As caras de São Paulo
Qual personalidade pública, segundo os próprios paulistanos, corresponderia mais à imagem de sua cidade? A pergunta, formulada pelo Datafolha, suscitou respostas pulverizadas e subjetivas.Difícil imaginar personalidades tão opostas quanto as de Silvio Santos e Geraldo Alckmin, os dois nomes mais lembrados na pesquisa, com apenas 6% e 4% das indicações. Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Roberto Carlos teve mais menções do que a figura, tão típica, de Adoniran Barbosa --aliás originário de Valinhos.
Lamentavelmente, os números da pesquisa não chegaram a alcançar o nível merecido por Paulo Vanzolini, paulistano cujo falecimento há poucos dias justificaria, mais do que nunca, uma homenagem desse tipo.
Cultura e ideologia à parte, não é tão ruim quanto parece o fato de que personalidades do mundo político terminem sendo bastante lembradas pela população.
É que, ao contrário do bordão que muitos ativistas têm aplicado a um polêmico pastor e deputado federal, políticos de São Paulo como Paulo Maluf, Fernando Haddad, José Serra ou Marta Suplicy se mostram, de fato, representativos da população que os elegeu. Estão todos entre os nomes mais apontados na pesquisa como a "cara de São Paulo", ainda que em pequena porcentagem do total.
Mais significativos do ponto de vista estatístico, e até certo ponto surpreendentes, são os resultados obtidos pelo Datafolha quanto às melhores administrações paulistanas. Com 25% das preferências, é a petista Marta Suplicy quem, apesar da alta rejeição verificada nas pesquisas eleitorais, lidera a relação dos melhores prefeitos dos últimos 30 anos.
O renitente fenômeno do malufismo, por sua vez, dá mostras de declínio. Prefeito pela última vez no período de 1993 a 1996, com 12% dos entrevistados a situá-lo em primeiro lugar, Paulo Maluf fica agora atrás de Mário Covas (1983-1985, 16% das preferências) e de José Serra (2005-2006, 15%).
As fidelidades malufistas e tucanas, que persistem, cedem portanto a primazia a um nome petista --e ultrapaulistano-- como o de Marta. A ex-prefeita se beneficia de medidas populares como a criação dos CEUs e do bilhete único, mas também da vitória do prefeito Fernando Haddad.
Elogio e rejeição, naturalmente, não são contraditórios. Tanto quanto as divisões do eleitorado, indicam o que sentem os habitantes por sua cidade, seus problemas e sua grandeza --à qual tantas vezes falta um semblante humano.
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Saúde à chinesa
De origem aviária, vírus H7N9 já matou ao menos 27 pessoas; surto é novo desafio para Pequim, que precisa evoluir em controle sanitário
Mais preocupante é a emergência, nas últimas semanas, do misterioso vírus H7N9, de origem aviária. Ao menos 27 pessoas já morreram e milhares de aves foram sacrificadas de forma preventiva.
Ainda é cedo para aquilatar a real dimensão do problema. A recorrência de situações desse tipo, porém, mostra o quanto a China precisa avançar em controle sanitário e segurança alimentar.
No mês passado, mais de 16 mil porcos foram despejados no rio Huangpu, que abastece Xangai, maior cidade do país. As autoridades não conseguiram explicar até agora o motivo da mortandade nos criadouros da região.
Esses e outros episódios provocam compreensível ansiedade na população chinesa. Há cada vez mais preocupação com a qualidade dos alimentos e dúvidas diante das informações oficiais.
Temores de contágio pelo H7N9 levaram a drástica queda no consumo de frango em Xangai, cujos habitantes já desconfiam da carne de porco e da água encanada.
Essa apreensão não se mostra apenas nos momentos de crise. Até hoje os chineses têm receio do leite em pó infantil, após um caso de contaminação por melamina (matéria-prima para fabricar resinas) em 2008, que intoxicou cerca de 300 mil crianças e matou seis bebês.
Em Hong Kong, turistas da China continental compram tanto leite em pó que o governo local restringiu o produto a duas latas por viajante, para impedir o desabastecimento da região.
As dimensões continentais e o crescimento acelerado fazem da China campo fértil para essas ocorrências. Basta lembrar que o país tem cerca de 700 milhões de habitantes na área rural, a maioria produzindo alimentos em minifúndios de fiscalização quase impossível.
A crise atual veicula, no entanto, uma boa notícia: Pequim não tenta esconder o problema, como fez em 2003 com a Sars (síndrome respiratória aguda grave, na sigla em inglês). Originada na China, que proibiu inicialmente a divulgação do surto, infectou cerca de 8.000 pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 10% morreram.
Na ausência de prevenção sanitária eficaz, é crucial divulgar informações precisas e atualizadas sobre surtos e contaminações. O governo chinês parece ter aprendido parte da lição, embora o país desconheça algo comparável a uma imprensa livre e independente.
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