quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mais perto da erradicação da Aids - Max Milliano Melo‏

Circulação do HIV entre as pessoas está mais difícil. Para especialistas, doença poderá estar controlada em 2015 

Max Milliano Melo
Estado de Minas: 21/11/2012

O Relatório Mundial da Aids, divulgado ontem em Genebra, e o Informe Epidemiológico, disponibilizado no mesmo dia em Brasília pelo Ministério da Saúde, trazem boas notícias. O Brasil e o restante do mundo estão mais próximos de erradicar o HIV. Tanto em escala nacional quanto mundial, os números de novos casos caíram. As mortes pelo mal também desaceleraram e as pessoas com Aids vivem cada vez mais. A junção desses fatores deixa o planeta cada vez mais perto de erradicar o vírus da síndrome de imunodeficiência adquirida. As boas novas vieram, contudo, acompanhadas de alertas. Para a tendência de controle ganhar força e crescer, será necessário ampliar o aceso a testes e dar mais atenção às populações vulneráveis, como gestantes, crianças, profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens. No Brasil, um dado ainda assusta: cerca de 25% das pessoas contaminadas não sabem que têm o vírus.


Segundo o documento do Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids), 2011 foi o quinto ano seguido em que o número de mortes pela síndrome caiu. Cem mil pessoas a menos sucumbiram por problemas relacionados à Aids em comparação a 2010. Depois de se estabilizar, a quantidade de novas infecções também diminuiu. Cerca de 2,5 milhões de pessoas adquiriram a doença em 2011, contra 2,6 milhões no ano anterior. 

O número de pessoas vivendo com o vírus da imunodeficiência humana vem aumentando ano a ano na última década. Cerca de 29,7 milhões de pessoas tinham Aids em 2001. No ano passado, esse número pulou para 34 milhões. Curiosamente, esste aumento é comemorado pelos especialistas. Como os novos casos se estabilizaram e lentamente começaram a cair, o aumento do número de pessoas com HIV se deve a uma melhora na condição de vida de quem tem a doença. Os soropositivos estão vivendo mais e ter Aids deixou de ser sinônimo de morte. 

Os resultados já fazem o Unaids, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), sonhar com o fim da doença. “O ritmo do progresso é acelerado, o que costumava levar uma década agora está sendo alcançado em 24 meses”, disse Michel Sidibé, diretor- executivo do Unaids. “Estamos  avançando contra a doença mais rápido e de maneira mais inteligente do que nunca. É a prova de que, com vontade política, podemos alcançar nossos objetivos compartilhados em 2015.”
Os objetivos a que ele se refere foram sacramentados na Reunião de Alto Nível sobre HIV/Aids realizada em junho do ano passado na sede da ONU, em Nova York (EUA). No documento gerado no encontro, os países se comprometem a controlar a doença nos próximos cinco anos. Para tal, seria necessário zerar as novas contaminações, acabar com o preconceito e com as mortes em função da Aids. 

“O progresso é irregular. Desde 2001, o número de pessoas que contraíram o HIV no Oriente Médio e na África Setentrional aumentou mais de 35%. Na Europa Oriental e na Ásia Central também foi registrado um aumento de infecções pelo vírus nos últimos anos”, ressalta o documento.

Desafios localizados Embora seja uma epidemia global, os desafios das nações são bastante diferentes. Países da Europa e da América do Norte têm diante de si a tarefa de ampliar o acesso ao tratamento de seus doentes. A Europa Oriental e os países da Ásia Central precisam ampliar o acesso de seus cidadãos ao tratamento. Por lá, apenas 25% dos soropositivos têm acesso a remédios, número que contrasta com o acesso cada vez maior nas regiões pobres, como África Subsaariana e a América Latina, onde o tratamento está disponível para 56% e 68% dos infectados, respectivamente. Em outras regiões do globo, como a África, o desafio é combater o preconceito e diminuir os novos casos. 

Sobre o Brasil, o relatório da Unaids ressalta o sucesso da política de popularização do tratamento e as estratégias para enfrentamento da tuberculose, mal associado à Aids. A capacidade de o país autofinanciar as estratégias de controle do vírus também foi ressaltada entre as mais positivas do planeta. 
Por outro lado, o relatório inclui o Brasil no grupo dos países que vão mal principalmente em quesitos relacionados à universalização da testagem, uma das estratégias essenciais para controle do mal desde que pesquisas mostraram que quando um paciente recebe tratamento, ele tem 97% menos chance de transmitir a doença mesmo quando não faz sexo seguro.

No Brasil, 135 mil não sabem que têm a doença

Anna Beatriz Lisbôa

Estima-se que existam cerca de 530 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV no Brasil. Desse total, 135 mil, ou 25,4%, não sabem que estão contaminadas. As informações foram divulgadas ontem pelo Ministério da Saúde, que também lançou campanha para o diagnóstico e o tratamento da doença. O boletim mostra redução de 12% no coeficiente de mortalidade: a taxa de óbitos passou de 6,3 pessoas por 100 mil habitantes em 2000 para 5,6 em 2011.

O ministro Alexandre Padilha, no entanto, chamou atenção para o crescimento da Aids entre homens de 15 a 24 anos que fazem sexo com homens, alvo da campanha deste ano. Esse grupo já representa pelo menos 50% dos 38,8 mil casos da doença registrados no país em 2011. “Estamos convencidos de que existe uma geração de brasileiros que não foi sensibilizada pelo início da luta contra a Aids ou acompanhou ídolos que enfrentaram a doença quando a terapia não era tão eficaz” analisou. 

De acordo com o Informe Epidemiológico, a doença atinge 0,42% da população geral, sendo a incidência de 0,52% na população masculina e de 0,31% na feminina. Duzentos e dezessete mil brasileiros infectados estão em tratamento. Desses, 72,4% têm carga viral indetectável, resultado conquistado geralmente após seis meses de tratamento. Padilha destacou o desafio de minimizar os efeitos colaterais resultantes da assistência antirretroviral contínua. “Isso significa reorganizarmos o perfil do serviço de atenção à Aids para lidar com doenças cardiovasculares e os demais efeitos colaterais do tratamento.” Outro obstáculo a ser superado é o avanço da doença nas regiões Norte e Nordeste, onde a taxa de incidência por grupo de 100 mil habitantes em 2011 foi de 20,8 e 13,9, respectivamente. 

“Os dados mostram o esforço que precisamos fazer nesses locais para ampliar o acesso à testagem e melhorar a qualidade dos serviços para quem vive com HIV”, defendeu. O Rio Grande do Sul é o estado que apresenta a maior incidência da doença: 40,2 por 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional.
Professor de infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Luciano Zubaran Goldani ressalta a importância de regionalizar as ações públicas de combate à doença. "Não se pode fazer campanhas como se todas as regiões do Brasil fossem iguais. É preciso falar a mesma língua dos grupos mais vulneráveis."

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