Nesta semana, suas duas editoras mais antigas anunciaram saída de cargos
Casa editorial busca se tornar mais competitiva em áreas nas quais não atuava tradicionalmente
RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA
O desligamento de duas editoras veteranas da Companhia das Letras, anunciado nesta semana, é simbólico da mudança de perfil por que passa a empresa criada há 26 anos por Luiz Schwarcz.
A diretora editorial Maria Emília Bender, 57, e a editora Marta Garcia, 48, deixaram, após mais de 20 anos, a editora que ajudaram a tornar uma das principais do país.
Bender já havia vendido sua participação minoritária em 2011, quando a inglesa Penguin (que, também nesta semana, anunciou fusão com o gigante Random House) comprou 45% das ações.
Em nota, a Companhia das Letras informou que ambas "optaram por novos caminhos profissionais" e apontou reestruturação no departamento editorial, com destaque para a passagem do editor-sênior Otávio Marques da Costa, 31, a "publisher" do selo Companhia das Letras.
Garcia e Bender dizem ainda não ter planos. A primeira fica até dezembro na editora; a segunda, até março. Internamente, ambas vinham demonstrando desconforto com as novas diretrizes da Companhia, focadas na expansão.
A decisão de Garcia, na semana passada, levou a Companhia a anunciar também a saída de Bender. Semanas atrás, quando Schwarcz já planejava promover Otávio Marques a "publisher", ela recusara proposta para assumir outra posição na editora.
"A Companhia passa por transformações que não atendem à minha expectativa de editora de texto, meu interesse maior no trabalho com os livros", disse Bender à Folha.
Conhecida pelo perfil familiar, muito centrado na figura de Luiz Schwarcz, a Companhia das Letras se firmou no mercado pela qualidade do catálogo e pelas edições cuidadosas, com editores dedicados totalmente ao texto.
Na nova estrutura, similar à da Penguin, o editor tem uma participação mais "global na vida do livro", como diz Schwarcz, envolvendo-se desde a contratação de obras até o trabalho de marketing.
Com editores que são, assim, "donos" dos livros, a edição de texto fica mais a cargo da recém-criada editoria de produção, que quer treinar colaboradores externos.
No mesmo período em que contratou nomes como Leandro Sarmatz e Flávio Moura como editores-sênior de obras literárias e de perfil mais acadêmico, a casa investiu em selos para crescer no mercado e em escolas.
Lançou em abril o popular Paralela, sob os cuidados do "publisher" Matinas Suzuki, e em setembro o selo Seguinte, juvenil, e o Boa Companhia, de antologias com potencial para adoção escolar, estes agora a cargo da "publisher" Júlia Schwarcz, que já cuidava dos selos Companhia das Letrinhas e Claro Enigma.
Em 2013, Matinas lançará o selo Portfólio, voltado a negócios, política e economia, filão que nos EUA se destaca nas listas de mais vendidos.
Para Marques, as mudanças não impactarão os atuais leitores; apenas trarão novos: "É uma reestruturação para melhorar processos internos. A expectativa é ganhar eficiência e rentabilidade".
Segundo Schwarcz, as vendas em livrarias cresceram 20% em relação a 2011, mas, com menos compras do governo, a expansão da empresa deve fechar o ano em 10%.
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