Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 02/05/2013
Ganho presentinhos
que muito me divertem e não levam à falência as pessoas que me
presenteiam. Quase escrevi que sou o recipiendário, que ou aquele que
deve receber algo, substantivo obrigatório na linguagem academial:
pessoa que é solenemente recebida ou admitida em companhia, corporação
ou sociedade.
Prefiro dizer “quase obrigatório”, porque é lexema que não me soa bem, mesmo sabendo que vem do latim recipiendus, gerundivo de recipère “receber”, sob a forma radical recipiend- + -ário. Que seria de mim e do leitor de Tiro&Queda sem as etimologias do Houaiss eletrônico?
O fato é que implico solenemente com “recipiendário”, que transformei em “novo acadêmico” no convite para minha investidura na AML. O que sei – e há testemunhas – é que no discurso de 12 minutos o pessoal “riram” à beça. Só não sei se o riso foi provocado pelo texto ou pelo fato de um cidadão limitado ingressar naquele que sempre foi considerado o Senado de Minas.
Volto aos presentes que não levam quem os compra à falência e deixam o recipiendário na maior felicidade. Do sul da Noruega chegou-me água de sabor e apresentação irrepreensível, suposta de ser a melhor e mais cara do planeta, que dizem dar de 10 a zero nas badaladas Perrier e San Pellegrino.
Cá entre nós, que ninguém nos ouça: duvido que seja melhor que as sul-mineiras, mas o sul da Noruega, de tão longe e frio, deve ser região da mais alta supimpitude. Protegida na fonte por várias camadas de pedra e gelo, a Voss é água 100% natural, sem poluentes, corantes ou conservantes, apenas a pureza da montanha engarrafada, leio no Google.
Seu sucesso global deve-se ainda a uma apresentação fashion forward, ou seja lá o que isso queira dizer: a garrafa é claramente inspirada no mundo dos cosméticos. Preço no Google: 2.65 euros ou R$ 7,80 (375 mililitros, garrafa inclusa).
Pois sim. O recipiendário viu a nota de compra no supermercado carioca e a bouteille sul-norueguesa custou R$ 9,99. Falei bouteille? Esquece. Garrafa em norueguês é flaske, di-lo o tradukka.com.
Tanto quanto se possa acreditar na minha calculadora chinesa, um litro de Voss, no Rio, custa R$ 26,63, precinho mais que salgado. Num mês de 30 dias, dois litros por dia são quase 800 reais. Minha flaske lá está deitadinha na geladeira, esperando coragem para beber os 375 mililitros. Depois, boto a garrafa como enfeite na sala, pois foi claramente inspirada no mundo dos cosméticos, merecendo por isso a derivação de cosmético em sentido figurado: decorativo, ornamental.
Brincadeiras
O pessoal, como se diz na roça, estão brincando. E a imbecilidade humana aceita a brincadeira transformada em “arte”, sem que apareça alguém para denunciar a empulhação. Ora, senhoras e senhores, enfileirar 25 cachos de bananas de plástico ou de qualquer outro material, inclusivamente de bananas de verdade, desde quando foi arte?
Só dando uma banana, gesto ofensivo que consiste em dobrar o braço com a mão fechada, segurando ou não o cotovelo com a outra mão, para o “artista” e para todos aqueles que divulgam, fotografam e elogiam sua “arte”.
Memórias
Rodrigo Octávio publicou pela José Olympio, em 1934, Minhas memórias dos outros, título de um livro que me agradaria escrever. Minha vida não merece memórias, mas o que vi e ouvi dos outros dá livro da melhor supimpitude.
Não há dia em que não me lembre de um fato ocorrido com o fulano ou a fulana, que merece letra de fôrma. Preservando os nomes, naturalmente. Mesmo quieto em meu canto, quase sempre na roça, longe de tudo e todos, vi e soube de fatos de arrepiar os pelos da cabeça. Não raras vezes penso botar os episódios no papel, mas é tanta coisa para escrever no dia a dia, que sempre deixo para amanhã ou depois.
Fazer o quê? O tempo voa, hoje bem mais depressa do que sempre voou. Um livro do gênero toma dois ou três meses, várias horas por dia. De repente, dá para encarar. Se não der, paciência.
O mundo é uma bola
2 de maio de 1500: a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral parte da Baía de Cabrália em sua viagem para as Índias. Uma das naves, comandada por Gaspar de Lemos, retorna a Portugal para dar notícia do descobrimento cabralino. Credita-se a Gaspar de Lemos a descoberta de Angra dos Reis no dia 6 de janeiro de 1502, numa outra viagem que fez ao Brasil. Pouco sabem os historiadores sobre esse fidalgo.
Em 1519, morre Leonardo da Vinci, gênio renascentista italiano. Em 1890, pelo Tratado de Garcia Herrera, Equador e Peru estabelecem os limites de suas novas fronteiras, mas o leitor sabe como são esses tratados de fronteiras: se facilitar, o vizinho abocanha um pedaço de terra.
Em 1927, fundação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que entrega o Oscar, prêmio até hoje de grande importância em Belo Horizonte, MG. Hoje é o Dia Nacional do Ex-Combatente.
Ruminanças
“Paradoxo mais que paradoxal: seguro de vida implica o pagamento de um negócio chamado prêmio para premiar o beneficiário do defunto” (R. Manso Neto)
Prefiro dizer “quase obrigatório”, porque é lexema que não me soa bem, mesmo sabendo que vem do latim recipiendus, gerundivo de recipère “receber”, sob a forma radical recipiend- + -ário. Que seria de mim e do leitor de Tiro&Queda sem as etimologias do Houaiss eletrônico?
O fato é que implico solenemente com “recipiendário”, que transformei em “novo acadêmico” no convite para minha investidura na AML. O que sei – e há testemunhas – é que no discurso de 12 minutos o pessoal “riram” à beça. Só não sei se o riso foi provocado pelo texto ou pelo fato de um cidadão limitado ingressar naquele que sempre foi considerado o Senado de Minas.
Volto aos presentes que não levam quem os compra à falência e deixam o recipiendário na maior felicidade. Do sul da Noruega chegou-me água de sabor e apresentação irrepreensível, suposta de ser a melhor e mais cara do planeta, que dizem dar de 10 a zero nas badaladas Perrier e San Pellegrino.
Cá entre nós, que ninguém nos ouça: duvido que seja melhor que as sul-mineiras, mas o sul da Noruega, de tão longe e frio, deve ser região da mais alta supimpitude. Protegida na fonte por várias camadas de pedra e gelo, a Voss é água 100% natural, sem poluentes, corantes ou conservantes, apenas a pureza da montanha engarrafada, leio no Google.
Seu sucesso global deve-se ainda a uma apresentação fashion forward, ou seja lá o que isso queira dizer: a garrafa é claramente inspirada no mundo dos cosméticos. Preço no Google: 2.65 euros ou R$ 7,80 (375 mililitros, garrafa inclusa).
Pois sim. O recipiendário viu a nota de compra no supermercado carioca e a bouteille sul-norueguesa custou R$ 9,99. Falei bouteille? Esquece. Garrafa em norueguês é flaske, di-lo o tradukka.com.
Tanto quanto se possa acreditar na minha calculadora chinesa, um litro de Voss, no Rio, custa R$ 26,63, precinho mais que salgado. Num mês de 30 dias, dois litros por dia são quase 800 reais. Minha flaske lá está deitadinha na geladeira, esperando coragem para beber os 375 mililitros. Depois, boto a garrafa como enfeite na sala, pois foi claramente inspirada no mundo dos cosméticos, merecendo por isso a derivação de cosmético em sentido figurado: decorativo, ornamental.
Brincadeiras
O pessoal, como se diz na roça, estão brincando. E a imbecilidade humana aceita a brincadeira transformada em “arte”, sem que apareça alguém para denunciar a empulhação. Ora, senhoras e senhores, enfileirar 25 cachos de bananas de plástico ou de qualquer outro material, inclusivamente de bananas de verdade, desde quando foi arte?
Só dando uma banana, gesto ofensivo que consiste em dobrar o braço com a mão fechada, segurando ou não o cotovelo com a outra mão, para o “artista” e para todos aqueles que divulgam, fotografam e elogiam sua “arte”.
Memórias
Rodrigo Octávio publicou pela José Olympio, em 1934, Minhas memórias dos outros, título de um livro que me agradaria escrever. Minha vida não merece memórias, mas o que vi e ouvi dos outros dá livro da melhor supimpitude.
Não há dia em que não me lembre de um fato ocorrido com o fulano ou a fulana, que merece letra de fôrma. Preservando os nomes, naturalmente. Mesmo quieto em meu canto, quase sempre na roça, longe de tudo e todos, vi e soube de fatos de arrepiar os pelos da cabeça. Não raras vezes penso botar os episódios no papel, mas é tanta coisa para escrever no dia a dia, que sempre deixo para amanhã ou depois.
Fazer o quê? O tempo voa, hoje bem mais depressa do que sempre voou. Um livro do gênero toma dois ou três meses, várias horas por dia. De repente, dá para encarar. Se não der, paciência.
O mundo é uma bola
2 de maio de 1500: a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral parte da Baía de Cabrália em sua viagem para as Índias. Uma das naves, comandada por Gaspar de Lemos, retorna a Portugal para dar notícia do descobrimento cabralino. Credita-se a Gaspar de Lemos a descoberta de Angra dos Reis no dia 6 de janeiro de 1502, numa outra viagem que fez ao Brasil. Pouco sabem os historiadores sobre esse fidalgo.
Em 1519, morre Leonardo da Vinci, gênio renascentista italiano. Em 1890, pelo Tratado de Garcia Herrera, Equador e Peru estabelecem os limites de suas novas fronteiras, mas o leitor sabe como são esses tratados de fronteiras: se facilitar, o vizinho abocanha um pedaço de terra.
Em 1927, fundação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que entrega o Oscar, prêmio até hoje de grande importância em Belo Horizonte, MG. Hoje é o Dia Nacional do Ex-Combatente.
Ruminanças
“Paradoxo mais que paradoxal: seguro de vida implica o pagamento de um negócio chamado prêmio para premiar o beneficiário do defunto” (R. Manso Neto)
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