sábado, 31 de maio de 2014

Na terra dos Máicons‏ - Ana Clara Brant

Na terra dos Máicons 
 
Coletânea de perfis escritos por Ruy Castro, Os garotos do Brasil recupera a história de antigos craques e homenageia a memória dos grandes cronistas 
 
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 31/05/2014


Biógrafo de Garrincha e Nelson Rodrigues, Ruy Castro mostra que tem gente de verdade por trás da bola (Fábio Motta/AE)
Biógrafo de Garrincha e Nelson Rodrigues, Ruy Castro mostra que tem gente de verdade por trás da bola

Outro lançamento do ramo é Os garotos do Brasil – Um passeio pela alma dos craques, de Ruy Castro, que reúne textos publicados em alguns jornais e revistas nos últimos anos. Com seu estilo leve e saboroso, Ruy vai revelando o caráter, os sonhos e as motivações de alguns dos nossos maiores ídolos. Autor de uma obra-prima sobre o tema, a biografia de Garrincha, A estrela solitária, o jornalista lembra jogadores de ontem e de hoje, mas não esconde sua predileção pelos craques do passado, como Pelé – cujo primeiro apelido foi Gasolina, como conta no capítulo “Ele, Pelé – disse Edson”–, Zico, Sócrates e Heleno de Freitas, entre outros.

Uma das crônicas de destaque recorda o saudoso Bellini, o eterno capitão da Copa de 1958, que imortalizou o gesto de levantar a taça e que morreu no começo deste ano. Sua trajetória nos gramados, a fama de galã e o episódio com Mauro, que se autoescalou no grito. Sem falar na história de sua estátua, localizada na porta do Maracanã. Enquanto o corpo é do jogador, a cabeça é do cantor Francisco Alves. Isso porque o responsável pela iniciativa, o empresário Abraão Medina, teria ordenado ao escultor Matheus Fernandes que fosse assim. Uma dupla homenagem.

Em outro texto, Genealogia dos Máicons, o jornalista conta que estava assistindo a um jogo do lateral da seleção, Máicon, atualmente no Roma, e ficou refletindo como teria começado essa onda. “Fico imaginando o primeiro pai que entrou num cartório para registrar o filho como Michael e cantou o nome para o escrivão. Ou o pai o pronunciou errado e o escrivão o seguiu no erro, ou o pronunciou certo, mas o escrivão escorregou ao escrever. Enfim, ali nasceu o primeiro Máicon. Mas como terá nascido o segundo? E o terceiro, o quarto e os milhares de outros? Como não existe nenhum Máicon maior de 30 anos, imagino que o processo se deu quando o jovem Michael Jackson começava a empolgar futuras jovens mães e a fazer com que elas dessem o seu nome aos filhos”, reflete Ruy Castro.

Além dos jogadores, Ruy fala de outros craques, que usavam as palavras como quem dá um drible no adversário. Entram em cena Nelson Rodrigues – sobre quem escreveu a excelente biografia O anjo pornográfico –, com suas expressões quase míticas; e seu irmão Mario Filho, um marco na imprensa esportiva brasileira. Como lembra Ruy, “durante todos os anos 30 e pelo menos metade dos 40, Mario Filho já era uma instituição, enquanto Nelson era um virtual desconhecido. Mesmo com o estardalhaço da estreia de Vestido de noiva, em dezembro de 1943, ainda havia quem se referisse a ele como ‘irmão do Mario Filho’. Hoje, Mario é o ‘irmão do Nelson’”.

Os garotos do Brasil – Um passeio pela alma dos craques

• De Ruy Castro
• Foz Editora
• 140 páginas, R$ 36,90

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