Zero Hora - 06/10/2013
Sempre tive mais tendência a simplificar do que complicar, mas agora
isso se intensificou a ponto de eu começar a flertar com o budismo.
Lendo alguns livros e assistindo palestras, tenho percebido como o
caminho para ser feliz é óbvio eu mesma já fui acusada de escrever sobre
coisas óbvias, e não tenho como me defender contra isso: escrevo
obviedades, sem dúvida. Porém me pergunto, intrigada: por que as
obviedades andam tão necessárias?
É que normalmente o óbvio fica soterrado sob camadas e mais camadas
de auto boicotes: as pessoas se irritam por besteiras, fazem escolhas
idiotas, brigam no trânsito, não se abrem sobre o que sentem,
desperdiçam energia à toa, desrespeitam o coletivo e são refratárias a
tudo que seja simples e fácil, já que a dor, a culpa e o ódio faz
parecer que elas têm uma vida mais profunda.
Felicidade é algo que todos desejam e ao mesmo tempo renegam, já que
não saberiam lidar com algo que lhes deixaria tão soltos e leves. Com
péssimo ibope junto aos intelectuais, a felicidade (que nada tem a ver
com bobice, mas com paz de espírito) ficou associada à superficialidade,
enquanto que o sofrimento produz arte e filosofia.
Sob esse aspecto, óbvio que ser um deprimido é mais charmoso.
Pena que isso seja um estereótipo. Ora, filosofia busca a
consciência, que é chave para a felicidade, e a arte faz um bem danado a
mentes atormentadas, que através dela conseguem realizar catarses e se
conectar com um mundo que lhes parece hostil. Ou seja, não importa quem
ou de que forma, todos querem viver melhor, sem esquecer que esse
“melhor” tem sentidos diversos para uns e para outros. Seja qual for o
significado de “melhor” pra você, ele é a sua perseguição. Só que alguns
escolhem vias cheias de obstáculos e acabam não aproveitando a viagem.
O bem-estar vem de onde? Óbvio: da convivência com amigos, de
relações saudáveis, de não permitir que frustrações e ressentimentos
virem a tônica da vida, de não reagir com exagero diante de
insignificâncias, da valorização das miudezas grandiosas do cotidiano,
de sentir-se disponível para o novo e o diferente a fim de enriquecer a
própria existência, mantendo uma espiritualidade básica que envolva a
generosidade, a compaixão, a tolerância (não é obrigatório ter religião
pra isso). Mais: de aceitar as mudanças, de trocar de perspectiva quando
se estiver obcecado com algo, de buscar a evolução da mente.
Inventei a pólvora? Estou dizendo alguma coisa que você já não
esteja careca de saber? É tudo tão evidente, tão incontestável, que dá
até sono. O que você ainda está fazendo lendo essa página? Acorde e vá
pra rua.
Aí você sai e cruza com centenas de outros cidadãos para quem o
óbvio é uma teoria sem aplicação prática, e que continuam encrencando-se
de forma absurda, a fim de voltarem para casa estressados e sentindo-se
vítimas do próprio destino. Charmosos, sem dúvida. Resta saber a que
custo pessoal.
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