Doses mais acessíveis
Duas vacinas importantes foram ampliadas na rede pública de saúde do país: hepatite B e coqueluche. Duas outras novas, contra HPV e catapora, também farão parte da oferta
Luciane Evans
Estado de Minas: 16/08/2013
Pelo menos R$ 1,3
mil. Esse era o valor que um brasileiro adulto desembolsava para se
proteger contra dois vírus perigosos, com consequências graves para a
saúde: o vírus da hepatite B, que atinge as células do fígado, e o
papilomavírus (HPV), que pode causar câncer de colo do útero. Há menos
de um mês, no entanto, o Ministério da Saúde ampliou a vacinação para a
hepatite B para pessoas com até 49 anos. Antes, somente aqueles com
menos de 30 podiam tomar as doses pela rede pública, gratuitamente. Já
as meninas de 10 e 11 anos poderão se imunizar contra o HPV,
gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de março de
2014. Esse acesso ampliado e novo na rede é visto com otimismo por
especialistas, que esperam, ainda para este ano, a entrada das vacinas
para catapora e coqueluche no SUS.
É aos poucos que as prevenções para as doenças se tornam gratuitas no Brasil, onde, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Kfouri, há uma das maiores coberturas vacinais do mundo. “Nesse aspecto o Brasil é imbatível”, defende. Há 14 anos, por exemplo, entrava no calendário de imunização nacional a vacina para hepatite B. Segundo lembra Renato, as doses foram, primeiro, aplicadas em bebês. “Com o passar do tempo, passou a ser estendida a crianças maiores; em seguida, aos adolescentes, depois chegou aos adultos de até 29 anos”, destaca. Hoje, aqueles com até 49 anos, que têm interesse em se vacinar, podem ir a qualquer posto de saúde para receber as três doses. De acordo com o ministério, a medida beneficia um público-alvo de 150 milhões de pessoas – 75,6% da população.
Pelo mesmo caminho segue a vacina para o HPV. Relativamente nova no mercado, a imunização chega a custar, nas clínicas particulares, até R$ 1 mil por três doses. A partir de 2014, ela passa a ser oferecida, gratuitamente, pelo SUS. Porém, inicialmente, para um público restrito: apenas meninas de 11 e 10 anos. Na visão de Renato Kfouri, esse acesso é apenas um primeiro passo e a tendência é que essas doses sejam ampliadas para outras idades. “Começar por essas jovens é estratégico. Isso porque esse é o grupo prioritário e as doses funcionam melhor nessa idade. Elas ainda não se expuseram na vida sexual”, defende, dizendo que a prioridade por mulheres é porque o mal é mais cruel com elas, que, contaminadas pelo vírus, podem desenvolver o câncer de colo do útero. “É uma vacina relativamente nova, então, não temos certeza de até quando ela pode durar. Há estudos que mostram que a durabilidade é de, pelo menos, 20 anos. Mas isso virá com o tempo”, aposta.
Foi assim com a hepatite B, no qual o vírus só aparece em humanos. Por isso, de acordo com especialistas, ao se conseguir vacinar cada vez mais uma parte da população contra o mal é possível que, daqui a alguns anos, ele seja erradicado no país. “Muitos de nós adquirimos a doença, mas o próprio organismo elimina e cura. No entanto, algumas pessoas ficam portadoras crônicas e mantêm a doença viva”, conta Renato. Quanto mais cedo se adquire a hepatite, mais chances a pessoa tem de se tornar um portador crônico. “Um bebê tem 90% de probalidade; já o adulto, 5%. Por isso, a vacinação começou com recém-nascidos.” Renato diz que, depois da campanha de imunização em crianças, já não há mais casos novos no país em menores de 14 anos. “Por isso, foi-se ampliando a vacina aos poucos.”
Já foi comprovado, de acordo com Renato, que quem se vacina contra a hepatite B está imunizado para sempre. É o que a ciência quer saber com a imunização para o HPV. Para quem pensa em se vacinar, e não está com 10 e 11 anos, só vai receber as doses em clínicas particulares, pelo menos por enquanto. “Até quem já teve o HPV pode se vacinar. A vacina protege contra quatro tipos do vírus. Se você já teve um deles, estará protegida de três”, comenta Renato, que diz que há mais de 100 tipos de HPV.
DOSES FUTURAS Neste segundo semestre, entrarão na rede pública duas vacinas que são esperadas com ansiedade por especialistas: a de coqueluche para gestantes e catapora. A primeira será a vacina DTPa (tríplice acelular contra difteria, tétano e coqueluche) e surgiu a partir de dados do órgão sobre os avanços da coqueluche no país – os casos passaram de 2.258 em 2011 para 4.453 em 2012. Dos registros no ano passado, 97% aconteceram em bebês menores de seis meses, idade em que a criança ainda não desenvolveu total proteção contra a doença. A vacinação inicial é feita em três doses: a primeira aos 2 meses, a segunda aos 4, e a terceira aos 6 meses, disponíveis nos postos de saúde. Hoje, as grávidas só podem tomar em clínicas particulares.
Também entra no calendário básico de saúde a vacina contra catapora. De acordo com o Ministério da Saúde, a tetraviral – uma versão atualizada da tríplice viral – irá imunizar, em uma só injeção, contra sarampo, caxumba, rubéola e catapora. Atualmente, a imunização contra a catapora é feita pelo SUS apenas quando há casos de surtos. A primeira dose da vacina será dada no primeiro aniversário, com reforço aos quatro anos. Às crianças que já tomaram a primeira dose da tríplice ou mesmo para adultos que não sabem se tomaram ou não a vacina, o SUS irá oferecer somente a tríplice. Isso porque, como a primeira dose não foi dada, tomar somente a segunda dose da vacina contra a catapora não é suficiente para uma imunização completa.
HPV
O condiloma acuminado é uma doença sexualmente transmissível causada pelo papilomavírus humano (HPV). Atualmente, existem mais de 100 tipos do vírus – alguns deles podendo causar câncer, principalmente no colo do útero, no ânus e na boca (devido à prática de sexo oral). O exame de prevenção do câncer ginecológico, o Papanicolaou, pode detectar alterações precoces no colo do útero e deve ser de rotina para todas as mulheres. A infecção pelo HPV normalmente causa verrugas de tamanhos variáveis. No homem, é mais comum na cabeça do pênis e na região do ânus. O exame deve ser pedido durante consulta ao urologista. Na mulher, os sintomas mais comuns surgem na vagina, vulva, ânus e colo do útero. As lesões também podem aparecer na boca e na garganta. Tanto o homem quanto a mulher podem estar infectados pelo vírus sem apresentar sintomas. Calcula-se que existam cerca de 630 milhões de pessoas infectadas no mundo por um dos tipos de HPV. No mundo, 280 mil morrem da doença a cada ano, cerca de 8 mil no Brasil.
Hepatite B
Causada pelo vírus B (HBV), a hepatite do tipo B é uma doença infecciosa. Como o HBV está presente no sangue, no esperma e no leite materno, ela é considerada uma doença sexualmente transmissível. Pode ser transmitida por relações sexuais sem camisinha; de mãe para o filho durante a gestação, parto ou a amamentação; ao compartilhar material para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos); material de higiene pessoal ou de confecção de tatuagem e colocação de piercings; ou por transfusão de sangue contaminado. A maioria dos casos não apresenta sintomas, mas os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue específico.
Catapora
A doença, que tem o nome científico de varicela, é uma infecção altamente contagiosa e causada pelo vírus varicela-zóster. A transmissão é feita pelas vias respiratórias, por partículas transportadas pelo ar contaminadas com o vírus. Os sintomas costumam aparecer de 10 a 21 dias depois da infecção e incluem dores de cabeça leves, febre moderada, perda de apetite e mal-estar. Dois a três dias depois dos primeiros sinais, surgem erupções avermelhadas com coceira. O tratamento pode ser atópico ou com o uso de medicamentos. Entre 2000 e 2011, foram registradas 69.525 internações por catapora no país.
Coqueluche
A coqueluche é uma doença bacteriana que atinge o sistema respiratório e cujas complicações – convulsões, pneumonias e encefalopatias – podem levar o indivíduo à morte. Causada pelas bactérias Bordetella pertussis e B. parapertussis, é disseminada por meio de gotículas de saliva e, no organismo, lesa os tecidos da mucosa. Os primeiros sintomas são semelhantes aos da gripe e consistem em tosse, coriza, febre e olhos irritados. O próximo estágio se desenvolve cerca de duas semanas depois, e tem como característica acessos de tosses sucessivas, que podem ser acompanhadas de muco. O tratamento é feito sob orientação médica e consiste basicamente no uso de antibióticos.
VACINAÇÃO INFANTIL
Pais de crianças menores de 5 anos deverão comparecer aos postos de saúde entre os dias 24 e 30, munidos com as cadernetas de vacinação. Nesse período, o governo fará a atualização das doses em atraso das 11 vacinas que constam do calendário público de imunizações: BCG (tuberculose), hepatite B, penta (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, Haemophilus influenza tipo B), pólio (forma inativada e oral), rotavírus, pneumocócica 10 valente, meningocócica C conjugada, febre amarela, tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) e DTP (difteria, tétano e coqueluche).
É aos poucos que as prevenções para as doenças se tornam gratuitas no Brasil, onde, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Kfouri, há uma das maiores coberturas vacinais do mundo. “Nesse aspecto o Brasil é imbatível”, defende. Há 14 anos, por exemplo, entrava no calendário de imunização nacional a vacina para hepatite B. Segundo lembra Renato, as doses foram, primeiro, aplicadas em bebês. “Com o passar do tempo, passou a ser estendida a crianças maiores; em seguida, aos adolescentes, depois chegou aos adultos de até 29 anos”, destaca. Hoje, aqueles com até 49 anos, que têm interesse em se vacinar, podem ir a qualquer posto de saúde para receber as três doses. De acordo com o ministério, a medida beneficia um público-alvo de 150 milhões de pessoas – 75,6% da população.
Pelo mesmo caminho segue a vacina para o HPV. Relativamente nova no mercado, a imunização chega a custar, nas clínicas particulares, até R$ 1 mil por três doses. A partir de 2014, ela passa a ser oferecida, gratuitamente, pelo SUS. Porém, inicialmente, para um público restrito: apenas meninas de 11 e 10 anos. Na visão de Renato Kfouri, esse acesso é apenas um primeiro passo e a tendência é que essas doses sejam ampliadas para outras idades. “Começar por essas jovens é estratégico. Isso porque esse é o grupo prioritário e as doses funcionam melhor nessa idade. Elas ainda não se expuseram na vida sexual”, defende, dizendo que a prioridade por mulheres é porque o mal é mais cruel com elas, que, contaminadas pelo vírus, podem desenvolver o câncer de colo do útero. “É uma vacina relativamente nova, então, não temos certeza de até quando ela pode durar. Há estudos que mostram que a durabilidade é de, pelo menos, 20 anos. Mas isso virá com o tempo”, aposta.
Foi assim com a hepatite B, no qual o vírus só aparece em humanos. Por isso, de acordo com especialistas, ao se conseguir vacinar cada vez mais uma parte da população contra o mal é possível que, daqui a alguns anos, ele seja erradicado no país. “Muitos de nós adquirimos a doença, mas o próprio organismo elimina e cura. No entanto, algumas pessoas ficam portadoras crônicas e mantêm a doença viva”, conta Renato. Quanto mais cedo se adquire a hepatite, mais chances a pessoa tem de se tornar um portador crônico. “Um bebê tem 90% de probalidade; já o adulto, 5%. Por isso, a vacinação começou com recém-nascidos.” Renato diz que, depois da campanha de imunização em crianças, já não há mais casos novos no país em menores de 14 anos. “Por isso, foi-se ampliando a vacina aos poucos.”
Já foi comprovado, de acordo com Renato, que quem se vacina contra a hepatite B está imunizado para sempre. É o que a ciência quer saber com a imunização para o HPV. Para quem pensa em se vacinar, e não está com 10 e 11 anos, só vai receber as doses em clínicas particulares, pelo menos por enquanto. “Até quem já teve o HPV pode se vacinar. A vacina protege contra quatro tipos do vírus. Se você já teve um deles, estará protegida de três”, comenta Renato, que diz que há mais de 100 tipos de HPV.
DOSES FUTURAS Neste segundo semestre, entrarão na rede pública duas vacinas que são esperadas com ansiedade por especialistas: a de coqueluche para gestantes e catapora. A primeira será a vacina DTPa (tríplice acelular contra difteria, tétano e coqueluche) e surgiu a partir de dados do órgão sobre os avanços da coqueluche no país – os casos passaram de 2.258 em 2011 para 4.453 em 2012. Dos registros no ano passado, 97% aconteceram em bebês menores de seis meses, idade em que a criança ainda não desenvolveu total proteção contra a doença. A vacinação inicial é feita em três doses: a primeira aos 2 meses, a segunda aos 4, e a terceira aos 6 meses, disponíveis nos postos de saúde. Hoje, as grávidas só podem tomar em clínicas particulares.
Também entra no calendário básico de saúde a vacina contra catapora. De acordo com o Ministério da Saúde, a tetraviral – uma versão atualizada da tríplice viral – irá imunizar, em uma só injeção, contra sarampo, caxumba, rubéola e catapora. Atualmente, a imunização contra a catapora é feita pelo SUS apenas quando há casos de surtos. A primeira dose da vacina será dada no primeiro aniversário, com reforço aos quatro anos. Às crianças que já tomaram a primeira dose da tríplice ou mesmo para adultos que não sabem se tomaram ou não a vacina, o SUS irá oferecer somente a tríplice. Isso porque, como a primeira dose não foi dada, tomar somente a segunda dose da vacina contra a catapora não é suficiente para uma imunização completa.
HPV
O condiloma acuminado é uma doença sexualmente transmissível causada pelo papilomavírus humano (HPV). Atualmente, existem mais de 100 tipos do vírus – alguns deles podendo causar câncer, principalmente no colo do útero, no ânus e na boca (devido à prática de sexo oral). O exame de prevenção do câncer ginecológico, o Papanicolaou, pode detectar alterações precoces no colo do útero e deve ser de rotina para todas as mulheres. A infecção pelo HPV normalmente causa verrugas de tamanhos variáveis. No homem, é mais comum na cabeça do pênis e na região do ânus. O exame deve ser pedido durante consulta ao urologista. Na mulher, os sintomas mais comuns surgem na vagina, vulva, ânus e colo do útero. As lesões também podem aparecer na boca e na garganta. Tanto o homem quanto a mulher podem estar infectados pelo vírus sem apresentar sintomas. Calcula-se que existam cerca de 630 milhões de pessoas infectadas no mundo por um dos tipos de HPV. No mundo, 280 mil morrem da doença a cada ano, cerca de 8 mil no Brasil.
Hepatite B
Causada pelo vírus B (HBV), a hepatite do tipo B é uma doença infecciosa. Como o HBV está presente no sangue, no esperma e no leite materno, ela é considerada uma doença sexualmente transmissível. Pode ser transmitida por relações sexuais sem camisinha; de mãe para o filho durante a gestação, parto ou a amamentação; ao compartilhar material para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos); material de higiene pessoal ou de confecção de tatuagem e colocação de piercings; ou por transfusão de sangue contaminado. A maioria dos casos não apresenta sintomas, mas os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue específico.
Catapora
A doença, que tem o nome científico de varicela, é uma infecção altamente contagiosa e causada pelo vírus varicela-zóster. A transmissão é feita pelas vias respiratórias, por partículas transportadas pelo ar contaminadas com o vírus. Os sintomas costumam aparecer de 10 a 21 dias depois da infecção e incluem dores de cabeça leves, febre moderada, perda de apetite e mal-estar. Dois a três dias depois dos primeiros sinais, surgem erupções avermelhadas com coceira. O tratamento pode ser atópico ou com o uso de medicamentos. Entre 2000 e 2011, foram registradas 69.525 internações por catapora no país.
Coqueluche
A coqueluche é uma doença bacteriana que atinge o sistema respiratório e cujas complicações – convulsões, pneumonias e encefalopatias – podem levar o indivíduo à morte. Causada pelas bactérias Bordetella pertussis e B. parapertussis, é disseminada por meio de gotículas de saliva e, no organismo, lesa os tecidos da mucosa. Os primeiros sintomas são semelhantes aos da gripe e consistem em tosse, coriza, febre e olhos irritados. O próximo estágio se desenvolve cerca de duas semanas depois, e tem como característica acessos de tosses sucessivas, que podem ser acompanhadas de muco. O tratamento é feito sob orientação médica e consiste basicamente no uso de antibióticos.
VACINAÇÃO INFANTIL
Pais de crianças menores de 5 anos deverão comparecer aos postos de saúde entre os dias 24 e 30, munidos com as cadernetas de vacinação. Nesse período, o governo fará a atualização das doses em atraso das 11 vacinas que constam do calendário público de imunizações: BCG (tuberculose), hepatite B, penta (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, Haemophilus influenza tipo B), pólio (forma inativada e oral), rotavírus, pneumocócica 10 valente, meningocócica C conjugada, febre amarela, tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) e DTP (difteria, tétano e coqueluche).
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