quinta-feira, 13 de junho de 2013

Monitoramento conta com pelo menos cinco programas secretos - Nelson de Sá

folha de são paulo
Diretor diz que vigilância evitou "dúzias de atentados"
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTONO diretor da NSA (Agência de Segurança Nacional), general Keith Alexander, disse ontem em audiência no Senado americano que "dúzias de atentados" foram desbaratados graças aos programas de vigilância de telefonemas e emails da agência.
Ele defendeu o caráter reservado dos programas. "Se os terroristas souberem todas as maneiras que temos de pegá-los, americanos vão morrer", afirmou.
Interrogado por uma comissão de senadores, o general disse que a vigilância é necessária para "defender a democracia e as liberdades civis dos americanos" e manter o país em "segurança".
Ele afirmou ainda que divulgará números e dados sobre programas como o chamado Prism, que tem acesso a servidores de gigantes da internet. "Quero mostrar aos americanos que somos transparentes aqui", afirmou.
Os senadores se dividiram entre elogiar o trabalho da NSA ou criticar a espionagem.
"A noção de que nossos emails e telefones estão sendo monitorados, mesmo sem saber quem é terrorista ou não, não é nada fácil de aceitar", disse o republicano Mike Johanns, de Nebraska.
A democrata Mary Landrieu, de Louisiana, disse que tinha "orgulho" de ter "um general quatro estrelas" à frente da NSA e que o país precisava agradecer pelo trabalho de monitoramento.
Outro democrata, o senador Tom Udall, do Novo México, disse que o "elefante na sala" era saber o tamanho da coleta de dados.
O general Alexander disse que o conteúdo de emails e ligações só podia ser acessado com autorização judicial.
"Congresso, governo e Justiça supervisionam esses programas como em qualquer caso criminal", disse.
Pesquisa divulgada ontem pelo instituto Gallup mostra que a maioria dos americanos (53%) desaprova os sistemas de vigilância, enquanto 37% aprovam. No entanto, apenas 35% estão muito preocupados com sua privacidade, enquanto 22% se dizem algo preocupados e 21%, não muito preocupados.
Sobre Edward Snowden, que vazou informações sobre a vigilância para a imprensa, a divisão é maior: 44% aprovam sua atitude, enquanto 42% a desaprovam.
    Monitoramento conta com pelo menos cinco programas secretos
    Um deles coletaria dados de cabos submarinos situados no Brasil
    NELSON DE SÁDE SÃO PAULOA vigilância feita pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) sobre dados privados de usuários de internet e telefonia envolve pelo menos outros quatro programas além do Prism, que ganhou repercussão após o jornal britânico "Guardian" revelar que ele permite acesso a informações de gigantes como Google e Facebook.
    Na apresentação de PowerPoint que sustenta as revelações, vazada por um ex-funcionário de empresa contratada pela NSA, um dos slides aponta a existência de quatro programas de "coleta de comunicações em cabos de fibra e infraestrutura".
    Dois dos programas são nomeados --Fairview e Blarney-- e dois foram apagados pelo "Guardian". Um dos programas de nome apagado, pelo que indica o mapa usado no slide, tem por alvo cabos submarinos situados, entre outros países, no Brasil.
    "O slide sugere que a NSA tem drenos em cabos na América do Sul e no Oceano Índico", afirma Christopher Soghoian, tecnologista da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), que acionou o governo Obama pela coleta de dados da empresa telefônica Verizon -- primeira revelação feita pelo diário "Guardian".
    Para Trevor Timm, da Electronic Frontier Foundation, que defende liberdade digital, embora "todo mundo esteja falando de Prism e Verizon, o vazamento da NSA joga luz" sobre os outros programas, que são igualmente de "vigilância massiva".
    O slide com os quatro programas não estava na primeira série publicada pelo "Guardian". Ele só foi divulgado pelo jornal dias depois, para comprovar que a NSA afirma realizar "coleta direta dos servidores" das companhias de tecnologia.
    Desde o início das reportagens, Google, Facebook e outras afirmam que a NSA, através do Prism, não tem acesso direto a seus sistemas.
    EUROPEUS
    A Comissão Europeia enviou carta ao Departamento de Justiça dos EUA cobrando explicações "rápidas e concretas" dos vários programas de vigilância da NSA.
    O texto ressalta "preocupação séria" com a informação de que Washington está "acessando e processando, em larga escala, dados" de europeus. Levanta, entre outras perguntas, se "o Prism e outros programas têm como alvo só os dados de americanos ou também --até principalmente-- os de não-americanos, inclusive europeus".
    No Brasil, o governo ainda não se pronunciou sobre os programas de vigilância.
      FOCO
      Namorada de ex-técnico da CIA era a 'heroína do pole dance'
      DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASUma "super-heroína do pole dance". Assim se definia, no seu blog, Lindsay Mills, a namorada do homem que denunciou o esquema de vigilância do governo americano sobre telefonemas e dados de internautas de todo o mundo.
      O blog foi retirado do ar na última segunda-feira --um dia após a revelação de que o ex-agente da CIA Edward Snowden fora o responsável por vazar a informação ao britânico "Guardian"--, com uma mensagem emocionada.
      "Aqueles que me conhecem, sem a minha capa de super-heroína, certamente vão entender por que vou me abster de postar mensagens no meu blog por um tempo", disse Mills, sem citar o nome do namorado.
      No blog intitulado "L's Journey -- As Aventuras de uma super-heroína do pole dancing ao redor do mundo", Snowden sempre foi identificado apenas como "E", seu "homem misterioso".
      "Meu mundo se abriu e se fechou ao mesmo tempo, deixando-me sozinha no mar sem uma bússola", disse, afirmando que escrevia no seu "teclado banhado em lágrimas". No blog, ela postava vídeos e fotos de apresentações de pole dance (dança em postes) das quais participava.
      Também contou, numa publicação, sobre a mudança para o Havaí ao lado do namorado. Snowden tinha alugado uma casa na ilha de Oahu, onde morava até o mês passado.
      "Tudo o que eu sinto agora é a minha solidão. Mas, pela primeira vez na minha vida, eu me sinto forte o suficiente para ficar sozinha", disse. "Não importa para onde me leva o meu navio sem bússola, o amor vai me manter."

      ANÁLISE
      Vazamento coloca aliados dos EUA em situação delicada
      Americanos compartilham informações de inteligência com Austrália, Canadá, Reino Unido e Nova Zelândia
      Espionagem tem potencial de erodir apoio público da população de outros países à aliança com os americanos
      RICHARD MCGREGORDO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTONBarack Obama diz que recebe com agrado o debate provocado pelo vazamento de detalhes sobre o vasto alcance das operações da agência americana de espionagem eletrônica. Para os aliados dos Estados Unidos, é difícil compreender o motivo.
      O longo e raramente admitido acordo de compartilhamento de informações entre cinco países ocidentais --Austrália, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia, esta última recentemente readmitida-- por anos foi a peça central oculta da aliança ocidental.
      Estabelecido depois da Segunda Guerra Mundial para monitorar a União Soviética, o sistema mundial "cinco olhos" rastreia tudo e todos --suspeitos de terrorismo no Oriente Médio, cientistas nucleares iranianos, jihadistas indonésios e comunicações militares da China.
      Os cinco países criaram elos institucionais profundos e capacidades técnicas com as quais a China pode apenas sonhar. Por isso, esse debate não envolve apenas os Estados Unidos.
      A NSA (Agência de Segurança Nacional) e seus parceiros operam instalações conjuntas na região rural do Reino Unido; no deserto do oeste da Austrália, com capacidade para rastrear comunicações na Ásia; e operavam até uma pequena estação de escuta em Hong Kong antes que a China retomasse a soberania sobre a área.
      Os aliados dos Estados Unidos claramente apreciam essa conexão de inteligência. Mas as consequências do vazamento têm o potencial de erodir o apoio público a uma aliança já distendida quase até o ponto de ruptura.
      O tema adotado pelos Estados Unidos para reconfortar a audiência interna --o de que a NSA não está espionando cidadãos americanos, mas recolhendo dados sobre ameaças estrangeiras-- tem o efeito oposto no exterior.
      No Reino Unido, William Hague se viu forçado a negar que o GCHQ, serviço britânico de espionagem eletrônica, esteja usando os tentáculos da NSA no exterior para contornar as leis britânicas.
      Na Austrália, o governo trabalhista está se contorcendo diante de questões sobre a investigação americana quanto a Julian Assange, que divulgou milhões de documentos secretos americanos pelo WikiLeaks e agora está refugiado na embaixada equatoriana em Londres por medo de ser julgado nos Estados Unidos.
      O prolongado processo de perseguição, extradição e encarceramento de pessoas como Snowden e Assange tem o potencial de agravar a desilusão em relação ao complexo de inteligência militar americano. Para quem quer que valorize o poder gerado pela comunidade "cinco olhos" de nações, isso só pode ser má notícia.

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