Ícones da MPB
A obra das compositoras Maysa e Dolores Duran ganha destaque nas vozes de Nana Caymmi e Paula Santoro. Maria Bragança e Dudu Lima ressaltam a beleza das melodias criadas pela dupla
Walter Sebastião
Maysa morreu há 36 anos, mas está presente no imaginário nacional com canções como Meu mundo caiu |
Uma noite dedicada a canções dramáticas e sofridas, quase soturnas. Assim será o show de hoje, no Sesc Palladium, reunindo estrelas e clássicos. Nana Caymmi vai cantar músicas de Dolores Duran (1930 – 1959) e Paula Santoro se dedicará a composições de Maysa (1936 –1977).
O duo formado por dois instrumentistas mineiros respeitadíssimos – a saxofonista Maria Bragança e o baixista Dudu Lima – estreará mostrando versões de Castigo, Fim de caso e A noite do meu bem (de Dolores) e Meu mundo caiu, Tarde triste, Resposta e Felicidade infeliz (de Maysa).
O show reúne canções chamadas antigamente de clássicos da fossa. De certa forma, esse repertório não deixa de ser “avô” de estilos musicais contemporâneos, como emo, dark e gótico.
Jazz “Cantamos com nossos instrumentos”, afirma Maria Bragança, ao falar do trabalho feito por ela e por Dudu Lima. Ao tocar certas peças, a saxofonista procura conhecer bem a letra. De Dolores Duran, por exemplo, cita Solidão, Meu mundo caiu e Por causa de você: “Elas têm melodias e harmonias muito marcantes. São composições jazzísticas de uma das principais cantoras de jazz do Brasil”, resume, lembrando que Ella Fitzgerald aplaudiu a brasileira de pé depois de ouvi-la cantar.
Por sua vez, Maysa – com Meu mundo caiu e Ouça – criou melodias fortes, “com mundo e estética muito específicos e pessoais”, comenta a instrumentista. As versões do duo se abrem para o jazz com sotaque brasileiro, são bem camerísticas e cultuam belas canções, que mexem com a memória musical do público.
Dolores Duran, que morreu em 1959, compôs clássicos como A noite do meu bem e Castigo |
Maria Bragança diz que as obras de Dolores Duran e de Maysa trazem canto forte, expressão de questões existenciais vividas por ambas. De acordo com a saxofonista, não era nem simples nem fácil a mulher se afirmar como compositora nos anos 1940/1950. Ambas enfrentaram muito preconceito.
Nem toda música cantada rende boas versões instrumentais, avisa Maria Bragança. Uma das exceções é Noel Rosa. “Mesmo em versões só instrumentais, a música dele continua maravilhosa”. O mesmo vale para Cartola, diz Maria. A parceria musical dela com Dudu Lima vem de 2008. O projeto avançou agora e será retomado em outubro. Neste mês, ele fará turnê com Stanley Jordan no Brasil, enquanto ela participará de festival de jazz na África.
COMPOSITORES.BR
Nana Caymmi, Paula Santoro, Maria Bragança e Dudu Lima interpretam canções de Maysa e Dolores Duran. Hoje, às 20h.
Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Inteira: R$ 40, R$ 30 e R$ 20. Todos devem levar 1kg de alimento não perecível, que será doado a projetos sociais.
“Maysa é ímpar, singular. Suas canções refletem um espírito com gosto pelo visceral e emocional.
A letra de Resposta mostra um pouco como ela é: ‘Só digo o que penso/ só faço o que gosto’”
Paula Santoro, cantora
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