segunda-feira, 26 de novembro de 2012

'Lula é o melhor para o governo paulista em 2014' - João Santana na "Entrevista da 2ª"


ENTREVISTA DA 2ª - JOÃO SANTANA
'Lula é o melhor para o governo paulista em 2014'
MARQUETEIRO DO PT DIZ QUE DILMA SERÁ REELEITA NO 1º TURNO E QUE HADDAD É O NOME DO PARTIDO PARA A PRESIDÊNCIA EM 2022 OU 2026
Paulo Pinto - 22.ago.2012/Divulgação
Da esq. para dir.: Haddad, João Santana e Lula, no intervalo de uma gravação para TV, em agosto
Da esq. para dir.: Haddad, João Santana e Lula, no intervalo de uma gravação para TV, em agosto
FERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIAMais político e engajado do que nunca esteve, o marqueteiro preferido pelo PT desde 2006, João Santana, declara que o melhor nome do partido para disputar o governo de São Paulo é o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"É uma pena o nosso candidato imbatível, Lula, não aceitar nem pensar nesta ideia de concorrer a governador de São Paulo. Você já imaginou uma chapa com Lula para governador tendo Gabriel Chalita, do PMDB, como candidato a vice?", disse Santana, em tom irônico, quase no final de uma longa entrevista à Folha.
Para o marqueteiro, a presidente Dilma Rousseff será reeleita em 2014 já no primeiro turno -se ocorrer, será algo inédito para um petista em disputas pelo Planalto. Sobre o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, faz uma previsão: "Tem tudo para ser presidente da República, em 2022 ou 2026". Antes disso, talvez seja a vez de Eduardo Campos, do PSB.
Na conversa, o marqueteiro de 59 anos relatou como foi a calibragem da estratégia que deu ao PT a Prefeitura de São Paulo neste ano. Não podia atacar os outros candidatos no início da campanha, porque Haddad "não tinha musculatura para bater nem para herdar eleitores" de adversários.
Em anos passados, Santana falava com um certo distanciamento do petismo. Hoje, assume-se mais como um profissional engajado com a causa partidária. "Por ter muita afinidade com o PT e esse campo político, eu acho muito difícil, eu diria impossível, fazer uma campanha presidencial para o PSDB."
Responsável pelo marketing de Luiz Inácio Lula da Silva (em 2006) e de Dilma (2010), Santana trata a oposição com menoscabo: "Se a eleição fosse hoje, novembro de 2012, Dilma ganharia no primeiro turno. Se fossem candidatos de oposição Aécio Neves e Eduardo Campos não teriam, somados, 10% dos votos".
E o presidente do STF, Joaquim Barbosa, como candidato ao Planalto? "Poderia ter um final de carreira melancólico. Não se elegeria, faria uma campanha ruim e teria votação pouco expressiva".
A seguir, trechos da entrevista concedida por ele em 19 de novembro, no apartamento onde vive em Salvador:
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Folha - Em 2008, Marta Suplicy perdeu a eleição para a Prefeitura de São Paulo. Agora, Fernando Haddad, ganhou. O que se passou?
João Santana - Marta Suplicy sempre foi a melhor candidata do PT para um primeiro turno. E a pior para um segundo turno.
E Fernando Haddad?
Fernando Haddad era o pior candidato que o PT tinha para um primeiro turno e o melhor para um segundo turno.
[Sobre a desconstrução de Celso Russomanno] Tínhamos um grande desafio: encontrar a arma certa e a hora certa de atacar Russomanno. Isso inquietava todo mundo (...) Não podíamos fazer fora do tempo. Fernando Haddad não era conhecido, não tinha musculatura para bater nem para herdar eleitores que pudessem deixar Russomanno.
Fernando Haddad tem tudo para ser presidente da República, em 2022 ou 2026. É jovem, vai fazer um bom governo em São Paulo...
Não é muita futurologia?
É... Mas se a política não permite futurologia, as entrevistas permitem. Fernando Haddad tem hoje 49 anos. Vai ficar oito anos em São Paulo, porque vai se reeleger. Em 2022, 2026, vai ter um pouco menos ou um pouco mais de 60 anos.
Por que José Serra perdeu?
A renúncia à Prefeitura de São Paulo em 2006 (...) Você pode até perdoar alguém que matou um ente querido seu, mas dificilmente perdoará se tiver de conceder o perdão na sala ou no quarto em que aconteceu o crime. Serra quis voltar para o mesmo lugar que um dia havia deixado. A lembrança da renúncia dele torturava as pessoas.
O desgaste do PSDB pesou?
Os tucanos não souberam ser oposição. Viraram uma versão anacrônica da UDN: denuncistas e falsos moralistas. Pode acontecer ao PSDB o que aconteceu ao DEM. O DEM está sendo engolido pelo PSD, de Kassab. Se não se renovar, o PSDB pode ser engolido pelo PSB, de Eduardo Campos.
O DEM teve vitórias regionais...
Ganhar Salvador não faz a menor diferença para o DEM. Eu hoje imagino que é mais lógico que o prefeito eleito de Salvador, ACM Neto, saia do DEM do que queira ou tenha força para ressuscitar o partido. O DEM vive um ciclo terminal.
Por que o governo da presidente Dilma ainda tem uma marca difusa?
Você escreveu isso, mas discordo. Ela está firmando uma imagem vigorosa de grande consolidadora das políticas sociais, de ampliadora dos direitos da classe média, de reformadora moral e modernizadora do país. Está se formando a imagem de uma mulher firme, honesta, que não tem medo de tomar medidas duras. Uma mulher que não se deixa mandar. Que sabe fazer parcerias e alianças com setores importantes, especialmente com Lula. Uma presidenta que enfrenta uma das maiores crises da economia internacional sem titubear. Uma mulher de raça. Que enfrenta os bancos para abaixar os juros, as empresas de energia para abaixar a tarifa elétrica. Eu não estou inventando: estou relatando a leitura de estudos profundos de opinião.
O sr. afirmou em 2010 que Dilma ocuparia metaforicamente a cadeira da rainha no imaginário do brasileiro. Isso está se passando?
Era uma imagem figurada. Uma metáfora que está se cumprindo simbolicamente. Grandes camadas da população têm um respeito, uma admiração e um carinho tão sutil por Dilma que chega até a ser de uma forma majestática. É diferente daquele amor quase carnal, elétrico, vulcânico que têm por Lula.
Que papel terá a economia na sucessão em 2014?
Na hipótese que me parece completamente improvável de a economia ter sérios abalos, a população verá Dilma com muito mais capacidade de controlar o timão num momento de crise do que alguém da oposição. Com o cardápio de candidatos que está sendo oferecido, as pessoas vão confiar muito mais nela.
Quem será candidato a presidente em 2014?
Dilma Rousseff será candidata e vai ganhar a eleição. Provavelmente no primeiro turno (...) Se a eleição fosse hoje, novembro de 2012, ganharia no primeiro turno. Se fossem candidatos de oposição, Aécio Neves e Eduardo Campos não teriam, somados, 10% dos votos.
Aécio Neves é competitivo?
Mais para o futuro. Não me parece que vai chegar com força suficiente em 2014.
Eduardo Campos?
Eduardo Campos seria um candidato a presidente melhor em 2018 do que seria em 2014. Entre os candidatos que seguiram essa linha de acúmulo gradativo de forças [concorrendo em várias eleições] só houve um que se saiu bem nesta estratégia, que foi Lula. Adhemar de Barros [1901-1969] foi um caso patético. Leonel Brizola [1922-2004] fracassou. Ciro Gomes não teve resultados. É uma faca de dois gumes. Um candidato jovem que vem pela linha da renovação torna-se muito mais forte se trabalhar no momento preciso, com impacto. Foi o que aconteceu com Haddad em São Paulo.
E Joaquim Barbosa?
É uma pessoa inteligente e saberá tomar a decisão certa. Caso se candidatasse poderia ter um final de carreira melancólico. Não se elegeria, faria uma campanha ruim e teria uma votação pouco expressiva. Não tem apelo para ser candidato presidencial. Mesmo com os pontos positivos que tenha, não tem perfil de presidente. Não tem preparo político para enfrentar o embate de uma campanha. Não tem base partidária que lhe forneça uma estrutura sólida. O povo separa bem as coisas: sabe que uma coisa é ser juiz outra é ser presidente.
Marina Silva?
Saiu bem da campanha de 2010, mas perdeu o vigor nesses dois anos, durante os quais poderia ter feito um trabalho mais consistente.
Ciro Gomes?
Não sei nem se ele tem condições de se impor como candidato em seu partido.
E Lula em 2014?
Não quer ser candidato a presidente da República, em 2014. Defende, de toda alma, a reeleição de Dilma. Mas vou fazer uma provocação. É uma pena o nosso candidato imbatível, Lula, não aceitar nem pensar nesta ideia de concorrer a governador de São Paulo. Você já imaginou uma chapa com Lula para governador tendo Gabriel Chalita, do PMDB, como candidato a vice? E mais do que isso. Já imaginou o que seria, para o Brasil, Dilma reeleita presidenta, Lula governador de São Paulo e Fernando Haddad prefeito da capital? Daria uma aceleração incrível no modelo de desenvolvimento econômico e avanço social que o Brasil vem vivendo.
[Mas] ele não aceita. Se isso sair publicado ele vai xingar até a minha quinta geração.

    Mensalão foi um 'reality show', diz Santana
    Marqueteiro do PT adverte ministros do Supremo e diz que excesso midiático 'intoxica' e é um 'veneno'
    Em entrevista, João Santana questiona se magistrados do STF estão preparados para 'superexposição'
    DE BRASÍLIANeste trecho de sua entrevista à Folha, o marqueteiro João Santana, fala, entre outros assuntos, do impacto eleitoral do julgamento do mensalão. "Teve um efeito circunstancial", afirma.
    Ao analisar o tema, ele disse também se sentir "no dever" de fazer uma observação aos ministros do Supremo Tribunal Federal: "O excesso midiático intoxica. É um veneno. Se os ministros não se precaverem, eles podem ser vítimas no futuro".
    Para Santana, o julgamento do mensalão transmitido ao vivo pela TV "é o maior reality show da história jurídica não do Brasil, mas talvez do planeta".
    Sobre debates entre candidatos durante uma campanha, o marqueteiro acha possível fazer esses encontros de maneira menos engessada do que os realizados hoje por redes de TV. Ainda assim, é cético quanto ao resultado.
    "Não pense que o marketing deixará de influenciar um debate com menos regras. No período anterior a esse encontro haverá uma fase grande de treinamento. Será feito por pessoas da política e do marketing", afirma.
    Mais do que purismo, diz Santana, "é burrice" imaginar que políticos possam atuar sem os métodos da publicidade. "A política nunca prescindiu de técnicas de persuasão desde a sua origem."
    A seguir, trechos da entrevista.
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    Folha - Que impacto teve o mensalão na eleição de SP?
    João Santana - Teve um efeito circunstancial. Alguns comerciais que tentavam juntar o Fernando Haddad ao caso. A gente sentia que por umas 48 horas havia um efeito, que depois evaporava. Era como uma lesão no atleta de futebol. Às vezes, a perna fica roxa, mas não significa que quebrou ou que a inutilizou.
    Por que foi só assim? O eleitor não dá atenção para esse tipo de desvio moral?
    Por uma razão muito simples: Fernando Haddad não estava, de nenhuma maneira, envolvido no episódio. E durante toda sua vida não sofreu nenhuma denúncia por conduta irregular. [José] Serra, inclusive, engoliu isto a seco num debate.
    Apesar de toda a exposição do mensalão na TV, só houve esse impacto circunstancial?
    Sim. Mas eu gostaria de fazer uma observação adicional. O julgamento do mensalão levou ao paroxismo a teatralização de um dos poderes da República. O que isso trouxe de bom ou de ruim, o tempo dirá. Mas sem querer dar conselhos, é bom lembrar uma coisa para os ministros membros do STF: o excesso midiático intoxica. É um veneno. Se os ministros não se precaverem, eles podem ser vítimas desse excesso midiático no futuro. E com prejuízos à instituição.
    Como?
    Mesmo sendo transparente, uma Corte deve ter um certo recato. Você já imaginou se todos os governos transmitissem ao vivo as suas reuniões ministeriais? Se houvesse uma câmera ao vivo transmitindo de dentro dos gabinetes do presidente e dos ministros? Você acha que essa transparência seria benéfica ou maléfica? O governo seria mais democrático por se expor dessa forma? Ou um governo mais fragilizado?
    Mas o sr. acha que deve ser interrompida a transmissão das sessões do STF pela TV?
    Não estou dizendo isso. Mas apenas que os ministros, como atores, tenham a dimensão do que isso significa. Administrar a Justiça com transparência não significa, necessariamente, fazer um reality show. Qualquer pessoa precisa se precaver com a atuação. Até um cirurgião, quando filmado, pode ter interferência na sua atuação.
    Como podem sofrer os ministros do STF pela exposição extremada?
    O ego humano é um monstro perigoso, incontrolável. Toda vez que você é levado a uma superexposição sua tendência é sempre sobreatuar. Essa é a questão central.
    O sr. está comparando o julgamento do mensalão a um reality show?
    O mensalão é o maior reality show da história jurídica não do Brasil, mas talvez do planeta. Não existe uma Corte Suprema no mundo que tenha transmissão ao vivo. Os ministros estão preparados para julgar. Mas estão preparados para essa superexposição? Aliás, qual é o ser humano que está preparado para uma situação dessas? Eu costumo dizer aos candidatos em campanha: tome cuidado quando você está ali, sob aquela luz, porque você está exposto. Tome cuidado com a sua cabeça e sobre como reagir com o sucesso. Se você não reagir bem à exposição midiática e ao sucesso, você pode trazer problemas para você, para sua família e para a instituição que você representa.
    O julgamento do mensalão teria um resultado diferente se não tivesse transmissão ao vivo pela TV?
    Às vezes, eu acho que sim. E acredito que a transmissão ao vivo potencializou os efeitos da pressão feita pela mídia antes do julgamento. Não estou dizendo que seja só ruim, só negativo. Mas é um fato que precisa ser conhecido e eu, como especialista em comunicação, me sinto no dever de dizer.
    É purismo achar que a política possa prescindir do marketing?
    É mais que purismo. É burrice. É um equívoco pensar assim, porque a política nunca prescindiu de técnicas de persuasão desde a sua origem, no tempo das cavernas.
    Não seria melhor colocar os políticos na TV, ao vivo, um questionando o outro e sem marketing?
    E se isso gerasse tédio, um desencanto, um desinteresse ainda maior pela politica?
    Ainda assim, não seria melhor que os debates fossem menos amarrados pelo marketing?
    Os debates podem ser melhorados. Mas não pense que o marketing deixará de influenciar um debate com menos regras. No período anterior a esse encontro haverá uma fase grande de treinamento. Será feito por pessoas da política e do marketing. As técnicas de debate, de retórica e mesmo de expressão facial terão influência do marketing. Haverá um trabalho maior de "coaching" no bastidor, de linha argumentativa, de construção de discurso. Isso é feito pelo marketing. Como foi feito a vida inteira pelos consultores, conselheiros das monarquias e das antigas repúblicas. Querem vender o marketing como um mal dos tempos modernos. Não é. É um comportamento que vem de séculos. Ele só vai se aperfeiçoando ou se instrumentalizando a partir da infraestrutura física que se tem, dos meios de comunicação, da forma de fazer política.
    Por que não foi realizado o debate na internet na eleição paulistana?
    Primeiro, por problemas de agenda. Segundo, por uma relação custo-benefício: a influência da internet é ainda muito restrita nas campanhas eleitorais no Brasil.

      FRASES
      "Não existe uma Corte Suprema no mundo que tenha transmissão ao vivo. Os ministros estão preparados para julgar. Mas estão preparados para a superexposição? Qual ser humano está preparado para uma situação dessas?"
      "Os debates podem ser melhorados. Mas não pense que o marketing deixará de influenciar um debate com menos regras. No período anterior a esse encontro haverá uma fase grande de treinamento. Será feito por pessoas da política e do marketing. As técnicas de debate, de retórica e mesmo de expressão facial terão influência do marketing"


      PERFIL
      Santana venceu seis campanhas presidenciais
      DE BRASÍLIAJoão Cerqueira de Santana Filho nasceu em 5 de janeiro de 1953 em Tucano, pequena cidade no sertão da Bahia, a 252 km de Salvador. Foi jornalista até os 40 anos. Depois, enveredou para o marketing político.
      Acumula a participação em sete campanhas presidenciais no Brasil e no exterior, sempre para candidatos de esquerda. Venceu seis.
      No Brasil, comandou o marketing na reeleição de Lula (2006) e na eleição de Dilma (2010). No exterior, pela ordem, Eduardo Duhalde (1999), Maurício Funes, em El Salvador (2009), Danilo Medina, na República Dominicana (2012), José Eduardo dos Santos, em Angola (2012), e Hugo Chávez, na Venezuela (2012).
      A única derrota foi com Duhalde, na Argentina, quando trabalhava com Duda Mendonça. Os dois estiveram associados até 2001, quando romperam.
      Como jornalista da revista "IstoÉ", em 1992, recebeu o Prêmio Esso por ser um dos autores da entrevista com Eriberto França, testemunha-chave no processo de impeachment do então presidente Fernando Collor.

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