sábado, 3 de novembro de 2012

Companhia das Letras muda rumos para crescer no mercado


Nesta semana, suas duas editoras mais antigas anunciaram saída de cargos

Casa editorial busca se tornar mais competitiva em áreas nas quais não atuava tradicionalmente
RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA

O desligamento de duas editoras veteranas da Companhia das Letras, anunciado nesta semana, é simbólico da mudança de perfil por que passa a empresa criada há 26 anos por Luiz Schwarcz.
A diretora editorial Maria Emília Bender, 57, e a editora Marta Garcia, 48, deixaram, após mais de 20 anos, a editora que ajudaram a tornar uma das principais do país.
Bender já havia vendido sua participação minoritária em 2011, quando a inglesa Penguin (que, também nesta semana, anunciou fusão com o gigante Random House) comprou 45% das ações.
Em nota, a Companhia das Letras informou que ambas "optaram por novos caminhos profissionais" e apontou reestruturação no departamento editorial, com destaque para a passagem do editor-sênior Otávio Marques da Costa, 31, a "publisher" do selo Companhia das Letras.
Garcia e Bender dizem ainda não ter planos. A primeira fica até dezembro na editora; a segunda, até março. Internamente, ambas vinham demonstrando desconforto com as novas diretrizes da Companhia, focadas na expansão.
A decisão de Garcia, na semana passada, levou a Companhia a anunciar também a saída de Bender. Semanas atrás, quando Schwarcz já planejava promover Otávio Marques a "publisher", ela recusara proposta para assumir outra posição na editora.
"A Companhia passa por transformações que não atendem à minha expectativa de editora de texto, meu interesse maior no trabalho com os livros", disse Bender à Folha.
Conhecida pelo perfil familiar, muito centrado na figura de Luiz Schwarcz, a Companhia das Letras se firmou no mercado pela qualidade do catálogo e pelas edições cuidadosas, com editores dedicados totalmente ao texto.
Na nova estrutura, similar à da Penguin, o editor tem uma participação mais "global na vida do livro", como diz Schwarcz, envolvendo-se desde a contratação de obras até o trabalho de marketing.
Com editores que são, assim, "donos" dos livros, a edição de texto fica mais a cargo da recém-criada editoria de produção, que quer treinar colaboradores externos.
No mesmo período em que contratou nomes como Leandro Sarmatz e Flávio Moura como editores-sênior de obras literárias e de perfil mais acadêmico, a casa investiu em selos para crescer no mercado e em escolas.
Lançou em abril o popular Paralela, sob os cuidados do "publisher" Matinas Suzuki, e em setembro o selo Seguinte, juvenil, e o Boa Companhia, de antologias com potencial para adoção escolar, estes agora a cargo da "publisher" Júlia Schwarcz, que já cuidava dos selos Companhia das Letrinhas e Claro Enigma.
Em 2013, Matinas lançará o selo Portfólio, voltado a negócios, política e economia, filão que nos EUA se destaca nas listas de mais vendidos.
Para Marques, as mudanças não impactarão os atuais leitores; apenas trarão novos: "É uma reestruturação para melhorar processos internos. A expectativa é ganhar eficiência e rentabilidade".
Segundo Schwarcz, as vendas em livrarias cresceram 20% em relação a 2011, mas, com menos compras do governo, a expansão da empresa deve fechar o ano em 10%.

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