A amostra de usuários das redes sociais pode ser enviesada e não muito representativa da sociedade
É verdade que a própria internet facilitou a vida de editores de periódicos científicos, os chamados "journals", que hoje são dezenas de milhares. Só os de elite --como aqueles monitorados por organizações como a Web of Science (da empresa Thomson Reuters)-- são mais de 12 mil, e cerca de 200 são aceitos nesse clube dos "indexados" a cada ano que passa.
O "CBSN" (para encurtar) faz parte desse grupo. Ostenta um fator de impacto 1,842, o que significa que cada estudo nele publicado obtém, em média, quase duas citações em outros artigos (o indicador mais aceito do grau de repercussão de um trabalho científico). De fato há pesquisadores que se dão ao trabalho de ler o que ali se publica.
É evidente que ainda se trata de um gueto dentro da ciência social. Mas não são poucos os atrativos das redes sociais para quem precisa ganhar a vida (e verbas de pesquisa) publicando artigos, a começar por sua popularidade fora do universo acadêmico. Qualquer estudo sobre o Facebook tende a virar notícia.
Há razões práticas para se dedicar à investigação profissional das redes, também. Cada uma das manifestações e interações nelas ocorridas --milhões, bilhões-- deixa um rastro digital. Com alguma habilidade informática, torna-se possível vasculhar esse acervo sem nem mesmo sair da frente do computador.
Como diz o editorial de Scott Golder e Michael Macy, da Universidade Cornell (EUA), na última edição do "CBSN": "Mais e mais pesquisadores se voltam para o registro de comportamento social em blogs e páginas de redes sociais por causa da disponibilidade, da escala e da granulação temporal dos dados".
Estar na moda não implica fazer época, contudo. A ciência das redes pode ganhar milhares de seguidores e nem por isso produzir um Thomas Malthus, um Karl Marx ou um Max Weber. Talvez seja apenas efeito da vista cansada, mas o temário do "CBSN" não entusiasma ninguém quanto a esse potencial.
No último número, um dos artigos destacados se debruça sobre o "suicídio de identidade virtual". Em miúdos: o estudo liderado por Stefan Stieger, da Universidade de Viena (Áustria), aborda 310 casos de pessoas que retiraram seus perfis da rede social, recrutados entre 34 mil que aderiram à página Quit Facebook Day (dia de sair do Facebook). Stieger faz uma comparação com 321 usuários que permaneciam na rede social e clicaram no link do questionário da pesquisa anunciado em várias páginas da internet.
Verificou que os desertores tendiam ser pessoas mais velhas e preocupadas com privacidade. Ou seja, o óbvio. Esse resultado também indica que a amostra composta pelos usuários das redes pode ser enviesada e não muito representativa do tecido social.
Não se deve esquecer, porém, que o fortalecimento dos Estados nacionais e a necessidade dos governos centrais de manter registros administrativos propiciou o florescimento da demografia, que acabou por revolucionar a ciência social.
Com tanta gente curtindo as redes, é bom não perdê-las de vista.
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