O Globo - 22/09/2013
Nesta altura do campeonato, elogiar a produção de “Joia rara” é chover no molhado. Desde que foram ao ar as primeiras chamadas da nova novela das seis, os espectadores sabiam que estavam diante de uma produção deslumbrante. Quando, enfim, o primeiro capítulo foi exibido, o público apenas constatou o cuidado com que a novela está sendo feita. Como acontece com as produções de época da Globo, figurinos, cenários, iluminação... é tudo impecavelmente realizado.
Um dos cenários da novela é um cabaré, um pequeno teatro de revistas. Ali, no primeiro capítulo, já pode ser visto um musical interpretado por uma das vedetes da trama vivida por Letícia Spiller. Ela entra em cena e canta... “Copacabana”, sucesso de Barry Manilow de 1978!
A crítica já percebeu as referências cinematográficas de “Joia rara”. As cenas gravadas no Nepal lembram “O pequeno Buda”, de Bernardo Bertolucci. A iluminação das cenas internas, propositalmente escuras (talvez escuras demais), seguem a linha de “Tiros na Broadway”, de Woody Allen. Talvez, a “Copacabana” do primeiro capítulo seja uma referência a “Moulin Rouge”, um musical que narrava uma história passada no comecinho do século XX com canções pop contemporâneas. A partir de “Moulin Rouge” tudo passou a ser permitido na trilha sonora de filmes de época.
Figurinos e cenários são sempre reproduzidos com esmero nas novelas de época. Infelizmente, o mesmo cuidado nunca chega à trilha sonora. Imagino que canções de outros tempos, fora de moda, dificultem a criação de climas exigidos pelos folhetins. Mas “Joia rara” seria uma ótima oportunidade de se abrir uma exceção. Afinal, a trama se passa nos anos 30 do século passado, a época de ouro da música brasileira, um período em que as canções eram lançadas justamente no teatro de revista, o cenário onde brilha a vedete de Letícia Spiller. Por que não recuperar estas canções e fazer a plateia de hoje conhecê-las?
Pelo que entendi, “Joia rara” começa em 1934 ou 1935 e vai ter uma passagem de tempo que leva a trama para os anos 40. É nesta época que alguns dos melhores compositores brasileiros viveram seu auge, como Ary Barroso, Lamartine Babo, José Maria de Abreu, Benedito Lacerda, Herivelto Martins, João de Barro, Mário Lago, Custódio Mesquita, Ataulfo Alves, Pixinguinha e muitos outros. É deste tempo um repertório que inclui “Foi ela”, “Grau dez”, “Rasguei a minha fantasia”, “Canta Brasil”, “Serra da Boa Esperança”, “Curare”, “Nada além”, “Carinhoso”, “Lábios que beijei” e uma infinidade de clássicos.
Imagino que tenha sido irresistível escolher “Copacabana” como o primeiro número da vedete de Letícia. Afinal, a canção fala de Lola, uma corista que trabalha numa boate chamada Copacabana, e Lola é justamente o nome do personagem de Letícia. Tomara que tenha sido só por isso. Tomara que o cabaré da novela mergulhe no repertório daqueles tempos. Tomara que, entre muitas outras joias raras, a gente possa ouvir a Lola de Letícia Sppiller cantando “Cadê Mimi? Cadê Mimi? Mimi que partiu pra Xangai...”
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