Estado de Minas: 24/05/2014
Deu-lhe um estalo.
Era sábado, fim de tarde. Tirou a vara de pescar desmontável do fundo do
armário. Pegou a caixa com anzóis, chumbadas, linhas, canivete, alicate
e outros apetrechos. Foi à cozinha e misturou queijo, farinha de trigo e
o que mais precisaria uma boa massa para atrair a gula de peixes. Tinha
na cabeça uma pequena lagoa que vira quando fora a um povoado com um
amigo, a uns 80 quilômetros de BH, comprar uma cachaça artesanal.
Perderam-se e só depois de hora e meia, percorrendo caminhos de terra e
poeira, chegaram à casa do dono do alambique. A lagoa ficou na memória.
Vira-a do alto da estrada, cercada de mato. Devia estar abarrotada de
gordas traíras, prontas para serem fisgadas. Acordou no dia seguinte
ainda no escuro. Providenciou água, repelente, lanche, botou a tralha no
carro e tomou rumo. Ao volante, viu-se assobiando uma música de Erasmo
Carlos, que fala de domingo de sol, anzol e falta de cooperação dos
peixes. Sorriu. Hora e meia depois chegou ao acesso à estrada vicinal.
Fechou os vidros para deixar a poeira do lado de fora e dirigiu devagar, para não atropelar os buracos. Passou pelo povoado e por uma vendinha, daquelas de balcão de madeira coberto de queijos curados, sacos de mantimentos abertos no chão, à espera dos clientes, e linguiça defumada pendurada em cordões que desciam do teto. Ainda era cedo e meia dúzia ou mais de homens já estava a postos diante do balcão, bebericando em prosas diversas e beliscando queijos e nacos de linguiça. Que inveja! Rodou mais seis, oito quilômetros. Enfim, o entorno da lagoa. Deixou o carro sob uma árvore e, com a tralha a tiracolo, entrou no mato. Atravessou uma clareira, plantada de milho, quiabo e abóbora, e mais mato. Chegou à lagoa. Achou um bom lugar. Sentou-se à beira do lençol d’água, tirou as botinas de plástico e pôs os pés na água. Nada de vozes, de buzinas, de gente, violência, principalmente violência. Só o canto de pássaros. Era exatamente o que queria. Armou a vara, iscou um pedaço de massa no anzol e o lançou na água. Viu-se novamente com Erasmo Carlos. E cantarolava: “Preciso acabar logo com isso. Preciso lembrar que eu existo. Que eu existo, que eu existo...”
Estava ali, à espera de um belisco. Não pretendia levar peixe. Era fisgar e soltar. Chegou ao nível mais baixo de alienação possível. Nem sabe explicar como ouviu os arbustos se mexendo às costas. Virou-se devagar. Viu, à esquerda, uma mulher com uma foice. À direita, outra, com um machado. As lâminas brilhavam. Com certeza, afiadas. Pareciam irmãs. Morenas, baixas, saias de pano grosso abaixo dos joelhos, cabelos despenteados e blusas rotas. O olhar delas o gelou. A da esquerda falou: “É polibido (sic) pescar aqui”. Recolheu o anzol e fingiu de desentendido. “Como assim, polibido?” A da esquerda disse: “A lagoa é nossa!”. Avaliou a situação, o olhar hostil das mulheres e imaginou o fundo da lagoa cheio de cadáveres decapitados. “E por acaso tem peixe aqui?”. A da esquerda respondeu: “Não, mas é polibido pescar, e pronto!”. Elas ocupavam as duas saídas possíveis. Então, num estalo, meteu a mão no bolso, tirou a certeira e, dela, R$ 50. “Vou dar a vocês um dinheirinho pelo incômodo e vou embora”. Dito e feito. Nem se lembra de como saiu. Pegou o carro e quando atravessou povoado, teve a impressão de que toda a freguesia da vendinha o olhava com certo sarcasmo. E acelerou sem se importa com a poeira que invadia o carro pelas janelas abertas. E que o buracos se danassem.
Pergunta do Negão 1: Amigo leitor leitor quer saber “por que a polícia apreende várias toneladas de drogas na hora incineração só aparecem uma ou duas toneladas, mesmo assim só maconha; as mais caras nunca se vê?”
Pergunta do Negão: Rola na alta corte legislativa projeto para acabar com o auxílio reclusão, aquele pago às famílias dos condenados por homicídios, roubo, sequestro e outros crimes e reverter o benefício em favor das vítimas dos criminosos. O cidadão pode abrir o site da Câmara dos Deputados e opinar. E você? Apoia ou não a proposta? Ou muito antes pelo contrário?
Fechou os vidros para deixar a poeira do lado de fora e dirigiu devagar, para não atropelar os buracos. Passou pelo povoado e por uma vendinha, daquelas de balcão de madeira coberto de queijos curados, sacos de mantimentos abertos no chão, à espera dos clientes, e linguiça defumada pendurada em cordões que desciam do teto. Ainda era cedo e meia dúzia ou mais de homens já estava a postos diante do balcão, bebericando em prosas diversas e beliscando queijos e nacos de linguiça. Que inveja! Rodou mais seis, oito quilômetros. Enfim, o entorno da lagoa. Deixou o carro sob uma árvore e, com a tralha a tiracolo, entrou no mato. Atravessou uma clareira, plantada de milho, quiabo e abóbora, e mais mato. Chegou à lagoa. Achou um bom lugar. Sentou-se à beira do lençol d’água, tirou as botinas de plástico e pôs os pés na água. Nada de vozes, de buzinas, de gente, violência, principalmente violência. Só o canto de pássaros. Era exatamente o que queria. Armou a vara, iscou um pedaço de massa no anzol e o lançou na água. Viu-se novamente com Erasmo Carlos. E cantarolava: “Preciso acabar logo com isso. Preciso lembrar que eu existo. Que eu existo, que eu existo...”
Estava ali, à espera de um belisco. Não pretendia levar peixe. Era fisgar e soltar. Chegou ao nível mais baixo de alienação possível. Nem sabe explicar como ouviu os arbustos se mexendo às costas. Virou-se devagar. Viu, à esquerda, uma mulher com uma foice. À direita, outra, com um machado. As lâminas brilhavam. Com certeza, afiadas. Pareciam irmãs. Morenas, baixas, saias de pano grosso abaixo dos joelhos, cabelos despenteados e blusas rotas. O olhar delas o gelou. A da esquerda falou: “É polibido (sic) pescar aqui”. Recolheu o anzol e fingiu de desentendido. “Como assim, polibido?” A da esquerda disse: “A lagoa é nossa!”. Avaliou a situação, o olhar hostil das mulheres e imaginou o fundo da lagoa cheio de cadáveres decapitados. “E por acaso tem peixe aqui?”. A da esquerda respondeu: “Não, mas é polibido pescar, e pronto!”. Elas ocupavam as duas saídas possíveis. Então, num estalo, meteu a mão no bolso, tirou a certeira e, dela, R$ 50. “Vou dar a vocês um dinheirinho pelo incômodo e vou embora”. Dito e feito. Nem se lembra de como saiu. Pegou o carro e quando atravessou povoado, teve a impressão de que toda a freguesia da vendinha o olhava com certo sarcasmo. E acelerou sem se importa com a poeira que invadia o carro pelas janelas abertas. E que o buracos se danassem.
Pergunta do Negão 1: Amigo leitor leitor quer saber “por que a polícia apreende várias toneladas de drogas na hora incineração só aparecem uma ou duas toneladas, mesmo assim só maconha; as mais caras nunca se vê?”
Pergunta do Negão: Rola na alta corte legislativa projeto para acabar com o auxílio reclusão, aquele pago às famílias dos condenados por homicídios, roubo, sequestro e outros crimes e reverter o benefício em favor das vítimas dos criminosos. O cidadão pode abrir o site da Câmara dos Deputados e opinar. E você? Apoia ou não a proposta? Ou muito antes pelo contrário?
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