Penso que todo brasileiro deveria morar em Brasília pelo menos um ano para entender o país em que nasceu
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 08/08/2013
Escrevo as
três crônicas semanais para o Correio Braziliense e sou tentado a
contar as histórias também aqui no Estado de Minas. Uma das últimas foi
sobre Mário Palmério, mineiro de Monte Carmelo, que fez carreira e
fortuna em Uberaba. Famoso e rico, andou por Brasília como assessor
especial de seu amigo José Aparecido de Oliveira, então governador do
DF, e voltou para morrer em Uberaba com 80 anos. Na década de 90 perdi a
conta dos telefonemas que o grande brasileiro me dava, nas noites de
sexta-feira, avisando que viria em seu avião a Juiz de Fora, no dia
seguinte, para conversar sobre gados e fazendas.
Penso que todo
brasileiro deveria morar em Brasília pelo menos um ano para entender o
país em que nasceu. Na flor dos meus 40, magro, queimado de sol,
embecado num terno cortado pelo velho Pastura, participei de uma festa
brasiliense em que conheci jovem senhora de bom aspecto e muitos títulos
superiores, solteira, natural de um estado nordestino. Primeira
pergunta que a doutora me fez, depois que nos apertamos as mãos
declinando nossos nomes: “Você é importante?”.
Respondi que era
importantíssimo, batemos longo papo, ela me contou dos seus estudos, nos
despedimos e até hoje a moça não ficou sabendo da minha importância,
que também ignoro. Foi nessa festa, em que havia seis ministros de
Estado, mesas redondas para 10 pessoas, que me assentei para jantar ao
lado de uma senhora realmente importante pelo cargo federal que ocupava,
talvez 10 anos mais velha, mas ainda palatável.
Com 15 minutos
de papo percebi que sua perna direta procurava a calça cortada pelo
Pastura e não me fiz de rogado na esfregação de pernas sob a mesa.
Educadíssimo, seria incapaz de recusar o “pernear” de uma senhora ainda
apetecível, mas fiquei atento ao seu famoso marido, que jantava numa das
mesas do salão imenso.
Foi quando ela começou a contar que havia
sonhado com um membro ereto. O champanha rolando e as pernas tão que
tão. Contou aos nove da mesa que, sonhando, hesitou em segurar a peça.
Quando se decidiu, brotou em cima uma flor. Indescritível a perplexidade
dos dez que ouviam a história, porque Mário Palmério passava pela mesa
naquele exato momento.
Visando a desanuviar o clima, Palmério
contou-nos do enterro em Uberaba de um eleitor seu amigo. A tampa do
caixão não fechava, porque o mineiro tivera rigidez cadavérica
localizada. Consultado, um médico disse que o caso exigia ablação
cirúrgica, os filhos órfãos concordaram, mas a viúva protestou: “Tudo,
menos isso!”.
Palmério foi buscar um marceneiro, também eleitor,
que fez um buraco redondo na tampa do caixão. Ainda assim, aparecia a
ponta da peça, que não dava para disfarçar com as flores arrumadas pelo
deputado. Felizmente, na parede havia um capacete da Revolução
Constitucionalista de 1932. E foi com ele sobre o caixão que o
ex-combatente acabou sendo enterrado.
Na hora em que Palmério
concluía o enterro do eleitor, a mulher de um ministro de Estado passou
pela mesa, ouviu a história do capacete e desandou a cantar o hino da
Revolução de 1932, letra escrita pelo jornalista, advogado, crítico de
cinema, ensaísta, tradutor e poeta Guilherme de Almeida, nascido em
Campinas no ano de 1890.
Caráter
Comentei
dia desses a dificuldade de se conhecer realmente uma pessoa e acabei
me esquecendo do item principal. Em alemão é Geld, em lituano penigu, em
letão nauda, em norueguês penger e em crioulo haitiano lajan, ou pelo
menos é o que diz o ao traduzir o substantivo dinheiro, que em português
tem um monte de sinônimos: arame, bolsa, cabedal, capim, capital,
caraminguá, cascalho, cobre, erva, gaita, grana, metal, numerário,
pecúnia, pila, prata, tostão, tubos, tutu, verba.
Aí é que está:
você só conhece realmente uma pessoa quando suas relações envolvem
dinheiro. Não precisa pensar em grandes importâncias, pois o caráter
dele ou dela aflora por cinquenta mil-réis. Escrevi relações, sem essa
de sexuais, mas relações cordiais, sociais, porque se escrevesse
negócios aí mesmo é que o dinheiro seria a mola do relacionamento. Nem
precisa ser Geld wie Heu, dinheiro pra chuchu no idioma de Goethe. A
maioria das pessoas faz os piores papéis por qualquer trocadinho.
O mundo é uma bola
8
de agosto de mil novecentos e antigamente: na Casa de Saúde São José,
em Botafogo, Rio, nasce lindo bebê que trocaria carícias, 40 anos mais
tarde, com a poderosa funcionária federal no jantar de Brasília, DF. Em
1709, Bartolomeu de Gusmão, padre luso-brasileiro, inventa o balão de ar
quente.
Em 1864, criação da Cruz Vermelha. Em 1989, instituída
no estado do Rio de Janeiro a Medalha Tiradentes, destinada a premiar
pessoas que tenham prestado relevantes serviços à causa pública. Mesmo
sem conhecer a lista dos agraciados, aposto que mais de 90% são
bandidos.
Em 1875, nasceu Artur Bernardes, o 12º presidente do
Brasil. Em 1953 nasceu o inglês Nigel Mansell, bom sujeito, campeão
mundial de Fórmula 1 em 1992.
Hoje é o Dia Nacional de Controle do Colesterol.
Ruminanças
“Os invejosos invejam-se reciprocamente” (Joaquim Nabuco, 1849-1910).
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