Imagens gravadas por uma câmera de um posto de combustível ajudaram investigadores a desvendar o caso. No filme, aparecem Wesley Lima da Silva, 18 anos, um rapaz de 15 e uma garota de 17 comprando um litro de gasolina. O trio confessou que havia consumido bebida, drogas e estava à procura de “diversão" quando decidiu tocar fogo em moradores de rua que dormiam em praça da QE18. Edvan Lima da Silva teve 65% do corpo queimado e morreu. A ideia do crime teria sido da menina, filha de um policial federal. Ela disse ter sido vítima de uma tentativa de assalto perpetrada pelos sem-teto e, por isso, “queria se vingar”. Os adolescentes que incendiaram Galdino numa parada de ônibus da 703 Sul, em abril de 1997, também eram de classe média e, ao serem presos, alegaram que se tratava apenas de uma “brincadeira”.
Assim como há 16 anos, jovens de classe média compram
combustível e incendeiam um homem que dormia ao relento. Desta vez,
três adolescentes são suspeitos, entre eles uma menina de 17 anos filha
de policial federal
Madrugada no Distrito Federal. Após uma noite de diversão, adolescentes de classe média passam em um posto e compram combustível. Por volta das 5h, seguem até uma praça e decidem atear fogo ao pé de um homem que dorme ao relento. Perdem o controle. As chamas tomam conta do cobertor e do corpo do desconhecido. O grupo foge. A vítima é levada ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Menos de 48 horas depois, morre por insuficiência respiratória e falência dos órgãos. Logo, a polícia prende os suspeitos. Os investigadores apontam para um crime planejado. Os acusados falam em “brincadeira”. O enredo se repete 16 anos depois.
Um dos líderes da tribo Pataxó Hã-Hã-Hãe, Galdino Jesus dos Santos estava em Brasília, em 19 de abril de 1997, Dia do Índio, para lutar pela demarcação das terras do seu povo no sul da Bahia. À noite, ao retornar à pensão onde estava hospedado, ele se perdeu no início da Asa Sul. Decidiu dormir no ponto de ônibus da 703. Acordou por volta das 5h, com fogo no corpo. Socorrido por bombeiros, acabou no Hran com 95% do corpo queimado. Um chaveiro e a amiga, que passavam pela W3, perseguiram o carro dos agressores e anotaram a placa do veículo. A atitude levaria a polícia aos acusados (leia Memória).
Guará, 1º de agosto de 2013. O morador de rua Edvan Lima da Silva, 49 anos, dormia na praça da QE 18, na companhia de três mendigos e encostado em um quiosque para se proteger do frio. Por volta das 4h50, levantou correndo, com o corpo em chamas. Edvan foi levado ao Hran com 63% do corpo queimado. A princípio, não havia testemunhas do crime. A polícia tratou como uma possível vingança, motivada por uma briga entre moradores de rua. Mas o caso viria a sofrer uma reviravolta com a prisão dos suspeitos. E, assim, apareceriam as semelhanças com o assassinato de Galdino.
Susto
Entre outros detalhes, os assassinos do índio Galdino contaram que compraram álcool num posto perto do local do crime. Alegaram que queriam só dar um susto no índio, que acreditavam ser um mendigo. Chamaram o ato de “brincadeira”, mas a tentativa de homicídio virou assassinato triplamente qualificado. Galdino morreu às 2h de 21 de abril de 1997, no Hran. O corpo dele seguiu poucos dias depois para a reserva indígena da família, onde foi enterrado.
Para prender os suspeitos de matar Edvan da Silva, os agentes da 4ªDP (Guará) trabalharam em silêncio. Levaram seis dias para apreender o primeiro envolvido, de 15 anos. Menos de 24 horas depois, detiveram uma menina de 17, filha de um agente da Polícia Federal. Ambos são moradores do Guará. Ontem, 20 dias após o crime, veio o desfecho, segundo o delegado Jeferson Lisboa, chefe da unidade. Ele anunciou a prisão do terceiro acusado, Wesley da Silva Lima. Também morador do Guará, o rapaz de 18 anos acabou detido na praça da QI 6 da cidade, próximo de onde Edvan foi queimado vivo.
Agentes e delegados afirmaram que o trio agiu premeditadamente e confessou o assassinato. Os três teriam passado em um posto de combustíveis, comprado 1 litro de gasolina e, na sequência, se dirigiram para o local onde Edvan e outros três mendigos dormiam. A menina assumiu jogar a gasolina na vítima, mas ninguém admitiu ter iniciado o fogo. Os três fumaram maconha e beberam vinho antes do crime, segundo Jeferson Lisboa.
Pacto de silêncio
No caso do índio Galdino, da 1ªDP, os acusados maiores de 18 anos seguiram para o Núcleo de Custódia de Brasília, no Complexo Penitenciário da Papuda, onde permaneceram quatro anos e sete meses presos até o início do julgamento, em 6 de novembro de 2001. Cinco dias depois, quatro réus foram condenados a 14 anos em regime fechado por homicídio triplamente qualificado.
Ninguém nunca disse quem teve a ideia de queimar um suposto mendigo nem riscado o fósforo que incendiou Galdino. Logo, começaram a receber benefícios. O irmão de Tomás passou dois anos internado no antigo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje). Todos estão em liberdade e trabalhando.
Já dos acusados de matar o mendigo no Guará, apenas Wesley deve enfrentar o júri popular. Na data do crime, havia seis dias que completara a maioridade. Ontem, foi indiciado por homicídio qualificado e três tentativas de homicídio. Passaria a noite em uma cela da 4ªDP. Hoje, deve seguir para o Departamento de Polícia Especializada (DPE) e, de lá, para a Papuda. A menina foi para um centro de internação de menores infratores, no Recanto das Emas. O menino, ao antigo Caje.
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