sábado, 7 de junho de 2014

A política e as redes - Carolina Braga

A política e as redes 
 
Livro com artigos de pesquisadores do Centro de Convergência de Novas Mídias analisa as jornadas de junho de 2013 a partir da nova dinâmica da comunicação na sociedade brasileira contemporânea

Carolina Braga
Estado de Minas: 07/06/2014


As manifestações políticas se transformam imediatamente em material informativo, que circula nos diferentes suportes (Mídia Ninja/Divulgação)
As manifestações políticas se transformam imediatamente em material informativo, que circula nos diferentes suportes

Enquanto as ruas brasileiras pegaram fogo em junho do ano passado, muitos pensadores, jornalistas e acadêmicos arriscaram explicações para as manifestações difusas que tomaram o país de assalto. As tentativas foram muitas, das mais diferentes abordagens, mas poucos conseguiram de fato explicar os levantes conhecidos como Jornada de Junho. Os pesquisadores do Centro de Convergência de Novas Mídias  (CCNM) da UFMG apresentam em Ruas e Redes – Dinâmicas dos protestos BR alguns olhares. Não é uma abordagem inédita, mas traz um recorte particular.

O diferencial do trabalho é saber exatamente onde pretende chegar com as reflexões que levanta sobre como a comunicação funciona nos dias de hoje. Não é um livro sobre movimento social, suas identidades ou reivindicações, como a introdução trata de esclarecer. Sobre isso, há muitos outros no mercado. O negócio aqui são “temporalidades que explodiram em um acontecimento aparentemente único na história brasileira”, como afirma a coordenadora Regina Helena Alves da Silva também no texto de abertura.

Nesse sentido, a escolha da palavra “dinâmica” para o subtítulo da obra é acertada. Ela diz respeito ao movimento necessário a qualquer aproximação ao tema, assim como o ponto central da discussão: “A dinâmica de articulação entre as redes urbanas e as intermidiáticas nos recentes processos de mobilização política”. À sua maneira – e com múltiplas vozes –, o livro pretende problematizar a já relativa percepção que temos do tempo hoje. A comunicação não passa incólume a isso.

Como afirma a escritora argentina Beatriz Sarlo, “hoje o tempo é mais fluido”. Para os pesquisadores do CCNM, “a ideia de fluxo ligada ao tempo não pode ser vista como algo que nos arrasta em direção ao mar, e sim como um território disputado. O tempo não é matéria constante e estável; sabemos que é plural e sempre em movimento”. É por isso que em todos os artigos, de uma maneira ou de outra, há alguma mudança em questão, seja de fluxo de informação, de registro de imagens, de abordagem. Os seis capítulos tratam de aspectos diferentes, mas sempre relacionandos ao uso das mídias – ou suas respectivas dinâmicas – durante a movimentação de junho. Em todos eles há uma contextualização sobre a ocupação das ruas. É o ponto em comum para o leque de abordagens que se abre.

Em “Imagens violentas nas manifestações de 2013: multiplicidades, estética e dissenso nas narrativas em vídeos de comuns e de instituições”, por exemplo, Carlos d’Andréa e Joana Ziller se debruçam sobre as narrativas audiovisuais. Os eventos criados no Facebook para a convocação das manifestações sào o foco das pesquisadoras Geane Alzamora, Tacyana Arce e Raquel Utsch no artigo “Acontecimentos agenciados em rede – os eventos do Facebook no dispositivo protesto”.

Já a pesquisadora Sônia Caldas Pessoa parte do entendimento de “autocomunicação de massas”, defendido pelo sociólogo espanhol Manuel Castells, para falar sobre produção de conteúdo pelos cidadãos, no terceiro artigo da obra. A repercussão dos protestos no interior de Minas Gerais é o tema abordado por João Marcos Veiga em “Novas faces do interior: cidades de Minas Gerais em rede durante os protestos de junho de 2013”.  Em “Fios de política que tecem redes: a web e os intelectuais de hoje”, Valdeci da Silva Cunha se dedicou às análises publicadas em blogs e sites por nove formadores de opinião e questiona: estamos assistindo à emergência de novas formas de ser do intelectual?

“Vandalismo e política nas redes sociais: caso do Anonymous e Black Block” traz o resultado de uma observação participante e de uma análise da imprensa sobre a cobertura realizada à época, seja na mídia tradicional ou em movimentos autônomos criados naquela ocasião. Nenhum dos artigos fecha questões, já que o objetivo não era esse. Afinal, trata-se de “uma pesquisa dinâmica, que se faz em movimento e que nos tomou de assalto quando caminhávamos nas ruas dos espaços que hoje são possíveis”.



TRECHO

“Este livro entende que é fundamental discutir e problematizar a dinâmica de articulação entre as redes urbanas e as intermidiáticas nos recentes processos de mobilização política no Brasil. Entendemos que esse fenômeno é fruto de mobilização política no Brasil. Entendemos que esse fenômeno é fruto da apropriação social das ferramentas digitais e do espaço urbano que, entre outros aspectos, se caracteriza por agenciamentos múltiplos e em rede, pela sobreposição de mediações sociotécnicas e por complexificação da circulação de ideias na interface entre a internet e as ruas.”


RUAS E REDES – DINÂMICAS DOS PROTESTOS BR

• Organização de Regina Helena Alves da Silva
• Editora Autêntica
• 190 páginas

Nenhum comentário:

Postar um comentário