O GLOBO - 08/08/2013
Devo
um pedido de desculpas à grande imprensa nacional. Me desculpe, grande
imprensa nacional. Quando li a matéria da “IstoÉ” sobre o cartel
consentido formado em São Paulo para a construção de linhas de trem e
metrô sob sucessivos governos do PSDB e as suspeitas de um propinoduto
favorecendo o partido, comentei com meus botões (que não responderam
porque não falam com qualquer um): essa história vai para o mesmo
pântano silencioso que já engoliu, sem deixar vestígios, a história do
mensalão de Minas, precursor do mensalão do PT. E não é que eu estava
enganado? A matéria vem repercutindo em toda a grande imprensa. Com
variáveis graus de intensidade, é verdade, em relação ao tamanho do
escândalo, mas repercutindo. Viva, pois, a nossa grande imprensa. Já se
começava a desconfiar que o Brasil, onde inventam tanta novidade, tinha
adotado, definitivamente, dois sistemas métricos diferentes.
A
propósito, ou mais ou menos a propósito, li na revista “The Nation” que
só a Associação de Banqueiros Americanos tem noventa e um lobistas em
Washington defendendo os interesses dos bancos e lutando para revogar a
regulamentação do setor aprovada no Congresso, recentemente. Isto sem
falar em outras associações de banqueiros e nos próprios gigantes
financeiros, como o Goldman Sachs (cinquenta e um lobistas) e o JP
Morgan (sessenta lobistas). O cálculo é que existam seis lobistas do
sistema financeiro para cada congressista americano. Os bancos querem
derrotar a regulamentação e evitar as reformas para continuar as
práticas, vizinhas do estelionato, que provocaram a grande crise de 2008
e continuam a lhes dar lucros obscenos enquanto o resto da economia
derrapa. O lóbi é uma atividade legítima, ou ao menos uma deformação
legitimada pelo uso. A questão é saber quando a presença de mil e tantos
lobistas em torno de um Congresso deixa de ser uma pressão e se
transforma num cerco. E como se pode falar em democracia representativa
quando o poder do voto é substituído pelo poder de persuasão de seis
lobistas, três em cada ouvido, prometendo presentinhos para a patroa?
O
que tudo isso tem a ver com o cartel em São Paulo? Nada, a não ser que,
talvez, sirva de consolo para quem sucumbiu ao encanto de muito
dinheiro, levado pelo lóbi mais irresistível que existe, o da cobiça.
Mesmo sendo daquele tipo de pessoa sobre o qual não se pode dizer que
também é corrupto sem ouvir um “Quem diria...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário