ARNALDO VIANA »
Manos limpias de sangre
Estado de Minas: 07/06/2014
Está escrito na
reportagem do jornalista Daniel Camargos no caderno Superesportes deste
jornal que daqui a uma semana mais de 3 mil chilenos estarão a caminho
do Brasil. A galera vem em carros de passeio, ônibus, motocicletas,
motorhomes e, possivelmente, até em triciclo, quadriciclo, patinete
motorizada, fazendo fumaça estrada afora. Vai soltar os freios na
descida do Andes, atravessar a Argentina e, já em território brasileiro,
cortar os dois Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, antes de entrar em
Rio e São Paulo. A ideia da caravana chilena, que viajará em fila
indiana, formando comboio de 10 quilômetros nas rodovias, é pernoitar em
BH. Mas onde instalar tanta gente, mesmo que por uma noite? Bom, isso a
prefeitura já resolveu.
O Chile tem parada dura na Copa. Pega Espanha, Holanda e Austrália. A hincha chilena não quer nem saber de dificuldade em campo. Vai cortar chão gritando “Viva Chile!” e “Olê, olê, hola, el Sánchez va botar para quebrar”. Alexis Sánchez é goleador chileno a serviço do Barcelona. Bons tempos aqueles em que os conterrâneos de Pablo Neruda gritavam “Viva Caszely”, “Adelante, Caszely, el rey del metro cuadrado”. O cara em questão, hoje com 63 anos, foi um dos mais talentosos jogadores da história do futebol chileno e, como Reinaldo, o Rei do Galo, precisava apenas do espaço de um lenço para desmoralizar defesas e achar o rumo do gol. Foi o primeiro jogador de futebol expulso de campo em jogo da Copa do Mundo pelo cartão vermelho. Foi em 1974, na Alemanha, quando a Fifa autorizou o uso dos cartões de advertência e de exclusão em suas competições.
Interessante esse Caszely. Formou-se craque nas divisões de base do Colo-Colo e logo se tornou ídolo da torcida do time de uniforme preto e branco, com vermelho nas meias. Em 1973, ano em que se tornou o único jogador chileno artilheiro da Copa Libertadores, o general Augusto Pinochet, para satisfazer a inveja que tinha dos militares brasileiros de 1964, deu uma rasteira de direita no marxista Salvador Allende e tomou o poder. Pinochet tinha a crueldade nos olhos sombreados sob a pala do quepe. Mandou trucidar chilenos e jovens de outras nações, inclusive brasileiros, no Estádio Nacional de Santiago, templo das jogadas antológicas de Caszely. Fez milhares de cadáveres descerem o Rio Mapocho rumo ao desaparecimento. O ídolo Caszely tinha o povo no coração e recusou, um dia, apertar as mãos sujas de sangue do sanguinário Pinochet.
A história não registra se Carlos Caszely tinha noção da anaconda com a qual estava se metendo. Como não podia hostilizar abertamente o jogador, com medo de recrudescimento das reações populares contra o regime de exceção que impôs ao Chile, o ditador usou de subterfúgios para se livrar do craque. Da noite para o dia, sem direito a contestar, o jogador viu-se negociado com um clube do futebol europeu. E, de longe, amargou a notícia de que a mãe sofreu tortura física e psicológica nos porões do general. Caszely, único jogador de futebol a negar as mãos limpas às ensanguentadas de um dos abomináveis homens que usurparam direitos legítimos de cidadãos da América Latina.
Em 1986, na segunda Copa organizada pelo México, o Negão aí de baixo esteve com Caszely. Ele acompanhava, com discrição, um treino da Seleção Brasileira, já na condição de comentarista esportivo. Não quis entrar em detalhes sobre a perseguição, porque Pinochet ainda estava em cima da cadeira presidencial e poderia haver mais represália. Caszely bem que merecia versos de Neruda, mas o poeta morreu exatamente no ano do golpe, talvez para não ver seu povo castigado pela truculência. Em honra ao craque, bem-vinda, galera chilena. E que BH a acomode com conforto e segurança. Aliás, BH delegou essa missão a Santa Luzia. A hincha chilena vai ficar acampada no Mega Space. E que “venga” também Caszely, por que não?
Pergunta do Negão 1 – A maioria dos brasileiros aprova e aplaude o ministro Joaquim Barbosa, que ascendeu na carreira por méritos e a exerceu com honra. Entre a minoria que faz restrições à atuação do mineiro de Paracatu estão as duas grandes associações de magistrados do país. Isso não é preocupante?
Pergunta do Negão 2 – A Fifa proibiu tudo. Será que a gente vai pelo menos poder torcer?
O Chile tem parada dura na Copa. Pega Espanha, Holanda e Austrália. A hincha chilena não quer nem saber de dificuldade em campo. Vai cortar chão gritando “Viva Chile!” e “Olê, olê, hola, el Sánchez va botar para quebrar”. Alexis Sánchez é goleador chileno a serviço do Barcelona. Bons tempos aqueles em que os conterrâneos de Pablo Neruda gritavam “Viva Caszely”, “Adelante, Caszely, el rey del metro cuadrado”. O cara em questão, hoje com 63 anos, foi um dos mais talentosos jogadores da história do futebol chileno e, como Reinaldo, o Rei do Galo, precisava apenas do espaço de um lenço para desmoralizar defesas e achar o rumo do gol. Foi o primeiro jogador de futebol expulso de campo em jogo da Copa do Mundo pelo cartão vermelho. Foi em 1974, na Alemanha, quando a Fifa autorizou o uso dos cartões de advertência e de exclusão em suas competições.
Interessante esse Caszely. Formou-se craque nas divisões de base do Colo-Colo e logo se tornou ídolo da torcida do time de uniforme preto e branco, com vermelho nas meias. Em 1973, ano em que se tornou o único jogador chileno artilheiro da Copa Libertadores, o general Augusto Pinochet, para satisfazer a inveja que tinha dos militares brasileiros de 1964, deu uma rasteira de direita no marxista Salvador Allende e tomou o poder. Pinochet tinha a crueldade nos olhos sombreados sob a pala do quepe. Mandou trucidar chilenos e jovens de outras nações, inclusive brasileiros, no Estádio Nacional de Santiago, templo das jogadas antológicas de Caszely. Fez milhares de cadáveres descerem o Rio Mapocho rumo ao desaparecimento. O ídolo Caszely tinha o povo no coração e recusou, um dia, apertar as mãos sujas de sangue do sanguinário Pinochet.
A história não registra se Carlos Caszely tinha noção da anaconda com a qual estava se metendo. Como não podia hostilizar abertamente o jogador, com medo de recrudescimento das reações populares contra o regime de exceção que impôs ao Chile, o ditador usou de subterfúgios para se livrar do craque. Da noite para o dia, sem direito a contestar, o jogador viu-se negociado com um clube do futebol europeu. E, de longe, amargou a notícia de que a mãe sofreu tortura física e psicológica nos porões do general. Caszely, único jogador de futebol a negar as mãos limpas às ensanguentadas de um dos abomináveis homens que usurparam direitos legítimos de cidadãos da América Latina.
Em 1986, na segunda Copa organizada pelo México, o Negão aí de baixo esteve com Caszely. Ele acompanhava, com discrição, um treino da Seleção Brasileira, já na condição de comentarista esportivo. Não quis entrar em detalhes sobre a perseguição, porque Pinochet ainda estava em cima da cadeira presidencial e poderia haver mais represália. Caszely bem que merecia versos de Neruda, mas o poeta morreu exatamente no ano do golpe, talvez para não ver seu povo castigado pela truculência. Em honra ao craque, bem-vinda, galera chilena. E que BH a acomode com conforto e segurança. Aliás, BH delegou essa missão a Santa Luzia. A hincha chilena vai ficar acampada no Mega Space. E que “venga” também Caszely, por que não?
Pergunta do Negão 1 – A maioria dos brasileiros aprova e aplaude o ministro Joaquim Barbosa, que ascendeu na carreira por méritos e a exerceu com honra. Entre a minoria que faz restrições à atuação do mineiro de Paracatu estão as duas grandes associações de magistrados do país. Isso não é preocupante?
Pergunta do Negão 2 – A Fifa proibiu tudo. Será que a gente vai pelo menos poder torcer?
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