quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Editoriais FolhaSP - Charge de Angeli

folha de são paulo
Impositivo demais
Deputados fariam melhor se pusessem freio nos gastos obrigatórios do Orçamento, em vez de tentar fixar cota individual de emendas
Está prevista para hoje na Câmara dos Deputados a votação da proposta de emenda constitucional que instituiria o "Orçamento impositivo" no Brasil. O conceito, inspirado em democracias maduras, predica que todo gasto pactuado na confecção da lei orçamentária anual deve ser de realização obrigatória ao longo do período.
A programação de despesas pode ser alterada apenas diante de imprevistos, como catástrofes ou quebra na receita de impostos. Mesmo nessas hipóteses, o desvio do script está sujeito a limites e à mediação do Legislativo.
A PEC em tramitação na Casa dos deputados, entretanto, tem objetivos mais provincianos. Tenta instituir uma cota anual de emendas por parlamentar, R$ 10 milhões por cabeça, cuja execução pelo Planalto seria obrigatória. Está mais para "bolsa emenda" do que para Orçamento impositivo.
O governo veria diminuído o seu poder de barganha, pois se vale da liberação discriminada de emendas para assegurar apoio em momentos decisivos no Congresso. Ficaria um pouco mais difícil, por outro lado, para o Executivo ajustar a dura realidade da arrecadação aos desejos fiscalmente irresponsáveis de congressistas, impressos na peça de ficção que uma vez por ano entregam ao governo.
A conta da "bolsa emenda" não parece tão salgada. Seriam R$ 6,2 bilhões ao longo de 12 meses, cerca de 0,5% do desembolso da União, que passa de R$ 1 trilhão.
Mas seria um meio ruim, pulverizado e de difícil fiscalização, de aplicar dinheiro dos impostos. O ideal seria privilegiar as emendas coletivas, pactuadas entre os congressistas de cada Estado e mais coerentemente inseridas em planos de desenvolvimento regional.
Emendas tratam sobretudo da despesa na infraestrutura, a rubrica mais sacrificada nos orçamentos, embora decisiva para o crescimento econômico. Quando se fixa uma cota para as emendas paroquiais, obriga-se o governo a sacrificar outros investimentos.
O Orçamento já é bastante impositivo. Despesas obrigatórias com manutenção da máquina, pessoal, juros e seguridade consomem mais de R$ 80 de cada R$ 100 gastos pela União. O quadro reflete escolhas sedimentadas da democracia brasileira ao longo de três décadas. Optou-se pela constituição de um colchão social extenso, mas incapaz de oferecer serviços de boa qualidade --limitado pela renda apenas média do Brasil.
Se os congressistas desejam transformar o Orçamento numa peça importante para o desenvolvimento do país, deveriam começar pela revisão das despesas obrigatórias. De sua diminuição relativa nos próximos anos depende a retomada de um ritmo confortável de aumento na renda nacional.
    EDITORIAIS
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    Irã mais pragmático
    Descontada a retórica nacionalista dirigida ao público doméstico, as primeiras atitudes do recém-empossado presidente iraniano, Hasan Rowhani, sinalizam disposição para fazer avançar o diálogo de seu país com potências ocidentais.
    Não é pouco. Sob Mahmoud Ahmadinejad, o crescente isolamento internacional do Irã deixava pouca ou nenhuma perspectiva de solução negociada para o imbróglio nuclear. Embora seja cedo para fazer diagnósticos, é razoável apostar em mudanças no horizonte.
    O gabinete nomeado pelo clérigo centrista Rowhani --ainda pendente de aprovação pelo Legislativo-- tem perfil tecnocrata e pragmático, características ausentes nos oito anos anteriores.
    Muitos dos 18 ministros indicados --nenhuma mulher, é verdade-- já trabalharam no mandato de outro presidente moderado, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997), apoiador de Rowhani.
    O nome mais importante é o do diplomata Mohamad Javad Zarif, destacado para o posto de chanceler. Sua biografia surpreende: ele viveu praticamente a metade de seus 53 anos nos EUA, onde frequentou universidades e atuou como embaixador do Irã na ONU, de 2002 a 2007. Nesse período, conheceu pessoalmente membros do alto escalão norte-americano.
    Zarif também integrou o grupo de negociação que em 2003, liderado pelo próprio Rowhani, chegou a um acordo com países europeus para a suspensão temporária de enriquecimento de urânio.
    As condições favoráveis, porém, não bastam para desaconselhar o ceticismo. De saída porque cabe ao aiatolá Ali Khamenei a última palavra em decisões estratégicas --e nada sugere que a elite iraniana considere a arma nuclear um item supérfluo naquela região.
    Há ainda outras dificuldades, a principal das quais talvez seja a desconfiança mútua. Durante discurso no Parlamento, Rowhani cobrou do Ocidente um diálogo em condições de igualdade: "Falem com o Irã usando a linguagem do respeito, não a das sanções".
    Sendo pouco provável que isso ocorra em breve, é grande o desafio da comunidade internacional, sobretudo dos EUA, para demonstrar que reconhece o esforço de Teerã. Ao mesmo tempo, os países envolvidos nas negociações não podem abrir mão de manter o programa iraniano sob monitoramento.
    Ainda assim, o novo governo e a difícil situação econômica do país constituem rara oportunidade para um acordo positivo acerca da questão nuclear.

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