Estado de Minas: 22/09/2013
A turma de Pé na cova se reuniu no Projac, no Rio de Janeiro, para a apresentação da segunda temporada. E com algumas caras novas |
Em um ambiente decorado com coroas de flores, caixões e algumas caveiras divertidamente vestidas como os personagens da trama, o elenco da série global Pé na cova se reuniu com a imprensa no Projac, no Rio de Janeiro, para apresentar a segunda temporada do seriado, que estreia dia 1º de outubro. Agora, o programa protagonizado por Miguel Falabella será exibido às terças-feiras, logo depois de Tapas & beijos. As histórias da turma da funerária do Irajá, subúrbio carioca, chegam para dar um gostinho de “quero mais”, pois a terceira temporada já está praticamente garantida na programação 2014.
Dono de um humor ácido, o autor (e ator) Miguel Falabella comemora a aceitação do público. “Estou feliz. Acho que a emissora entendeu a proposta. O programa causou uma estranheza quando chegou, porque eu propus uma linguagem nova, diferente do que vinha fazendo ao longo desses anos na televisão. Quis mostrar um Brasil mais profundo, os esquecidos, aqueles de quem ninguém lembra, mas que, infelizmente, são a grande maioria no nosso país”, comenta o artista multimídia, que na trama dá vida ao personagem Gedivan Pereira, conhecido como Ruço.
“SOU POPULAR” Falabella deixa claro que ele não faz televisão para as classes mais altas e que Pé na cova é voltado para o “povão”. “Eu sou popular e o povão entende a crítica. O Ruço, na verdade, é um homem chocado como mundo que o rodeia. Ele não acha bonito o filho ser um político corrupto nem a filha tirar a roupa na internet. Ele não acha bom a Darlene (Marília Pêra) ser uma ignorante.”
Na segunda temporada, a maioria dos personagens continua tocando sua vida sem muitas novidades. No entanto, Darlene está com problemas. A atual mulher de Ruço, Abigail (Lorena Comparato), não permite que ela a ajude a cuidar do filho do casal. Além disso, a maquiadora oficial dos defuntos da F. U. I. (Funerária Unidos do Irajá) acaba não podendo ficar no emprego público que seu filho, Alessanderson (Daniel Torres), arruma para ela porque não tem diploma. “A personagem tem dimensão dramática, mas também tem muito humor”, diz Marília Pêra. “O Miguel (Falabella) permite esse passeio pelo drama e pelo humor. É uma alegria enorme estar nesta segunda temporada e já ouvindo falar que vai ter uma terceira,”
Entre as caras novas que vão aparecer no humorístico está o pequeno Gabriel Lima, que vai interpretar Sermancino, um menino adotado por Tamanco (Mart’nália) e Odete Roitman (Luma Costa). O garoto, aliás, vem consolidar a união homossexual das duas e acaba trazendo mais doçura ao dia a dia da filha de Ruço, que vai impedir o menino de ver seu trabalho – Odete Roitman faz streaptease na frente de uma webcam e se exibe mundo afora pela internet. Para esconder o jogo do filho, ela continuará alugando seu antigo quarto na casa do pai, como se fosse um escritório. “A Odete sempre foi uma personagem muito imperativa. Ela é muito mandona, principalmente com o Tamanco. Com o pai, sempre agiu como aquela pessoa que gosta de confusão. Já com o filho, a personagem mostra um outro lado, mais maternal e que nem ela mesma sabia que tinha. Com ele, Odete é mais mansa. Claro que ela não perde seu jeito meio escrachado, mas tem um carinho especial ao falar com o filho”, explica Luma Costa.
Além de Sermancino, Clécio (Magno Bandarz) entra na história. Ele surge como um jovem que rouba um pão no trailer de lanches das irmãs Soninja (Karin Hils) e Giussandra (Karina Marthin). Ruço salvará o rapaz de ser linchado e o coloca para trabalhar na oficina. O que o dono da funerária não imagina é que o novato vai acabar se apaixonando por sua mulher, Abigail, e tudo leva a crer que os amantes vão acabar fugindo no final desta temporada.
“Eu sou popular e o povão entende a crítica” - Miguel Falabella
Entrevista - Miguel Falabella "Vou morrer escrevendo"
Publicação: 22/09/2013 04:00
Polêmico, crítico, dono de um humor ácido, Miguel Falabella coleciona adjetivos, mas o que mais se encaixa no perfil do ator e autor é ser popular. Ele afirma que costuma dar trela para todo mundo que se aproxima para uma conversinha. E é nesses bate-papos que ele se inspira para criar personagens e falas para Pé na cova.
Como você vê a recepção do público a Pé na cova? Como é seu contato com o público nas ruas? As pessoas sempre o reconhecem?
Da maneira deles, sim. Outro dia, aconteceu uma coisa muito engraçada e essas coisas me mostram que eu estou no caminho certo. Saí da academia, aí veio um homem e me disse assim: “Você é grande, Lulu Santos”. E ele me deu um abraço. Eu pensei: “isso é Pé na cova”. Os caras não sabem absolutamente nada. Vejo isso também na minha casa, com as minhas secretárias. Quando estão falando de novela, não sabem nada. Não sei como elas acompanham. Estão contando o capítulo uma para a outra, no dia seguinte, e até entendem a história, mas confundem os atores todos. Eu pergunto se elas estão loucas.
As pessoas trocam o seu nome sempre?
Eu sou tudo: Sabatella, Antonelli, Dolabella... Ontem, gravamos uma cena que mostra bem isso. Meu personagem (o Ruço) diz: “Eu tive um problema na ‘rótula’ (próstata). Inclusive, todo homem, depois de uma certa idade, tem que fazer um exame de ‘rótula’. Aí, alguém me corrige. “Não é ‘rótula’”. É ‘prótese’”. Essa indigência, que nós vemos hoje em dia, é aterradora. As pessoas escrevem de uma forma que eu acho que não fizeram sequer o primário. É um país que abandonou a educação, literalmente. Pé na cova mostra essa fatia da população que é relegada à marginalidade total como cidadãos. Só que é visto pela ótica do humor.
Você acha que as classes mais altas reconhecem essa falta de cidadania do povo que é retratada no programa?
Eu não faço para a classe alta. Nunca fiz nada para ela. Faço televisão para o povão. E vou dizer mais: o povão entende a crítica. Eles se veem, entendendo que não deve ser assim. O Ruço, na verdade, que é o fiel da balança na história, é um observador e é um homem chocado com o mundo que o rodeia. Ele não acha bonito o filho ser um político corrupto, não acha bonito a filha tirar a roupa na internet, ele não acha bom a Darlene (Marília Pêra) ser uma ignorante.
O que a segunda temporada traz de diferente da primeira?
Acho que é a mesma coisa. Temos um cuidado, cada vez maior, com a trilha sonora. Essa coisa de resgatar pérolas que estão no inconsciente coletivo. Quando você escuta uma música que faz parte da sua vida, isso o toca.
Há um tempo, você tinha dito que ia parar de escrever, certo?
Não. Eu disse que ia parar de atuar e vou, só que ainda não consegui, mas de escrever não. Vou morrer escrevendo. Vou morrer, inclusive, sentado no computador escrevendo. Vou enjoar e dizer “fui” (risos).
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