Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/09/2013
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Lavabo é substantivo muito mais civilizado que banheiro: de lavabo 'lavarei', verbo latino laváre, primeiro termo do salmo proferido durante a lavagem das mãos, após o ofertório. Vai que a torneira do seu lavabo faça um quadro de incontinência. Em Minas, esfíncter de torneira é bucha; no Rio atende pelo nome de carrapeta. Você troca a bucha, ou carrapeta, e a torneira deixa de pingar. Fácil, não é? Sua janela de vidro e madeira, pesada como ela só, tem um sistema de contrapeso por meio de um cabinho de aço. Rompido o cabo ela fica troncha. Você compra outro feixe de fios metálicos e chama um sujeito para consertar a janela. Ele promete ir na manhã seguinte, mas demora um mês, porque o brasileiro comum perdeu totalmente o compromisso com a palavra. Um dia o fulano aparece, troca o cabinho de aço e sua janela volta a funcionar.
Os pneus do seu carro estão ficando carecas. Se você tem carro, presumo que tenha dinheiro para trocar os pneus. Você vai à loja, manda trocar os pneumáticos e alinhar as rodas para circular com certa tranquilidade durante 20 ou 30 mil quilômetros. Tive pneus alemães, num fusca importado, que duraram 45 mil quilômetros e estavam perfeitos quando o carango foi vendido. Carrapetas, cabinhos de aço e pneumáticos têm algo em comum: você tem controle sobre eles e pode trocá-los sempre que necessário. Algo que não acontece quando os problemas são nacionais. Sabe aquela conversa de voto universal e secreto, obrigatório ou facultativo? Esquece. É conversa mole para boi dormir.
Conheço jovem casal de professores doutores estudados, cultos, viajados, poliglotas. Pois muito bem: os dois votos do casal valem tanto quanto os votos de um casal analfabeto catado a laço pelo Bolsa Família. É democrático. Fazer o quê? Cês viram o negócio das hidrelétricas do Rio Madeira? Têm visto o que está sendo feito com a Petrobras? Viram o cachorro Juquinha passeando de helicóptero? E o engenheiro Juquinha, aquele bípede do Dnit? É democrático. Fazer o quê? Alternativas antidemocráticas são impensáveis e você, cidadão brasileiro que trabalha, paga impostos e nunca roubou, não pode fazer nada salvo chiar, espernear, gritar, protestar e sonhar com um sistema educacional que possa transformar esta choldra, em 20 ou 30 anos, num país com pê maiúsculo.
Presentes
Reservei parte de uma tarde para comprar vários presentes de aniversário e Dia dos Pais. Inteligente que é, o leitor deve ter adivinhado o nome do presenteado com um relógio de R$ 450 em 10 prestações de R$ 45 e cinco camisetas sem bolsos, puro algodão, a R$ 34 cada, daquelas de usar por baixo para combater o frio. Pelo câmbio do dia, exatos US$ 15. Camisetas iguais, nos Estados Unidos, custam US$ 4. Achei tremendamente injusto fazer anos e passar o Dia dos Pais sem um presentinho. Por isso, gastei logo 620 pratas e fiquei numa alegria que vou de contar. Pensei acrescentar à sacola duas calças jeans, clássicas, sem penduricalhos, a R$ 79 cada, mas o tamanho máximo não me serviu. Parece que o chique, agora, é apertar os canos das jeans. Lembrei-me do tempo em que foi moda um tipo de calça tão apertada, tão colada nas pernas das namoradas, que Romeu se exauria despindo Julieta ao fechar a porta da suíte do motel.
Petrobras sem acento
Se o Brasil tivesse um mínimo de seriedade e os certos políticos um tiquinho de vergonha na cara, a situação da Petrobras já seria objeto de CPI nos últimos tempos, situação que se agrava dia a dia. Quem está ou esteve por dentro da imensa empresa nos últimos anos sabe que ela caminha para situação próxima da insolvência. Já não sabe licitar, mete os pés pelas mãos e – novidade nos dois ou três últimos anos – contrata, vê as obras concluídas e não paga. Empreiteiros inteligentes estão caindo fora para deixar que a Justiça resolva o problema das dívidas de centenas de milhões de reais. É pena e é triste, porque a Petrobras com acento já formou técnicos de primeiríssima qualidade e chegou a trabalhar como empresa de Primeiro Mundo. Hoje, coitada, é aquilo que se vê.
O mundo é uma bola
7 de setembro de 1822: às margens do Ipiranga, agoniado por uma disenteria com dores que apanhara em Santos, o príncipe-regente dom Pedro teria jurado fazer a Independência do Brasil. É preciso ler o depoimento do padre Belchior Pinheiro, testemunha ocular da cena. Em 1875, Helena Petrovna Blavatsky funda a Sociedade Teosófica, organização internacional devotada a divulgar os ensinamentos da teosofia, conjunto de doutrinas religiosas de caráter sincrético, místico e iniciático, acrescidas eventualmente de reflexões filosóficas, que buscam o conhecimento da divindade para alcançar a elevação espiritual. Se o caro e preclaro leitor é jejuno em teosofia, console-se comigo. Em 1884 são libertados em Porto Alegre os últimos escravos. Em 1920, fundação da Universidade Federal do Rio de Janeiro pelo presidente Epitácio Pessoa. Foi a primeira Universidade Federal do Brasil. Hoje, Dia da Pátria, é feriado e é sábado: benfeito!
Ruminanças
“Fervemos a graus diferentes” (Emerson, 1803-1882)
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