ZERO HORA - 21/08/2013
Por
mais justas que sejam as reivindicações por melhoras no país, fica
difícil apoiar black blocs, que se manifestam através da violência e da
depredação, sem estimular nenhuma ideia original, nenhuma consciência –
apenas promovem pânico e prejuízos à cidade.
Para encerrar a
série de crônicas inspiradas em Londres, me parece oportuno lembrar de
Banksy, grafiteiro inglês que há uns 10 anos preenche muros, paredes,
pontes e estações de metrô com grafites ora engraçados, ora chocantes.
Agindo de madrugada, disfarçando-se com nariz postiço e óculos escuros,
ele faz suas interferências urbanas de uma forma extremamente audaciosa –
introduz objetos em monumentos públicos, instala avisos surpreendentes
em meio aos lagos dos parques e até já conseguiu colar obras suas nas
paredes dos museus mais respeitados da Inglaterra.
Às vezes,
leva uma ou duas horas para que descubram e apaguem seus grafites ou
retirem das paredes suas marcas de protesto, mas já conseguiu que
levasse dias e até meses antes de ter sua arte recolhida. E detalhe: até
hoje, ninguém sabe quem ele é.
Se a polícia não gosta nada do
moço, a população rendeu-se a esse transgressor misterioso, e o
inusitado aconteceu: hoje suas obras valem milhares de libras e
estabelecimentos comerciais rezam para ter suas paredes pichadas por
Banksy.
Ele defende o grafite como uma arte honesta e popular.
Diz que é uma resposta aos milhares de anúncios publicitários estampados
em painéis gigantescos por toda a cidade, inclusive nas laterais dos
ônibus: por que todos aceitam que a cidade se desfigure com publicidade e
não com o grafite artístico? Ele mesmo responde: as pessoas acham que
só o que gera lucro tem o direito de existir.
Banksy apronta e
faz pensar. Esconde-se porque o grafite ainda é considerado subversivo, e
também para denunciar essa sociedade que valoriza mais o artista do que
sua arte: hoje estão todos mais interessados em saber que rosto têm,
como se vestem, com quem namoram as grandes estrelas, em vez de focarem
apenas no trabalho que fazem.
Pois através do mistério, Banksy
conseguiu total visibilidade para o que faz e ficou famoso sem aparecer.
Há quem diga que ele não existe, que as obras são criações coletivas de
um grupo, que o Dalai Lama é seu fã, que ele foi expulso da escola por
causa de uma briga em que não teve culpa, por isso sua obsessão por
justiça social. Rumores que só reforçam o mito.
Dilapidar
patrimônio público e placas de sinalização é crime, bandidagem. Já
Banksy não depreda nem picha imundícies: ele tem um propósito e uma
estética, por isso se diferencia. Inverte nosso senso de ordem, denuncia
hipocrisias e surpreende com seu espírito rebelde e um talento gráfico
inquestionável. Diz que gostaria de ter permissão para fazer o que faz,
mas, não tendo, vai em frente contando com o perdão da cidade. Tem
conseguido. Demonstrou que é possível protestar com inteligência e
pacificamente.
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