domingo, 22 de setembro de 2013

Eduardo Almeida Reis - Alzheimer‏

Escolheria a mais interessante das especialidades médicas, a psiquiatria, que até pode diagnosticar e controlar o maluco, mas não cura


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 22/09/2013 





Fiquei tão assustado com a matéria “Os sinais inglórios da demência”, de Bruna Sensève, publicada em nossa edição de 20 de agosto, informando que os cientistas acham que adultos com dificuldade para reconhecer famosos têm mais riscos de desenvolver problemas neurodegenerativos.

Não tive coragem de passar das primeiras linhas, porque sou adulto e só raramente reconheço um famoso. Pior que isso: conheço poucos famosos. Dou-lhes exemplo recente, quando um amigo, dizendo-se primo de Nanda Costa, recomendou-me a compra de uma edição de Playboy em que sua priminha aparece na capa fumando um Cohiba.

Influenciável que sou, fiz a besteira de investir R$ 12,90 na compra da revista para ver dezenas de fotos de Nanda, com sua bela juba pubiana, em diversos ambientes paupérrimos de Havana, Cuba. Barbearias, botequins, desvãos caindo aos pedaços e a moça lá, nua em pelo exibindo a mata atlântica pubiana para cubanos perplexos. Nada tenho contra pilosodades axilares ou pubianas, só detesto tatuagens, mas achei que a prima do mineiro rico exagerou nos ouros em colares, pulseiras e enfeites corporais. Razão tinha aquele presidente que vocês elegeram: “Quanto menas joia, melhor”. Não entendi o bizu do ensaio fotográfico naquela ambientação deprimente e agora tenho um problema para resolver: como descartar a revista? Ninguém vai entender o gasto de R$ 12,90 de um sujeito sério, quase idoso, que não nada em ouro.

Só posso dizer uma coisa: ainda hoje, caminhado em anos, tenho apalpado, em carne e osso, cidadãs mil vezes melhores que a prima do homem. Falei mil vezes? Esquece. Bote um milhão de vezes e pode acreditar no seu philosopho.

Vídeo


Circula por aí um vídeo BBC One What a wonderful world, que dura exatos dois minutos e é uma beleza. É o tipo do vídeo ideal para começar o dia, sobretudo e principalmente numa sexta-feira em que você acorda, manhã linda, sem uma nuvem no céu muito azul, e se surpreende no banheiro segurando a voz para não assustar o edifício com uma ária do Rigoletto. Pouco depois, na cozinha, você leva um susto ao descobrir que toma o seu café cantarolando animadíssimo: “Pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou eu.”

É por isso que vivo lamentando o fato de não ter estudado medicina. Escolheria a mais interessante das especialidades médicas, a psiquiatria, que até pode diagnosticar e controlar o maluco, mas não cura. Basta dizer que o imbecil, que cantava na cozinha o pirulito que bate-bate, era o mesmo que urrava no banheiro: “Solo, difforme, povero/ Per compassion mi amò/ Moria le zolle coprano/ Lievi quel capo amato/ Sola or tu resti al misero/ o Dio, sii ringraziato!”.

Se o barítono solta a voz no ringraziato acorda o bairro inteiro. Tudo bem, meu registro é de baixo cantante, mas posso me arriscar no registro abaritonado quando não há ninguém por perto. Mais adiante, quando Gilda pergunta se o pai tem pátria, parentes, amigos, Rigoletto responde: “Culto, famiglia, patria/ Il mio universo è in te!”.

Vou abrir o vidro da janela, que são 8 horas em ponto e o dia está cada vez mais bonito. Compete ao psiquiatra Arnaldo Madruga analisar o que vai contado nesse belo suelto para confirmar que o philosopho seu amigo é um caso perdido.

Antes mesmo de publicar essas linhas, acho que matei a charada num processo de autoanálise. Solo, povero, vecchio – por compaixão o sujeito pode ser amado por uma princesa de que até dos deuses duvidam. Quanto ao pirulito que bate-bate e, sobretudo, o pirulito que já bateu, admitamos que esse negócio de voltar à infância é coisa de quase idoso.

O mundo é uma bola

22 de setembro de 490 a.C. – Dario, rei dos Persas, é derrotado pelo Exército grego na Batalha de Maratona. Em 66, o imperador Nero apresenta a Legião I Italica. Em 1762, casamento de Catarina, a Grande, aliás Sophie Friederike Auguste von Anhalt-Zerbst (1729–1796), que assumiria o poder depois do complô que depôs seu marido, o czar Pedro III. Mulher que depõe marido não merece nossa atenção, sempre voltada para as mulheres que amam e respeitam seus maridos e senhores.

Em 1862, Abraham Lincoln liberta os escravos dos Estados Confederados da América. Em 1866, na Guerra do Paraguai, Batalha de Currupaiti. Resultado: com 47 mortos, vitória do Paraguai. Brasileiros e argentinos tiveram 1.395 mortos.

Em 1957, o médico François Duvalier, o Papa Doc, de confissão religiosa vodu, é eleito presidente do Haiti, governando o país até morrer, em 1971, quando foi substituído por seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, também médico, parece que vivo, forte e rico até hoje morando na Europa. Papa Doc reescreveu a Constituição e se tornou presidente vitalício. Baby Doc fugiu para o exílio na França em 1985. O mundo inteiro achava que o Haiti melhoraria; piorou.

Em 1975, Gerald Ford, presidente dos EUA, escapa de ser morto por Sara Jane More, que tinha problemas psicológicos e foi condenada à prisão perpétua, mas está em liberdade condicional desde 2007.

Hoje é o Dia Mundial sem Carro e o Dia do Sorvete.

Ruminanças

“Quem está para morrer sempre sói falar verdades.” (Cervantes, 1547-1616)

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