Passividade, nunca mais!
Só vale aplaudir aquela que é consentida por adultos, no bom sentido, é claro, entre quatro paredes
A esta altura, não deve existir mais nenhum paulistano disposto a engolir a versão de que as cinco pessoas da mesma família mortas na casa da Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo, tenham sido assassinadas pelo filho imberbe do casal de PMs.
Descrédito é mercadoria abundante, inclusive entre as tropas --e não é por menos. Existe decisão mais infeliz do que aquela que diz que policial não pode mais socorrer acidentados ou vítimas de violência? Ora, se um oficial armado há de ser encarado como ameaça pela população, com que ânimo ele vai sair de casa para trabalhar?
Moral das tropas em baixa e briga entre as duas forças não é exatamente a melhor maneira de se enfrentar uma guerra velada por pontos de tráfico de drogas. E qualquer morador da periferia sabe que viatura policial não ousa entrar em favela. Como cereja do bolo, agora temos mais essa da cara de pau da adulteração da cena do crime na Vila Brasilândia, com o delegado do caso posto na geladeira, e mais PMs passando pela casa em que as mortes ocorreram do que marines desembarcando na costa da Normandia no Dia D. E ninguém nem aí para dar satisfação.
Sei. Quais eram mesmo as maiores preocupações do paulistano levantadas naquela pesquisa mais recente? Pois é, na ordem: violência, transporte e saúde, né não? E olha que só quem tem câncer e é obrigado a esperar meses para ser atendido é que pode dizer como é que a violência e o transporte foram capazes de suplantar a saúde em matéria de maus serviços prestados à população.
As mudanças precisam ser estruturais e ligeiras, não dá para deixar o caldo esfriar. Seria necessário queimar uma mata atlântica inteira para reacender a chama das manifestações deflagradas em junho.
No dia em que os manifestantes foram à porta do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para protestar contra a internação naquela ilustre instituição de quem simboliza, melhor do que ninguém, a perpetuação de vícios que precisam ser erradicados da prática política tapuia, eu postei no Facebook uma frase que incomodou muita gente.
Disse: "A estratégia de nunca mais dar paz aos corruptos passa adiante do meu e do seu interesse pessoais. Manifestantes na frente do Sírio-Libanês me representam". Teve amigo meu de cabelo em pé: "Pô, Barbara, até na guerra zona de hospital é respeitada!"
Nesta semana, o colega Marcelo Coelho, que, por sinal, anda em fase inspiradíssima, escrevendo melhor do que nunca, trilhou a mesma estrada e criticou os dois sujeitos que estavam no avião com o Feliciano e resolveram importunar o deputado com provocações bobocas que depois postaram em vídeo no YouTube.
É claro que o limite do assédio continua sendo a lei. Violência, quebra-quebra, ameaça à integridade física, nada disso vale.
Mas revolta não é vandalismo. É preciso que essa distinção fique bem clara para que a gente saia da passividade e parta para o contra-ataque definitivo e sistemático. Fazer oposição à insensibilidade dos que praticam o verdadeiro vandalismo, aquele que castiga a população que deveria estar sendo beneficiada, doravante é bafo no cangote 24 horas.
Na porta do restaurante, na festa, no heliporto e no shopping. É preciso conscientizar de que é a presença do corrupto, e não a do manifestante, a que causa o constrangimento no hospital. Vamos mais é aplaudir e incentivar esta nova cultura política que está nascendo na esteira das manifestações.
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