quinta-feira, 27 de junho de 2013

Passe Livre foi criado por membros do PT há 13 anos, em Florianópolis

folha de são paulo
FABIANO MAISONNAVE
DE SÃO PAULO

País em protestoMarco zero das manifestações que tomaram o país, os recentes protestos do Movimento Passe Livre em São Paulo são fruto de uma experiência iniciada há 13 anos.
Começou com trotskistas do PT que, desiludidos com a política partidária e influenciados pelos movimentos antiglobalização, passaram a agir de forma autônoma.
O embrião, segundo militantes, surgiu em Florianópolis. Em 2000, esses petistas fizeram uma consulta nas escolas de ensino médio para definir uma "pauta de luta". A opção mais votada foi a do passe livre para estudantes.
"Essa campanha foi sendo tocada de maneira bem modesta", conta o jornalista catarinense Daniel Guimarães, que, aos 29 anos, é um veterano --milita há uma década. Nos primeiros passos, a opção foi impulsionar um projeto de lei na Câmara de de Florianópolis, sem sucesso.
A mudança na forma de atuação ocorreu em 2003, quando estudantes de ensino médio de Salvador bloquearam ruas da cidade durante vários dias contra o aumento da tarifa --episódio que ficou conhecido como a Revolta do Buzu.
A experiência, divulgada principalmente pelo site Centro de Mídia Independente (CMI), rendeu duas lições.
A primeira, explica o militante do MPL e estudante de história da USP Caio Martins, 19, foi que, por ter sido espontâneo, o protesto não tinha representantes, e a negociação caiu no colo de entidades estudantis como a UNE (União Nacional dos Estudantes), que não participaram diretamente dos protestos.
Aparelhadas por partidos, assinaram um acordo que excluiu a revogação do aumento, principal reivindicação.
Outra lição foi o método: "Salvador ensina que é possível uma luta mais radicalizada, para tensionar o poder público", afirma Guimarães.
O exemplo foi colocado em prática nas ruas de Florianópolis em 2004, quando, pela primeira vez, aparece o nome como é conhecido hoje. Na época, o movimento já era apartidário, reunindo trotskistas, anarquistas e militantes sem ideologia definida.
O roteiro, que seria repetido novamente em 2005, seguiu um roteiro semelhante ao de São Paulo: manifestações de estudantes no final da tarde com bloqueio de ruas e ataques a terminais.
A repressão policial também exagerou, mas os protestos continuaram, ganharam adesões e obtiveram a revogação da medida.
Guimarães afirma que os protestos no final da tarde são tanto para parar a cidade como para conseguir a simpatia de trabalhadores no final do expediente.
Já a ausência de carro de som e discursos é uma característica de São Paulo e serve para "rechaçar a história de usar o protesto como massa de manobra", diz ele.
O movimento hoje está em cinco cidades: Goiânia, Brasília e Joinville (SC), além de Salvador e São Paulo, onde tem 80 militantes --de classe média e de média-baixa e idade média de 23 anos, de acordo com Guimarães.
"O MPL tem hoje uma visão madura, que entende apartidarismo como não antipartidário e dialoga bem com os partidos", diz Pablo Ortellado, do curso de gestão de políticas públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
O sucesso recente criará "Lindberghs Farias"? "Duvido", diz Ortellado, que escreve sobre o MPL desde 2004. "Eles são ideologicamente contra a forma Estado."

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