quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Bactérias do intestino produzem "antibiótico" natural, diz estudo


Brasileiro identificou substância que detém Salmonella ao estudar extrato de fezes humanas

Para especialistas, fauna intestinal pode guardar recursos preciosos para reforçar a saúde do organismo
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”

Os micróbios que povoam naturalmente o intestino humano podem guardar o segredo para uma nova geração de antibióticos, sugerem experimentos feitos por um cientista brasileiro no Canadá.
Luis Caetano Antunes, que faz seu pós-doutorado na Universidade da Colúmbia Britânica, conseguiu demonstrar que certos micro-organismos da flora intestinal produzem substâncias que inibem a ação da bactéria Salmonella enterica.
A Salmonella, é bom lembrar, pode produzir uma desagradável diarreia -ou, no pior cenário, desencadear a chamada febre tifoide, que muitas vezes é fatal.
Antunes e seus colegas chegaram às moléculas capazes de deter o micróbio tentando entender o complexo ecossistema em miniatura que existe no trato intestinal dos seres humanos, composto por milhares de espécies e trilhões de células microbianas.
Já havia várias pistas de que essa diversidade toda ajuda a modular, por exemplo, a absorção de nutrientes. E, como se trata de uma comunidade de micróbios adaptados ao corpo humano, faz sentido que produzam substâncias para barrar invasores, por exemplo.
Foi o que o microbiologista brasileiro descobriu ao "tratar" uma cultura de Salmonella com um extrato obtido de fezes humanas. O preparado inibiu a atividade de genes que a bactéria emprega durante a invasão do organismo, por exemplo.
Ficou claro que eram micróbios presentes nas fezes os responsáveis por esse feito, porque o extrato fecal de camundongos que tinham tomado antibióticos não desencadeava o mesmo efeito.
Com a ajuda de uma série de técnicas, incluindo até o chamado "Robogut" -um aparelho que simula o funcionamento de um intestino real, criado por pesquisadores da Universidade de Guelph, também no Canadá-, foi possível demonstrar que os micro-organismos "do bem" eram do gênero Clostridium, já conhecidos dos cientistas.
Antunes e seus colegas conseguiram até identificar, em meio a uma "biblioteca" de moléculas já disponíveis comercialmente, substâncias provavelmente análogas às produzidas pelos micróbios.
Uma das vantagens dessas moléculas, afirma o microbiologista, seria diminuir o risco de produzir bactérias resistentes ao tratamento.
"Os antibióticos disponíveis hoje matam as bactérias suscetíveis e acabam selecionando as resistentes. Já um antibiótico seguindo a nossa lógica apenas inibiria a virulência da Salmonella", diz.
A pesquisa foi apresentada durante o 58º Congresso Brasileiro de Genética.

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