Aécio defende prévias para ampliar pressão sobre Serra
Rivais dizem aceitar eleição interna para definir candidato do PSDB em 2014
Senador mineiro tem controle do partido, mas ex-governador quer concorrer mais uma vez à Presidência
Aécio, que em maio assumiu o controle da máquina partidária e começou a construir sua candidatura à Presidência da República, afirmou que apoiará a realização de prévias se elas forem solicitadas por algum concorrente.
Serra, que perdeu duas eleições presidenciais para o PT e vem indicando que gostaria de concorrer novamente no ano que vem, disse na semana passada que seria "extravagante" o partido não realizar prévias se houver mais de um candidato, e ontem voltou a defendê-las.
Em entrevista em Brasília, Aécio fez questão de alfinetar o rival, dizendo que "saúda" os tucanos que "evoluíram de posição", numa referência ao embate que teve com Serra pela mesma razão em 2009, quando se preparavam para a campanha eleitoral de 2010.
Na época, Serra tinha o apoio da cúpula partidária para se lançar pela segunda vez candidato a presidente e Aécio defendia publicamente a realização de prévias, que acabaram não ocorrendo. "Eu não mudei de opinião", afirmou o senador mineiro.
Serra não acusou o golpe. "Sempre defendi prévias", disse o ex-governador à Folha. "Fui a favor de prévias em 2009 e 2010, e disputei uma em 2012, para ser candidato a prefeito [de São Paulo]."
ASFIXIA
Isolado no PSDB, Serra tem considerado a possibilidade de mudar de partido para se candidatar novamente ao Palácio do Planalto e tem discutido o assunto com o PPS.Além do desgaste que sua saída criaria para o partido que ajudou a fundar, as pesquisas eleitorais mostram que uma candidatura de Serra dividiria o eleitorado tucano, prejudicando Aécio.
O objetivo principal de Aécio, cuja decisão de apoiar prévias foi antecipada pelo jornal "O Globo", é evitar os danos que seu projeto poderia sofrer se Serra decidisse se candidatar por outra sigla.
Sem as prévias e asfixiado dentro do partido, Serra teria o discurso ideal para romper com os tucanos e mudar de legenda. Com as prévias, ele teria que buscar outra justificativa para deixar a sigla.
Além disso, ao se mostrar disposto a enfrentar prévias, Aécio procura dar uma demonstração de confiança na sua capacidade de vencer a disputa, apesar dos riscos que corre com a exposição das divisões entre os tucanos.
Há ainda um terceiro fator: ao defender as prévias, Aécio amplia a pressão para que Serra defina logo se ficará no PSDB ou sai do partido. Se quiser concorrer em 2014 pelo PPS, a legislação o obriga a deixar o PSDB até outubro.
Apesar de não assumir sua candidatura presidencial, Serra tem percorrido o país para conversar com aliados. Aécio, por sua vez, tem buscado se fortalecer especialmente em São Paulo, maior reduto dos aliados de Serra.
A pesquisa eleitoral mais recente do Datafolha mostra que Serra teria ligeira vantagem sobre Aécio se a eleição fosse hoje. Embora ele seja mais conhecido do eleitorado, sua rejeição é muito maior que a do senador mineiro.
Peça chave na disputa interna, o governador paulista, Geraldo Alckmin, defendeu a realização das prévias em conversas com Aécio e Serra. Os aliados de Serra contam com o apoio de Alckmin se o partido convocar prévias.
O governador, que será candidato à reeleição em 2014 e perdeu popularidade com os protestos de junho, tem interesse em manter Serra ao seu lado, porque precisa do capital eleitoral acumulado pelo antecessor em São Paulo.
Além do apoio do Alckmin, aliados de Serra afirmam que, se houver prévias, teriam que batalhar para ampliar ao máximo o colégio eleitoral. Mais do que só filiados, eles acreditam que Serra poderia ser beneficiado se fosse permitido que "simpatizantes" do partido pudessem votar.
Para se contrapor à pressão dos serristas, Aécio vem trabalhando para ampliar sua influência em São Paulo. Ele passará a visitar o Estado de dez em dez dias. Na próxima semana, terá encontro com deputados estaduais.
Mas a agenda interna não será descolada da agenda de candidato, embora Aécio também não tenha assumido ainda que é candidato ao Palácio do Planalto.
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