação na população cinco anos após a adoção no país. Os
dados foram retirados de oito serviços de saúde sexual da Austrália.
Eles dividiram a análise no período de pré-vacinação (2004-2007) e
vacinação (2007-2011). Os pacientes foram separados em três grupos: com
idade inferior a 21 anos, entre 21 e 30 anos e com mais de 30 anos.
Entre 2004 e 2011, 85.770 pacientes foram atendidos pela primeira vez
nos serviços de saúde sexual. Delas, 7.686 (9%) tinham verrugas
genitais.
A proporção de mulheres diagnosticadas com o problema
aumentou durante o período de pré-vacinação — de 9% para 10% — , mas o
índice caiu para 3% no período da vacinação. Entre as mais jovens, 9%
delas foram diagnosticadas com verrugas genitais em 2004 e 11% em 2007.
Durante a imunização, a taxa caiu para 0,85%. Em 2011, nenhuma das
mulheres vacinadas menores de 21 anos foi diagnosticada com o problema.
Declínios significativos também foram observados em mulheres entre 21 e
30 anos e homens heterossexuais com até 30 anos. Apesar de na Austrália
apenas as mulheres serem vacinadas contra o HPV, os pesquisadores
acreditam que os homens são beneficiados indiretamente pela imunização.
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