Olho de vidro
SÃO PAULO - Geraldo Alckmin (PSDB) ainda não tem adversários para a eleição estadual do ano que vem, mas nem por isso pode-se dizer que o governador esteja em uma situação tranquila. A oposição não tem candidato, mas já possui um discurso: o cidadão de São Paulo não se sente seguro.
Desde 2012, São Paulo acumula más notícias: houve piora nos indicadores de furtos, roubos e homicídios, policiais foram caçados nas ruas pela criminalidade, restaurantes foram atacados e até mesmo a Virada Cultural passou a ser alvo da violência.
No último final de semana, quadrilhas realizaram 12 arrastões durante a festa em meio a suspeitas de que alguns PMs, em razão de uma série de insatisfações, praticaram o que na gíria policial é conhecido como "olho de vidro", fingindo não ver o que estava acontecendo. O deputado Olímpio Gomes (PDT), major da reserva, explicou à Folha como isso ocorre, na prática: "Mãos para trás e olhar para o horizonte".
Ontem, 15 ladrões invadiram a USP Leste para roubar caixas eletrônicos e fizeram 30 seguranças como reféns. A ação demorou duas horas e os criminosos conseguiram fugir antes da chegada da polícia.
Preocupado com a violência e com a própria reeleição, Alckmin já trocou o secretário da Segurança Pública, promoveu blitze em datas festivas, anunciou o aumento do policiamento e defendeu punições mais duras para menores de idade envolvidos em crimes. Agora, diz que pagará um bônus para o batalhão da PM e para a delegacia localizadas em regiões onde houver redução nos indicadores de criminalidade.
A proposta do governador estimula a meritocracia, mas pode provocar um efeito colateral indesejado. É mais fácil para um policial deixar de registrar uma ocorrência --ou simplesmente jogar o corpo de uma vítima de assassinato em outro bairro-- do que conseguir evitar um crime. E as estatísticas melhoram do mesmo jeito.
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