Isabela de Oliveira
Estado de Minas: 07/08/2013
Brasília – Em
pleno auge do seu ciclo, quando deveria apresentar maior atividade de
manchas e tempestades solares, o Sol se comporta com uma calma fora do
normal. Tão incomum que o máximo solar, quando ocorre o pico de
atividades, é o menor dos últimos 100 anos. Os cientistas ainda não
sabem o que pode ter causado tamanha timidez do astro em 2013. Alguns
apostam que o comportamento discreto seja uma tendência que se repetirá
nos próximos ciclos e não descartam que a mudança provoque efeitos no
clima terrestre.
“Se essa tendência continuar, não haverá quase manchas no ciclo 25 e nós podemos entrar em outro Mínimo de Maunder”, especula Marshal Penn, do Observatório Nacional Solar, nos Estados Unidos. O episódio a que Penn se refere ocorreu entre 1645 e 1715, quando foram registradas baixíssimas manchas solares que coincidiram com uma onda de frio em toda a Europa. Joaquim Eduardo Rezende Costa, chefe da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), conta que, nessa época, a contagem de manchas ficou quase em torno de zero.
“Isso durou cerca de 50 anos, período que compreendeu cinco ciclos solares. Há menções históricas de que a Europa viveu invernos rigorosos, e essa época ficou conhecida como pequena idade do gelo. Pode ser que o comportamento do Sol tenha tido influência, mas existem teorias que contestam isso”, pondera Penn. Os episódios, conhecidos como ciclo solar de Schwabe, são marcados por períodos de calmaria e atividade intensa. Segundo o astrônomo Alexandre Humberto Andrei, pesquisador do Observatório Nacional e do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a duração varia conforme o tamanho da estrela e da quantidade de elementos pesados que a constituem. “Uma estrela do tamanho e da idade do nosso Sol tende a ter ciclos de 11 anos, mais ou menos, e um não é igual ao outro.”
Outra anormalidade do ciclo 24, que se encerra neste ano, é a época em que se deu o ápice. O auge das atividades era esperado no ano passado. “O atraso de um ano ainda está dentro da normalidade, ainda que não seja comum que se atrase tanto”, acredita Andrei. Segundo o astrônomo, as mudanças começaram no ciclo solar 22, que teve início em setembro de 1986 e se encerrou em outubro de 1996. Isso, supostamente, revelaria uma tendência. No Observatório Nacional, os pesquisadores acompanharam pequenos aumentos no tamanho do Sol, além de progressivas igualdades de temperatura nas manchas solares, que apresentaram diminuição. Apesar disso, a ciência ainda não tem mecanismos que consigam desvendar o motivo que desencadeou tal comportamento.
Andrei cogita que é possível que os ciclos de 11 anos pertençam a eventos maiores, que agrupam uma série de ciclos menores. “O problema é que não contamos com nenhum mecanismo totalmente aceito pela comunidade heliofísica que possa confirmar esse comportamento. Então, a gente vê uma coisa que parece um fenômeno, mas não há um modelo claro que possa explicar isso”, ressalta o astrônomo.
Giuliana de Toma, do High Altitude Observatory, nos Estados Unidos, aposta nessa explicação. Segundo ela, registros históricos revelam ciclos fracos na virada do séculos 19 e 20, o que poderia indicar que esses ciclos mudam a cada século. “Não é fácil estabelecer uma teoria de que o os ciclos mudam nessas grandes escalas de tempo, e a comunidade científica ainda tenta compreender o que está acontecendo”, justifica.
Explosões Além de efeitos no clima, o comportamento do Sol pode interferir nos sistemas elétricos. Quando o astro apresenta grande atividade, gera explosões que são capazes de até arrancar grandes pedaços de sua superfície. Eles viajam pelo sistema solar e, por vezes, chegam à Terra. “Esses pedaços interagem com o campo magnético da Terra, o que tem impacto na nossa eletricidade, já que essa força tem ligação com o magnetismo”, explica Alexandre Andrei.
Mas o fato de o Sol apresentar baixa atividade, como agora, não garante a inexistência de problemas nos aparelhos tecnológicos, desde os mais avançados satélites até transformadores domésticos. Quando o astro está com o campo magnético desfigurado, ele apresenta buracos coronais – pedaços onde não há campo magnético e com pouca densidade de matéria. Nos ventos solares, há uma grande quantidade de partículas que não conseguem ser domadas pela estrutura magnética da estrela. “É como se fosse um cano com um pequeno furo pode onde a água consegue fugir. Um fluxo desse escapando também pode gerar tempestades geomagnéticas. O fato de o Sol estar e extremamente calmo não exclui a existência de um chuveiro de partículas carregadas que podem gerar problemas”, completa o pesquisador da UFRJ.
Para ele, ainda que o comportamento tímido do Sol diminua em menos de 1% da energia que chega à Terra, ainda não é impossível imaginar como isso poderá afetar a vida aqui embaixo. Talvez, isso atenue os efeitos do aquecimento global e dê início a uma nova era climática com temperaturas mais baixas. Mas, por enquanto, nada pode ser confirmado.
“Não há modelos que possam explicar tudo. No entanto, há 20 satélites que captam diversos pontos de vista e, com isso, o Sol está sendo mais observado do que nunca. Isso é válido para a compreensão da ciência, pois podemos aproveitar a grande massa de dados para traçar análises e correlações que possam nos dar mais respaldo para interpretar essas mudanças”, finaliza Andrei.
“Se essa tendência continuar, não haverá quase manchas no ciclo 25 e nós podemos entrar em outro Mínimo de Maunder”, especula Marshal Penn, do Observatório Nacional Solar, nos Estados Unidos. O episódio a que Penn se refere ocorreu entre 1645 e 1715, quando foram registradas baixíssimas manchas solares que coincidiram com uma onda de frio em toda a Europa. Joaquim Eduardo Rezende Costa, chefe da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), conta que, nessa época, a contagem de manchas ficou quase em torno de zero.
“Isso durou cerca de 50 anos, período que compreendeu cinco ciclos solares. Há menções históricas de que a Europa viveu invernos rigorosos, e essa época ficou conhecida como pequena idade do gelo. Pode ser que o comportamento do Sol tenha tido influência, mas existem teorias que contestam isso”, pondera Penn. Os episódios, conhecidos como ciclo solar de Schwabe, são marcados por períodos de calmaria e atividade intensa. Segundo o astrônomo Alexandre Humberto Andrei, pesquisador do Observatório Nacional e do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a duração varia conforme o tamanho da estrela e da quantidade de elementos pesados que a constituem. “Uma estrela do tamanho e da idade do nosso Sol tende a ter ciclos de 11 anos, mais ou menos, e um não é igual ao outro.”
Outra anormalidade do ciclo 24, que se encerra neste ano, é a época em que se deu o ápice. O auge das atividades era esperado no ano passado. “O atraso de um ano ainda está dentro da normalidade, ainda que não seja comum que se atrase tanto”, acredita Andrei. Segundo o astrônomo, as mudanças começaram no ciclo solar 22, que teve início em setembro de 1986 e se encerrou em outubro de 1996. Isso, supostamente, revelaria uma tendência. No Observatório Nacional, os pesquisadores acompanharam pequenos aumentos no tamanho do Sol, além de progressivas igualdades de temperatura nas manchas solares, que apresentaram diminuição. Apesar disso, a ciência ainda não tem mecanismos que consigam desvendar o motivo que desencadeou tal comportamento.
Andrei cogita que é possível que os ciclos de 11 anos pertençam a eventos maiores, que agrupam uma série de ciclos menores. “O problema é que não contamos com nenhum mecanismo totalmente aceito pela comunidade heliofísica que possa confirmar esse comportamento. Então, a gente vê uma coisa que parece um fenômeno, mas não há um modelo claro que possa explicar isso”, ressalta o astrônomo.
Giuliana de Toma, do High Altitude Observatory, nos Estados Unidos, aposta nessa explicação. Segundo ela, registros históricos revelam ciclos fracos na virada do séculos 19 e 20, o que poderia indicar que esses ciclos mudam a cada século. “Não é fácil estabelecer uma teoria de que o os ciclos mudam nessas grandes escalas de tempo, e a comunidade científica ainda tenta compreender o que está acontecendo”, justifica.
Explosões Além de efeitos no clima, o comportamento do Sol pode interferir nos sistemas elétricos. Quando o astro apresenta grande atividade, gera explosões que são capazes de até arrancar grandes pedaços de sua superfície. Eles viajam pelo sistema solar e, por vezes, chegam à Terra. “Esses pedaços interagem com o campo magnético da Terra, o que tem impacto na nossa eletricidade, já que essa força tem ligação com o magnetismo”, explica Alexandre Andrei.
Mas o fato de o Sol apresentar baixa atividade, como agora, não garante a inexistência de problemas nos aparelhos tecnológicos, desde os mais avançados satélites até transformadores domésticos. Quando o astro está com o campo magnético desfigurado, ele apresenta buracos coronais – pedaços onde não há campo magnético e com pouca densidade de matéria. Nos ventos solares, há uma grande quantidade de partículas que não conseguem ser domadas pela estrutura magnética da estrela. “É como se fosse um cano com um pequeno furo pode onde a água consegue fugir. Um fluxo desse escapando também pode gerar tempestades geomagnéticas. O fato de o Sol estar e extremamente calmo não exclui a existência de um chuveiro de partículas carregadas que podem gerar problemas”, completa o pesquisador da UFRJ.
Para ele, ainda que o comportamento tímido do Sol diminua em menos de 1% da energia que chega à Terra, ainda não é impossível imaginar como isso poderá afetar a vida aqui embaixo. Talvez, isso atenue os efeitos do aquecimento global e dê início a uma nova era climática com temperaturas mais baixas. Mas, por enquanto, nada pode ser confirmado.
“Não há modelos que possam explicar tudo. No entanto, há 20 satélites que captam diversos pontos de vista e, com isso, o Sol está sendo mais observado do que nunca. Isso é válido para a compreensão da ciência, pois podemos aproveitar a grande massa de dados para traçar análises e correlações que possam nos dar mais respaldo para interpretar essas mudanças”, finaliza Andrei.
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