LETRA E MÚSICA »
Em busca da leveza
O guitarrista, cantor e escritor gaúcho
Duca Leindecker lança o álbum solo Voz, violão e batucada com 10 canções
inéditas, em que toca todos os instrumentos
Walter Sebastião
Além de trabalho autoral, Duca Leindecker mantém projeto Pouca Vogal com Humberto Gessinger |
Tem som diferente no ar: Voz, violão e batucada, segundo CD solo do gaúcho Duca Leindecker, de 43 anos. Ele é compositor, instrumentista, cantor, diretor de clipes e escritor com dois romances publicados. E discografia extensa: sete discos com a banda Cidadão Quem e um com o Pouca Vogal, projeto com Humberto Gessinger. “Tudo ao mesmo tempo. Entrei na onda da gurizada de ter várias projetos simultâneos”, conta com humor e falando de público que é leitor de seus livros. “Temos muitos meios disponíveis e adoro ficar fazendo arte o tempo todo”, justifica.
Voz ,violão e batucada traz 10 canções inéditas, todas escritas em 2012. Músicas tranquilas, interpretadas com gosto, pop fino, autoral sem ser esnobe. Com som diferente: Duca toca violão (inclusive batucando na caixa do instrumento), bumbo e pandeiro, construindo sozinho harmonias e percussões. É o próprio músico quem recomenda ver o clipe de Iceberg no YouTube, para entender a proposta. “Experimentação, hoje, é fundamental. Vivemos momento de desgaste dos formatos. Os Beatles são geniais, mas precisamos de outras possibilidades musicais”, defende.
O disco mostra qual é o desejo musical de Duca no momento: dedicar-se às canções. Projeto de alguém que começou carreira como instrumentista e, ainda muito jovem, foi considerado um dos melhores guitarristas do Rio Grande do Sul. “Quando a gente se dedica ao estudo de um instrumento, acaba se afastando da coisa mais essencial da música, que é a canção. Instrumental é muito forma. Estou buscando alguma coisa que seja forma e conteúdo”, explica. Canções que mostram resultados dessa investida podem ser Tudo é longe ou Brutalidade e sol.
A vontade de fazer canções vem movida ainda por mais um desejo: realizar música que tenha espontaneidade e soe natural. “Não é fácil. Tudo é fluente quando você está tocando em casa. Ligou o botão no estúdio, vem a tensão”, conta. “Passar leveza em música é desafiador”, garante. Algumas composições, que lembram o som do primeiro Clube da Esquina, movimento que o gaúcho admira, estão ligadas a esse aspecto “É música que tem espontaneidade”. Ainda ligado à mesma referência está o fato de Duca ter mãe mineira e ser amigo e admirador dos irmãos Venturini.
Duca Leindecker avisa que é compositor que canta. “E quem canta seus males espanta”, brinca. “Cantar é colocar para fora, da forma mais visceral possível, os sentimentos que temos dentro de nós e, nesse sentido, terapia”, define. Adora ver intérpretes cantando músicas dele, como é o caso de Maria Gadú e Tiago Iorc, que gravaram a canção Música inédita.
Dylan
Duca Leindecker toca vários instrumentos. Começou vida profissional aos 13 anos tocando violão em bares. “Me pagavam com arroz de carreteiro”, recorda. Ele lembra ainda que, nas apresentações, ia da bossa nova à música tradicional do Rio Grande do Sul. Com o aparecimento do rock, nos anos 1980, participou de várias bandas, conheceu Humberto Gessinger e criou o Cidadão Quem. O que o levou a se interessar pela guitarra, que valeu a Duca, por três vezes, ser considerado pela crítica especializada o melhor guitarrista do Rio Grande do Sul. Bob Dylan, nos anos 1990, assistiu à apresentação de Leindecker e o convidou para fazer abertura de shows.
É de 1999 o primeiro romance, A casa da esquina, já em 10ª edição. O segundo, A favor do vento, foi lançado em 2002. Duca está concluindo nova obra – além de ser jurado do setor de literatura da edição de 2013 do prêmio Açorianos. “Difícil definir o que sou”, observa, evitando rótulos de músico, escritor ou cineasta. “A literatura foi muito importante, porque me deu linha direta com a gurizada.”
Colaborou para isso, explica, o primeiro livro ter agradado às escolas de ensino médio. Duca Leindecker assinou vários clipes e um curta-metragem, Chá de frutas vermelhas. “Sem estrutura não dá para pensar em cinema”, lamenta.
duas perguntas para...
Duca Leindecker
músico e escritor
Como você analisa a relação dos jovens com a leitura?
É incrível a disposição dos mais jovens para ler. A prova é Harry Porter, livros enormes que eles devoram, porque são obras que vão ao encontro deles. O que não dá é para empurrar os clássicos, é queimar etapas. Cria trauma que leva à generalização, incorreta, de que literatura é chato. A gente chega aos clássicos. O jovem hoje fala outra língua, é outro ser humano, então é complicado entender linguagem de dois séculos atrás.
A que se deve o aumento de livros escritos por músicos?
São dois fenômenos. Um, genuíno, natural, porque contar histórias tem a ver com música. Qualquer música, até instrumental, conta uma história, tem uma narrativa por trás. Outro aspecto é que, com a derrocada da indústria fonográfica, como não se vendem mais discos, as pessoas querem fazer algo que venda. Temos escritores de verdade e também muito oportunismo.
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