Ana Clara Brant
ESTADO DE MINAS : 03/11/2012
"A história encanta por envolver amor, lealdade, sentimentos nobres e a preocupação com a questão ambiental%u201D - Marcelo Branco, diretor |
O curta narra a saga de uma ararinha-azul à espera do noivo capturado. Um garoto misterioso, fã de futebol, convence seu time a protegê-la. Entre os personagens há um ecologista dedicado às voltas com caçadores ambiciosos. A trama reúne magia e mitologias grega e indígena.
“Marcelo foi muito fiel à história original. Ele chegou até a observar araras no zoológico e pela internet para aprender como elas se locomovem. Acho que o público vai gostar muito do filme, assim como ocorreu com o livro e a peça, pois separação e amor são temas que comovem as pessoas. Quando a peça estreou, há uns 15 anos, muita gente chorava na plateia”, afirma Angelo Machado.
O casamento da ararinha-azul é o primeiro livro do professor adaptado para as telas. Marcelo Branco o conheceu por meio da mulher, ex-aluna do autor. “Isso ocorreu em 2007. Foram cinco anos até a gente chegar ao resultado final, captar recursos e conseguir patrocinador. A maioria de meus filmes, especialmente animações voltadas para crianças e jovens, tem compromisso com mensagens educativas. Ararinha... casa muito bem com essa proposta. A didática é sutil, uma forma leve de ensinar – característica do professor Angelo. Além disso, a história encanta por envolver amor, lealdade, sentimentos nobres e a preocupação com a questão ambiental”, ressalta Marcelo, que chegou a criar 5 mil desenhos para o curta.
Para Conceição Na semana passada, ao lado da família, Angelo Machado assistiu pela primeira vez à animação. O professor revela um detalhe curioso: 80% do filme já estavam prontos quando ele sugeriu ao cineasta uma canção para a trilha sonora. A inédita Não sei viver sem seu amor foi composta pelo professor em homenagem à mulher, dona Conceição, falecida em 2007. A música se encaixou perfeitamente na história da ararinha que perde seu amor, o Ararinho.
“O filme ficou muito bacana. A ave tem até sotaque baiano, porque a história se passa no interior daquele estado. Gosto mais da parte em que os pretendentes cortejam a ararinha. Um deles canta desafio nordestino para conquistá-la. É benfeito e divertido”, elogia Machado.
Viabilizada por meio da Lei Rouanet, a animação conta com incentivo cultural do Instituto Unimed Belo Horizonte e da MRS Logística S/A. O lançamento está previsto para dezembro, em Belo Horizonte. Este mês, três mil DVDS, com legendas em inglês e português, serão distribuídos para escolas e instituições.
“Fizemos uma pré-estreia em algumas escolas de Uberlândia, para cerca de 700 pessoas. Todas gostaram muito. Já estamos em contato com a TV Brasil e o Canal Futura para exibi-lo nessas emissoras. Todo mundo, independentemente da idade, vai aprovar essa animação”, conclui Marcelo Branco.
Saiba mais
Cyanopsitta spixii
A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) é ave tipicamente brasileira. Ela foi considerada extinta em maio de 2003, pelo Ministério do Meio Ambiente. Atualmente, há cerca de 60 indivíduos em cativeiro em vários países, local onde eles conseguem se reproduzir. Um grupo de estudos desenvolve esforços internacionais para a recuperação da espécie, sob coordenação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os efeitos positivos do envolvimento da população, estimulado pelo Projeto Ararinha-Azul, em Curaçá (BA), são fundamentais. Ao mesmo tempo em que se busca o aumento da população em cativeiro, conserva-se o habitat específico, visando a futuras reintroduções.
Palavra de especialista
Angelo Machado - Escritor e cientista
Drama na caatinga
A história da ararinha-azul narrada neste filme se inspirou na realidade. Na caatinga do sertão baiano, perto da cidade de Curaçá, vivia um casal de ararinhas-azuis, os últimos exemplares dessa espécie. Em dezembro de 1987, a fêmea (em nossa história, o macho) foi capturada por caçadores e desapareceu.
Sozinho, o macho passou a viver com um bando de araras-maracanãs, pois as araras são aves essencialmente sociais. Por ser o último indivíduo da espécie na natureza, a preservação da ararinha de Curaçá foi considerada muito importante. Por isso, em vez de capturá-lo e tentar o seu cruzamento com fêmeas em cativeiro, os especialistas do Projeto Ararinha-Azul decidiram fazer o contrário: soltar uma dessas fêmeas perto do macho solitário, na esperança de obter cruzamentos e de que ele passe seus conhecimentos de sobrevivência na caatinga à nova fêmea e aos descendentes.
Com esse objetivo, uma fêmea em cativeiro foi levada a Curaçá, esteve durante vários meses em um grande viveiro dentro da caatinga, adaptando-se à região e, finalmente, foi solta na área onde vivia o macho solitário. Entretanto, depois de um rápido encontro, inexplicavelmente a fêmea desapareceu.
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