Bruna Sensêve
Estado de Minas: 21/11/2012
Um novo recorde de concentração de gases de efeito estufa foi registrado em 2011. Os dados divulgados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) ontem, em Genebra, na Suíça, mostram que a concentração de dióxido de carbono no mundo chegou a 390 partes por milhão (ppm) no ano passado, 40% a mais que na época pré-industrial, quando o índice era de 280ppm. O aumento do volume de CO2 e outros gases retentores de calor dispersos na atmosfera, entre 1990 e 2011, tiveram como consequência o incremento de 30% no efeito de aquecimento climático do planeta. Desde o início da era industrial, em 1750, cerca de 375 bilhões de toneladas de carbono foram liberados na forma de CO2 , principalmente pela queima de combustíveis fósseis e por mudanças no uso da terra, como o desmatamento de florestas tropicais..
No ano passado, foi registrado um aumento na atmosfera de 2,0ppm somente de CO2 , concentração essa que já havia aumentado em 2,3ppm no ano anterior. A taxa é superior à média registrada nos anos 1990 (1,5ppm), mas mantêm os níveis alcançados na última década, quase 3ppm por ano. “Esses bilhões de toneladas de CO2 adicionais em nossa atmosfera permanecerão durante séculos e aquecerão ainda mais nosso planeta. Isso terá repercussões em todos os aspectos de vida na Terra”, afirma o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.
O documento divulgado pela OMM, denominado Boletim sobre gases de efeito estufa, adverte ainda que a capacidade do planeta de armazenar carbono pode diminuir nos próximos anos. Até hoje, cerca de metade do CO2 lançado na atmosfera pelas atividades humanas foi absorvido por “poços”, como mares e florestas. Alguns desses retentores, como os oceanos profundos, conseguem manter os gases presos por milhares de anos, um período muito mais longo que o das florestas mais novas. No entanto, os oceanos tendem a se acidificar com esse processo, o que pode levar a importantes repercussões na cadeia alimentar e nos arrecifes de coral. “Há muitas interações adicionais entre gases de efeito estufa, a biosfera da Terra e dos oceanos, e precisamos aumentar a nossa capacidade de monitoramento e do conhecimento científico, a fim de entendê-los melhor”, ressalta Jarraud.
Para Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), os dados devem ser encarados principalmente como um importante alerta de que as concentrações de gases que provocam o aquecimento global continuam a aumentar muito rapidamente. “São aumentos anuais de 2% de dióxido de carbono e 4% de metano. Isso é extremamente significativo, o que mostra a necessidade da redução de emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível”, afirma.
Artaxo lembra que o efeito do carbono emitido hoje tem reflexos nos próximos 10 ou 20 anos. “Não é um resultado imediato, mas cumulativo. Isso mostra mais uma vez a necessidade de mais rapidamente e fortemente reduzirmos a emissão para termos uma redução do aumento da temperatura mais eficiente.” O especialista considera que o aumento vertiginoso destaca a falta de uma estratégia global para enfrentar o problema. Ele cita a próxima Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-18) como uma nova oportunidade para traçar um plano mais ambicioso de redução de emissão de gases que aquele acordado na Rio+20 deste ano.
Coadjuvantes perigosos O gás carbônico é considerado o mais importante dos gases de efeito estufa de longa vida, assim chamado porque aprisiona a radiação dentro da atmosfera da Terra, causando o aquecimento (veja infografia). Outros compostos que favorecem a elevação da temperatura terrestre são o metano (CH4 ) e o óxido nitroso (N2O), que também alcançaram novos picos em 2011, de acordo com o boletim da OMM. Enquanto a concentração de metano na atmosfera chegou a 1.813 partes por bilhão (ppb) — crescimento de 259% em relação ao nível da era pré-industrial —, o de óxido nitroso foi a 324,2ppb — 120% maior que em 1750.
De acordo com a OMM, a concentração de CH4 encontrava-se estável até iniciar um crescimento a partir de 2007. Cerca de 40% do metano é emitido para a atmosfera por fontes naturais. Os outros 60% provêm de atividades como pecuária, cultivo de arroz, exploração de combustíveis fósseis, aterros e queima de biomassa. O crescimento dos índices de N2O também preocupam. Em 100 anos, a OMM prevê que o impacto do óxido nitroso no clima seja 298 vezes superior ao do CO2, a emissões iguais. Cerca de 60% das fontes de N2O são naturais e aproximadamente 40% têm origem antrópica, incluindo os oceanos, os solos, a combustão de biomassa e os adubos. O gás desempenha um papel importante na destruição da camada de ozônio que protege o planeta dos raios ultravioletas emitidos pelo Sol.
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