Sonhar mais um sonho impossível
Serviços de crowdfunding e prêmios de incentivo estimulam o debate, inspirando novos inventores
Muito antes de a tecnologia de ponta ser o sonho de qualquer empreendedor-modelo-e-atriz, ela era coisa de militares. As fronteiras distantes pertenciam às coroas e aos governos capazes de bancar as gigantescas empreitadas de conquistá-las.
O resultado foi uma pasmaceira que, por preguiça, muitos chamam de capitalismo, comunismo ou qualquer definição reducionista usada por quem não se contentava com o estado das coisas mas tinha preguiça de mudá-las. Como só havia uma força capaz de promover a mudança, esta só acontecia com guerras, crises ou revoluções.
É nesse aspecto que os prêmios de estímulo são importantes. Criados por associações independentes, eles atribuem somas consideráveis em dinheiro a quem promove o progresso. Fama e dinheiro, afinal, apelam para os impulsos primitivos dos corações mais nobres.
Mais do que filantropia, esse tipo de prêmio é um investimento. Ao estimular a competição, ele agrega talentos em laboratórios de pesquisa cujo custo superaria em muitas vezes o valor premiado.
O conceito existe desde 1714, quando ingleses colocaram a ideia em prática para calcular a longitude. Em 1919, o empresário francês Raymond Orteig propôs US$ 25 mil para o primeiro voo sem escalas entre Nova York e Paris. O prêmio estimulou nove equipes a fazer em conjunto um investimento 16 vezes maior. O vencedor, Charles Lindbergh, mudou a história da aviação.
Ao contrário do Nobel e de outros Oscars da ciência, o incentivo não é posterior nem submetido a comitês ou a critérios subjetivos. O desafio é claro, e a conquista, palpável. Nos últimos anos, a facilidade de acesso à tecnologia e a crise mundial aumentaram a sua popularidade. O X Prize é o mais audacioso. Criado pelo empreendedor Peter Diamandis, ele oferece prêmios volumosos às equipes que construírem projetos dignos de ficção: foguetes pequenos, precisos e econômicos; formas eficientes de limpar o óleo no oceano; dispositivos portáteis de diagnóstico médico, entre outros.
O resultado é rápido: vencedora de um X Prize, a companhia aérea Virgin desenvolveu a primeira rota comercial que leva pessoas comuns à estratosfera, até então domínio de aviadores em ônibus espaciais. Depois de dois dias de treinamento e avaliação física, quatro passageiros e dois pilotos voarão a 30 mil pés de altura, chegando a uma velocidade quatro vezes superior à do som. Ainda nesta década.
Na mesma linha, o Google Lunar X Prize dará US$ 20 milhões à primeira equipe que colocar um robô na Lua capaz de andar mais de 500 metros e transmitir vídeo de alta definição a partir de lá.
A competição envolve equipes de países como Estados Unidos, Canadá, Itália, Holanda, Rússia, Índia, Romênia, Chile e Brasil.
Nossa equipe, a SpaceMETA, é liderada pelo genial Sérgio Cabral Cavalcanti, pesquisador da UFRJ e responsável por uma incubadora em Petrópolis. Entre outras ideias, ela pretende usar etanol como combustível do foguete.
Não se pode chegar ao futuro reclamando nas redes sociais. Serviços de crowdfunding e prêmios de incentivo estimulam o debate, inspirando novos inventores a romper a incabível prisão, voar num limite improvável e até, quem sabe, tocar o inacessível chão. É inspirador.
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