Valor Econômico - 16/08/2013
As mudanças recentes no mercado de trabalho têm provocado muitas
discussões e análises a respeito do comportamento dos jovens na
sociedade brasileira. Afinal, será que os jovens estão trocando a
escola pelo trabalho? Por que será que há tantos jovens que não
trabalham nem estudam (os chamados "nem-nem"), numa época em que o
mercado de trabalho anda tão aquecido? Por que esses jovens não
ingressam na PEA (população economicamente ativa) diminuindo assim as
restrições de oferta da economia?
A chave para entender o comportamento recente dos jovens no mercado
de trabalho é segui-los ao longo do tempo, acompanhando suas
trajetórias entre as diferentes situações. Numa pesquisa recente acompanhamos uma amostra de jovens com 17 a 22 anos de idade pelo
período de um ano entre 2010 e 2011, utilizando dados da Pesquisa
Mensal do Emprego do IBGE. No momento inicial da análise, 19% deles
estudavam e ao mesmo tempo estavam na PEA, seja trabalhando ou
procurando emprego. Por outro lado, 40% deles estavam na PEA sem
estudar, 25% somente estudavam e 16% estavam na categoria "nem-nem", ou
seja, nem estudavam, nem trabalhavam nem procuravam emprego.
A situação "nem-nem" é temporária para jovem qualificado, ainda mais nos períodos de economia aquecida
Entretanto, a maior parte desses jovens não permaneceu nessa
situação inicial por muito tempo. A tabela abaixo mostra que, entre os
jovens que estudavam e também estavam na PEA, um terço tinha abandonado
a escola um ano depois, 13% abandonaram o trabalho e 6% nem estudavam
nem trabalhavam. Dentre aqueles que estavam só trabalhando ou
procurando emprego, a maioria (76%) permaneceu na mesma situação.
Interessante notar que entre os estudantes em período integral, só
metade continuava na escola (ou faculdade) sem trabalhar um ano depois,
20% já tinham ingressado no mercado de trabalho, 18% tinham abandonado
os estudos para começar a trabalhar e 13% não estavam fazendo nada.
Vale notar que a transição da escola para o trabalho nessa idade
provavelmente significa abandono da faculdade ou conclusão do ensino
médio sem posterior ingresso no superior.
Por fim, entre os jovens do grupo "nem-nem", que tanto interesse têm
despertado ultimamente, somente 42% permaneceram na mesma situação um
ano depois. Outros 42% ingressaram no mercado de trabalho, 10% voltaram
a estudar e 6% deles começaram a trabalhar e estudar ao mesmo tempo.
Vemos assim que a situação do jovem é bastante volátil. O jovem
precisa trocar de empregos para saber o que realmente gosta de fazer. A
analogia com o mercado de casamentos é muito boa nesse caso.
Dificilmente a jovem vai se casar com seu primeiro namorado, pois
experimentar faz parte da vivência necessária para encontrar seu par
ideal. Na transição entre empregos, ou no período de transição entre a
escola e o emprego, ele pode ficar na situação "nem-nem", mas isso é
transitório em grande parte dos casos. Nesse caso é necessário olhar o
fluxo para entender o problema, pois a fotografia pode mostrar um quadro
pior do que a realidade.
Porém, os casos em que a situação "nem-nem" persiste por muito tempo
exigem mais atenção. A duração média dos jovens nessa situação gira em
torno de 4 meses e tem aumentado lentamente ao longo do tempo. Vale
notar que a maior parte dos "nem-nem" tem pouca educação, 19 ou 20 anos
de idade, são negros ou pardos e mulheres. Cerca de 27% dos jovens com
baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto) estão nessa
condição, comparados com apenas 16% entre aqueles com ensino médio
completo. Além disso, a duração média nessa situação é maior para o
grupo menos escolarizado, chegando a 5 meses em média.
Mas, porque será que esses jovens com baixa escolaridade estão
abandonando a escola e permanecendo inativos? A maior parte deles
desiludiu-se com a escola pública e decidiu ingressar no mercado de
trabalho, atraídos pelo crescimento salarial dos menos qualificados nos
últimos anos. Porém, a duração no emprego também é curta para esses
jovens. Assim, eles ficam transitando entre uma situação de trabalho
precário e inatividade, aumentando a probabilidade de terem problemas
sérios no futuro e diminuindo a produtividade da economia.
A solução para esses casos seria aumentar a atratividade da escola
pública e investir na primeira infância, para que a criança não fique
cada vez mais para trás no sistema escolar. Mas, para o jovem
qualificado, a situação "nem-nem" é em grande parte temporária,
especialmente em períodos de economia aquecida.
1 "A Condição nem-nem entre os jovens é permanente?" Centro de Políticas Públicas do Insper.
Naercio Menezes Filho, professor titular - Cátedra IFB e coordenador
do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da
FEA-USP
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