quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Nada de ficar parado


Pessoas que fazem atividades físicas, sentadas por mais de quatro horas ininterruptas, correm o mesmo risco de doenças dos sedentários, além de ganho de peso e edemas nas pernas 

Vanessa Jacinto
Publicação: 31/10/2012 04:00

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), bastam 20 minutos diários de atividade física suficientemente intensa para promover cansaço para que a pessoa não seja considerada sedentária e saia do grupo de risco para uma série de doenças. Pesquisas recentes, contudo, vão além. Mesmo que você seja um atleta, se passar mais de quatro horas ininterruptas sentado está automaticamente no grupo de risco para todas as causas de mortalidade. Sim! Segundo pesquisa australiana publicada recentemente no periódico Archives of Internal Medicine, ficar sentado por muito tempo pode levar à morte mais cedo e o risco cresce na medida em que aumenta o tempo colado à cadeira.
De acordo com os resultados obtidos a partir do estudo, ficar sentado mais de seis horas por dia pode aumentar em 40% as chances de morrer nos próximos 15 anos; elevando-se o tempo para 11 horas, passa-se a ter o dobro de risco de morte num período bem menor: três anos.
Em outro estudo, também australiano, concluiu-se que os que passam a maior parte do dia na cadeira ou no sofá têm 54% mais risco de morrer de ataques cardíacos. Tal resultado foi obtido a partir de uma análise dos estilos de vida de mais de 17 mil pessoas de ambos os sexos e com mais de 13 anos. Ainda segundo o artigo, a estatística continuava válida mesmo que os participantes não fossem fumantes ou fizessem exercícios regulares.
Mas, se as atividades inerentes ao homem moderno – trabalhar no escritório, navegar na internet, jogar videogame, assistir à televisão, entre outros – acabam por “exigir” que ele fique tanto tempo sentado. O que fazer então para resolver a questão? O médico nutrólogo Nataniel Viuniski, membro do Conselho para Assuntos Nutricionais da Herbalife, que integrou o 16º Congresso Brasileiro de Nutrologia, afirma que programas de saúde pública devem se concentrar na redução do tempo que as pessoas ficam sentadas, além de estimular e proporcionar oportunidades para que os indivíduos aumentem o nível de atividade física.
Da forma que está é que não pode ficar. Os atuais modos de vida são responsáveis pela metade dos casos de morte por acidentes vasculares cerebrais e por mais de um terço dos fatores determinantes de câncer.
Segundo Cristiano Lino, professor de educação física e doutorando em ciências do esporte no Departamento de Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de Minas Gerais, o excesso de horas sentado é de fato um problema grave. Além dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dorts), que incluem patologias como mialgias, tendinites, bursites e outras, os longos períodos colado à cadeira prejudicam a coluna, favorecem o ganho de peso e comprometem o fluxo sanguíneo, predispondo o indivíduo a uma série de problemas cardiovasculares.
Ele explica que,  sentado, o indivíduo não contrai os músculos da panturrilha. E é justamente essa contração que impulsiona o sangue de volta para o coração. “Quando a pessoa fica muito tempo sentada, o retorno do sangue fica dificultado e o coração precisa aumentar a frequência cardíaca para fazer a compensação. Além disso, o sangue parado pode gerar,  edemas nos membros inferiores.”
Viuniski lembra que o problema não atinge apenas os trabalhadores. Por lazer ou hobby as pessoas acabam ficando muito tempo diante do computador ou da televisão. O ideal é que elas se mexam mais e fiquem menos tempo sentadas. Se não for possível, o indicado é, no trabalho, diminuir as horas na cadeira: a cada uma hora, devem se levantar e fazer alongamentos e pequenas caminhadas no próprio espaço do trabalho (ver dicas).
 Para os especialistas, embora todas as pessoas reclamem da falta de tempo, não há desculpas para não se exercitar. A meta da Organização Mundial de Saúde pode ser alcançada com uma caminhada rápida, o deslocamento para o trabalho ou para a escola. Até durante as atividades domésticas é possível se exercitar. E vale a pena. Os estudos indicam que o exercício físico tem efeitos agudos imediatos no organismo, como a redução da pressão arterial, que tende a se manter mais baixa durante um período entre 12h e 24h, e redução dos níveis de glicose. Como efeito crônico, pode-se citar a redução do risco de morte por doenças cardiovasculares, diminuição do risco de desenvolvimento de uma série de doenças crônicas e a melhora de toda a fisiologia. Há, sem dúvida, alterações sociais muito importantes, mesmo quando o exercício é feito individualmente. Os adeptos da atividade física melhoram a autopercepção da imagem, a autoestima. Com isso, há muito mais facilidade de se relacionar.
Embora a caminhada seja o exercício mais fácil e seguro e um dos mais democráticos, existem outras formas de se mexer para atingir a meta da OMS de fazer pelo menos 20 minutos de atividade física suficientemente intensa para promover cansaço. 
O lazer é uma delas. O ideal é sair para dançar, pedalar no parque ou na praça. Durante os principais deslocamentos, como para ir à escola, ao trabalho ou à padaria, vá a pé. Varrer e passar pano, puxar água, catar folhas. O importante é fazer a tarefa continuamente. Em vez de varrer só um cômodo e parar, varra a casa toda e, depois, passe o pano de uma só vez.
Quem se exercita, independentemente da forma escolhida, só tem a ganhar. Segundo Nataniel Viuniski, somente a prática de atividade física, aliada à boa alimentação, poderá colocar freio no avanço das epidemias de obesidade e de doenças crônico-degenerativas. Ele acrescenta que estudos feitos em todo o mundo apontam a relação direta e favorável entre o nível de aptidão física, o grau de atividade física praticada e a saúde, evitando o surgimento de males como doenças coronarianas, hipertensão, AVC, cânceres, diabetes tipo 2, obesidade, ansiedade e depressão.
Para quem nunca praticou atividade física e deseja começar, uma dica importante é escolher bem a modalidade e ir devagar. A escolha certa vai interferir diretamente na adesão e vai aumentar a possibilidade de que o exercício realmente se transforme num hábito de vida.
Seria interessante incluir a variabilidade na escolha (praticar mais de um tipo de atividade), assim como é importante associar o trabalho aeróbico com o trabalho de força e o de flexibilidade, formando um programa completo em termos de promoção da saúde. “Mas o que deve ser ressaltado é o investimento contínuo no futuro em que as pessoas devem buscar formas de se tornarem mais ativas em suas rotinas diárias. A palavra de ordem é movimento”, completa Viuniski.

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