Exemplo do Irã nos anos 50 serve como reflexão para o que ocorre neste momento no Egito
Na ocasião, parecia uma boa ideia aos olhos dos Estados Unidos e do Reino Unido: afinal, Mossadegh, eleito em 1951, defendia a propriedade iraniana dos recursos naturais, principalmente o petróleo, e havia nacionalizado a Anglo-Iranian Oil Company, um dos símbolos do imperialismo à época.
Era tão popular que o xá Reza Pahlavi, chefe de Estado, teve que se exilar em Roma por alguns dias, em face da reação da massa à demissão de Mossadegh. De todo modo, ele acabou caindo e o xá instalou a sua ditadura pró-Ocidente.
O que parecia uma boa ideia virou um pesadelo para os norte-americanos, porque a ditadura do xá acabou sendo substituída (1979) por um regime ainda mais nacionalista e muito mais antiocidental do que o de Mossadegh.
O governo dos aiatolás iranianos tem, portanto, todas as razões do mundo para desconfiar do Ocidente, por mais que nunca se tivesse confirmado oficialmente o patrocínio da CIA ao golpe de 1953. Nunca até ontem, quando Malcolm Byrne, diretor-adjunto do Arquivo de Segurança Nacional, editou um resumo de "A Batalha pelo Irã", baseado em documentos internos da própria agência.
Nele se lê, com todas as letras, que "o golpe militar que derrubou Mossadegh e seu gabinete da Frente Nacional foi efetuado sob orientação da CIA como um ato de política externa norte-americana".
Com esses antecedentes, é natural que, ainda hoje, 60 anos depois, abundem teorias conspiratórias envolvendo os Estados Unidos.
Exemplo: Alaeddin Boroujerdi, presidente do Comitê de Segurança Nacional e de Política Externa do Parlamento iraniano, jura que "os Estados Unidos e Israel buscam conseguir que os países muçulmanos se enredem em problemas domésticos, para o que usam grupos Takfiri [termo árabe livremente traduzível como quinta coluna'], que são marionetes dos Estados Unidos e de seus aliados regionais".
Pode ser que Boroujerdi tenha razão, embora pareça mais lógico supor que os Estados Unidos queiram desembaraçar os países muçulmanos de problemas domésticos que os estão arruinando. Não têm mais é a força para impor uma solução ou outra, do que dá prova o comportamento no Egito: apoiaram timidamente o governo do islamita Mohammed Mursi, não chamaram de golpe o golpe evidente desfechado pelas Forças Armadas, suspendem manobras militares com os egípcios, mas não suspendem a ajuda militar, e por aí vai.
Eram mais simples os tempos em que a CIA podia operar contra governos não confiáveis, mas o simples, no médio ou longo prazo, acaba se revelando também o errado.
O caso do Irã é exemplar: por ruim que o governo Mossadegh fosse, para os interesses ocidentais, dez vezes pior é o regime dos aiatolás.
E o teor de democracia no Irã, tanto com o xá como agora, é próximo de zero, o que não se podia dizer de Mossadegh.
Moral da história, aplicável ao Egito de 2013: golpes de Estado nunca são uma boa ideia.
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