Três vezes América
Yamandu Costa faz disco com sonoridades do Sul do Brasil e das músicas peruana, colombiana
e mexicana. Violonista aposta no formato trio ao lado dos parceiros Guto Wirtti e Arthur Bonilla
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 07/08/2013
Curiosamente,
Continente (Biscoito Fino), o novo disco de um dos melhores
instrumentistas brasileiros da atualidade, o gaúcho Yamandu Costa, teve
como ponto de partida não o inconfundível violão de sete cordas, mas o
baixo. Nem elétrico nem acústico, mas o baixolão, uma espécie de
cruzamento dos dois, com som mais natural e que pode ser tocado
desplugado.
Em 2010, o instrumento foi adquirido pelo
baixista Guto Wirtti na Áustria, durante turnê com Yamandu. Naquele
momento, a primeira das 11 novas composições surgiu. “Em Viena, fomos a
uma loja comprar cordas e esse baixolão apareceu. Mostrei ao Guto,
tocamos juntos lá dentro e ali mesmo começamos a compor. Inclusive,
fizemos o restante da turnê com esse instrumento. Assim começou a se
desenhar um estilo. Aí veio a ideia de convidar o Arthur Bonilla”,
lembra Yamandu.
O músico convocado para formar o trio que gravou
Continente também é gaúcho, toca violão de sete cordas e foi aluno do
argentino Lucio Yaniel, professor de Yamandu.
Em 2011, o álbum
foi gravado no Rio de Janeiro, com direção musical de Yamandu e Guto
Wirtti. O repertório é dominado por seis parcerias da dupla, entre elas
Chamamer, Cabaret e Bounyfie. O baixista assina sozinho três faixas, com
destaque para Aperto, belo e sentimental solo de baixolão. Com Arthur
Bonilla, o violonista escreveu Fronteiriço (influenciada pelas músicas
peruana e colombiana). Sozinho, compôs e tocou a faixa de abertura:
Sarará, de sabor pantaneiro.
O passeio latino-americano é
evidente. Vai do pampa argentino ao México, passando por Peru e
Colômbia. A costura dessas diversas referências, explica Yamandu, foi
feita com a opção de gravar a três. “O trabalho está ligado à formação
dos trios de violão, tradicional em toda a América Latina, exceto no
Brasil. Cantores sempre foram acompanhados por trios, que, por sua vez,
sempre tiveram atuação instrumental forte”. O violonista vê a ligação de
Continente com seus trabalhos anteriores, Lida e El negro del blanco,
ambos focados na música fronteiriça.
Gordo Em Continente, há
também influência do choro. “Principalmente nas harmonias. Compomos o
que gostamos de ouvir. Sai naturalmente”, diz Yamandu. Chama a atenção o
cuidado de arranjar as faixas de forma a deixar os três instrumentos em
equilíbrio, visto que os dois violões têm reforço na região das notas
graves (em função da corda extra, a sétima). Fora os graves do baixolão,
cujo timbre se assemelha mais ao de instrumento acústico – as cordas
não são de bronze (como de costume), mas de náilon.
Yamandu
gosta de chamar o instrumento de Guto de “violão gordo”. “Esse não é um
baixolão comum. Tem harmônicos e um timbre diferenciado, doce”, explica.
E aproveita para elogiar o conterrâneo: “Bom compositor e bom poeta,
ele tem um talento danado. É parceiro de sempre, coringa no meu
trabalho. Como também veio do Rio Grande do Sul, ele se encaixa
perfeitamente quando quero um sabor regional”.
Já Arthur
Bonilla transita entre a música do Sul e o instrumental brasileiro. Já
tocou com Renato Borghetti, Hamilton de Holanda, Arismar do Espírito
Santo e Bebê Kramer. “Ele conhece como ninguém a linguagem da nossa
região. Tem um nível de virtuosismo impressionante, facilidade de tocar e
enorme força interpretativa, tanto acompanhando quanto solando”,
conclui Yamandu.
Ele não sai do estúdio
Inquieto
como sempre, Yamandu Costa segue gravando muito. O próximo disco já tem
nome: Tocata à amizade, que contará com Bebê Kramer (acordeom, foto),
Rogério Caetano (violão) e Luís Barcelos (bandolim). O gaúcho promete
também um álbum em duo com o baixista Guto Wirtti e outro com a
Orquestra Sinfônica Brasileira.
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