ARNALDO VIANA »
A iniciação
Estado de Minas: 04/01/2014
Dia seguinte ao pipocar dos fogos, do estouro do champanhe e dos inevitáveis desejos de um 2014 cheio de realizações, a conversa mole de um feriado quente e preguiçoso:
– Minha filha está namorando!
– O quê? Mas ela só tem 15 aninhos…
– São os tempos, meu amigo, são os tempos…
– Ela sai com o namorado? Vai a festas?
– Vão às baladas, como se diz hoje. Às vezes, acompanhados de um dos pais. Às vezes, não.
– E como é a conversa com ela? Sobre sexo?
– Natural. Tento lembrá-la de que ainda não é hora de ter relação sexual. E está alertada sobre o uso da camisinha. A gente nunca sabe…
– No nosso tempo, nem sequer se namorava com essa idade. De sexo, nem se cogitava.
Dito isso à amiga, lembrou-se da primeira vez, da relação inicial. Ainda não tinha 15 anos e, evidentemente, não foi com namorada. Anos 1960. Acabara de chegar à capital, de mudança com a numerosa família. Juntou-se logo aos garotos daquele então afastado bairro da Região Nordeste. Futebol, matinês no cineminha da igreja (que a turma apelidara de poleiro), brincadeiras de rua (bente altas, nego fujão, bola de gude, finca) e, às escondidas, manuseio das deliciosas obras de Carlos Zéfiro (pesquise-o no Google), que ajudavam bem a saciar a inquietude sexual da molecada.
Machismo é coisa que menino cultiva até deixar de ser menino. Claro, claro, não se exaspere, não é regra geral. No dia em que completou 14 anos, o mais velho da turma, que tinha 16, passou-lhe a mão sobre o ombro e decretou:
– Chegou a sua hora!
– Que hora?
– Fez 14, não fez? Está na hora de você ver uma mulher.
– Pera aí, eu? Como?
– Arrume pelo menos 10 cruzeiros. Cinco para a mulher e o resto para a passagem e um lanche. Sábado a gente desce para a Guaicurus.
– Mas nem sei como é que se faz. E se não quiser ir?
– Aí a gente vai achar que não é homem. E o expulsamos da turma. E não se preocupe como esse negócio de saber. A mulher ensina.
– Mas e a polícia? Sei que menor de idade não pode ir à zona. E que os porteiros dos hotéis não deixam menino entrar...
– Estamos acostumados. A gente sabe driblar a polícia e enganar os porteiros. O encontro será às 19h, em frente à igreja.
– Quantos vão?
– Quatro.
Fazer o quê. Tinha quer ser macho. Tinha que provar que era macho. E foram. Combinaram assim: dois distraíam o porteiro e outros dois, fazendo cara de homem, entravam e se revezavam. Nem sempre dava certo. Naquele dia deu. O mais velho conversou com a mulher. Falou que era a primeira vez do amigo e que precisava ajudá-lo. O amigo saiu do quarto, parcamente iluminado por uma lâmpada vermelha, e o empurrou para dentro. Fechou a porta e o deixou diante da mulher seminua naquela cama cheirando a incenso. Incenso demais. Transpirando e morrendo de medo de fracassar, não a olhava diretamente. A mulher se despiu e falou, meio mansa, meio autoritária:
– Deite-se aqui, bem, e seja rápido!
Estado de Minas: 04/01/2014
Dia seguinte ao pipocar dos fogos, do estouro do champanhe e dos inevitáveis desejos de um 2014 cheio de realizações, a conversa mole de um feriado quente e preguiçoso:
– Minha filha está namorando!
– O quê? Mas ela só tem 15 aninhos…
– São os tempos, meu amigo, são os tempos…
– Ela sai com o namorado? Vai a festas?
– Vão às baladas, como se diz hoje. Às vezes, acompanhados de um dos pais. Às vezes, não.
– E como é a conversa com ela? Sobre sexo?
– Natural. Tento lembrá-la de que ainda não é hora de ter relação sexual. E está alertada sobre o uso da camisinha. A gente nunca sabe…
– No nosso tempo, nem sequer se namorava com essa idade. De sexo, nem se cogitava.
Dito isso à amiga, lembrou-se da primeira vez, da relação inicial. Ainda não tinha 15 anos e, evidentemente, não foi com namorada. Anos 1960. Acabara de chegar à capital, de mudança com a numerosa família. Juntou-se logo aos garotos daquele então afastado bairro da Região Nordeste. Futebol, matinês no cineminha da igreja (que a turma apelidara de poleiro), brincadeiras de rua (bente altas, nego fujão, bola de gude, finca) e, às escondidas, manuseio das deliciosas obras de Carlos Zéfiro (pesquise-o no Google), que ajudavam bem a saciar a inquietude sexual da molecada.
Machismo é coisa que menino cultiva até deixar de ser menino. Claro, claro, não se exaspere, não é regra geral. No dia em que completou 14 anos, o mais velho da turma, que tinha 16, passou-lhe a mão sobre o ombro e decretou:
– Chegou a sua hora!
– Que hora?
– Fez 14, não fez? Está na hora de você ver uma mulher.
– Pera aí, eu? Como?
– Arrume pelo menos 10 cruzeiros. Cinco para a mulher e o resto para a passagem e um lanche. Sábado a gente desce para a Guaicurus.
– Mas nem sei como é que se faz. E se não quiser ir?
– Aí a gente vai achar que não é homem. E o expulsamos da turma. E não se preocupe como esse negócio de saber. A mulher ensina.
– Mas e a polícia? Sei que menor de idade não pode ir à zona. E que os porteiros dos hotéis não deixam menino entrar...
– Estamos acostumados. A gente sabe driblar a polícia e enganar os porteiros. O encontro será às 19h, em frente à igreja.
– Quantos vão?
– Quatro.
Fazer o quê. Tinha quer ser macho. Tinha que provar que era macho. E foram. Combinaram assim: dois distraíam o porteiro e outros dois, fazendo cara de homem, entravam e se revezavam. Nem sempre dava certo. Naquele dia deu. O mais velho conversou com a mulher. Falou que era a primeira vez do amigo e que precisava ajudá-lo. O amigo saiu do quarto, parcamente iluminado por uma lâmpada vermelha, e o empurrou para dentro. Fechou a porta e o deixou diante da mulher seminua naquela cama cheirando a incenso. Incenso demais. Transpirando e morrendo de medo de fracassar, não a olhava diretamente. A mulher se despiu e falou, meio mansa, meio autoritária:
– Deite-se aqui, bem, e seja rápido!
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