Roberta Machado
Estado de Minas: 19/12/2012 04:00
“Um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade.” Os primeiros passos de Neil Armstrong na superfície lunar mudaram o mundo, e acenderam a esperança de que a humanidade em breve conquistaria o cenário intergaláctico com colônias pelo espaço. Mal sabiam os homens da época, que passaram a ilustrar donas de casa em trajes espaciais e casas construídas sob bolhas na Lua, que o Universo pertenceria, na verdade, aos robôs.
A cruel superfície marciana, as longas viagens e os perigos desconhecidos do espaço são demais para o frágil corpo humano. Enquanto as pessoas não puderem equipar seus corpos com estruturas mais resistentes a esse tipo de aventura interplanetária, a saída é investir na segurança da tecnologia. A estratégia pode não ser tão poética quanto as pegadas de Armstrong no satélite natural da Terra, mas as máquinas vão para onde forem enviadas, trabalham dia e noite e não precisam retornar à Terra.
Esse foi o ponto discutido pelo astrônomo americano Roger D. Launius, durante palestra promovida pelo projeto Esquina da Ciência, organizado pela Embaixada dos Estados Unidos e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Curador da Divisão de História Espacial do Smithsonian, um dos principais museus científicos do mundo, localizado em Washington, o especialista mostrou como a necessidade de explorar novas fronteiras levou à produção de uma nova geração de astronautas, verdadeiros cientistas de metal que se tornaram os olhos e os ouvidos humanos em outros planetas.
O investimento em tecnologia e a valorização da vida, apontou Lauius, deu início a uma verdadeira dominação robótica, que mudou o rumo da exploração espacial. E agora essa tendência chega a seu auge. Mal o robô Curiosity começa a conhecer os cenários de Marte, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) anuncia uma série de novas missões que deve culminar no envio de uma nova máquina motorizada para o Planeta Vermelho em 2020. Em entrevista ao Estado de Minas, o astrônomo estendeu essa discussão e apontou como os avanços tecnológicos têm levado o homem a novas fronteiras espaciais, mesmo que remotamente.
Por que as pessoas precisam ir ao espaço? Qual é o motivo que as leva a ter esse desejo?
Há cinco razões para ir ao espaço. Três delas não precisam de pessoas. A primeira é científica, e fazemos isso muito bem com robôs, indo a todos os tipos de lugares. A segunda razão é a segurança nacional. Com satélites de reconhecimento e tudo o mais, mas isso não pede um humano no espaço. O terceiro motivo é econômico. Podemos fazer dinheiro com satélites de comunicação e sistemas de navegação. Mas há duas razões que precisam de humanos. E elas são na verdade inevitáveis. Uma é a própria natureza humana, que sempre quer mais. Quer escalar a montanha, cruzar o oceano, ir para outro lugar em que nunca esteve. A última razão é a mais inevitável, porque no fim das contas nós temos de sair desse planeta. Se não, nós seremos extintos, e essa é uma certeza de 100%. Arthur C. Clarke dizia que, se os dinossauros tivessem um programa espacial, eles não teriam acabado.
Ao enviar os robôs para o espaço, esperamos receber informações deles em troca, e a distância parece ser um grande obstáculo para isso. Como o senhor imagina que possam ser superados esses desafios da distância com relação à comunicação?
O tempo que leva para a comunicação é uma lacuna enorme, para qualquer atividade espacial, seja com humanos ou robôs. Os robôs que estão indo para Marte não podem ser simplesmente colocados ali e dirigidos com um controle. Gostaríamos de fazer isso, mas, por causa da diferença de tempo que leva para a informação transitar entre a Terra e Marte, a comunicação leva muitos minutos, o que impede que façamos atividades em tempo real. Estamos trabalhando muito no contexto de planetas terrestres, como Marte, Vênus, talvez Mercúrio, onde vamos colocar sistemas de comunicação. Isso melhoraria um pouco as coisas, mas não resolve o problema da latência, simplesmente temos de viver com isso. Não há comunicador subespacial como o que usam em Jornada nas estrelas, que permitem a comunicação instantaneamente.
Os robôs têm um papel de ajudantes ou de astronautas? O sonho de levar o homem a novos lugares no espaço ainda existe?
Vamos mandar pessoas para o espaço para fazer muitas coisas. Agora, vamos focar na estação espacial internacional e em todos os programas tripulados programados para a próxima década. Depois disso, há possibilidade de retomarmos alguma missão tripulada à Lua, e essa pode ser uma viagem de “acampamento”, alguma atividade do tipo Apollo. Mas há um monte de pessoas que não querem ir para a Lua, desejam viajar para Marte. É aí que está a excitação. Essa, porém, é uma tarefa muito mais difícil. Você pode chegar à Lua em três dias, mas leva meses para ir a Marte. E mais nove para voltar. Além disso, por causa dos padrões orbitais entre a Terra e o Planeta Vermelho, você precisaria ficar ali por alguns meses. O que significa que você teria de ter habitats resistentes à radiação, ter todos os recursos que precisa para se manter por esse tempo e tudo o mais. Não é uma tarefa fácil. Sabemos como construir foguetes maiores, como construir habitats, mas manter pessoas lá é um desafio completamente diferente.
Há uma tentativa de reproduzir os sentidos e habilidades humanas nos robôs. Mas há como melhorar suas perfomances, prevendo as diversas situações que podem enfrentar e minimizar riscos?
Podemos equipar nossos robôs com sensores que nos permitam ver coisas, passar por experiências, fazer medições além da capacidade humana. Podemos construir telescópios que podem ver ondas de rádio, ultravioleta e raios gama. A única coisa que não podemos fazer com robôs, pelo menos não ainda, é criá-los de uma forma que eles possam tomar muitas decisões. A maravilha da humanidade é a habilidade de ver, analisar e agir. E isso não existe para robôs. Eles são muito bons em executar tarefas programadas. Além disso, se forem confrontados com algo além do comum, eles não fazem um bom trabalho. E não estamos nem perto de poder criar autonomia nos robôs. Até que isso aconteça, eles não vão substituir os humanos no sentido real.
Nas décadas de 1950 e 1960, no início da corrida espacial, as pessoas imaginavam que existiriam exploradores como o Curiosity?
Em 1950, as pessoas não achavam que isso seria possível. A revolução eletrônica surpreendeu a todos. Em 1963, em um feira mundial de tecnologia, em Nova York, várias coisas eram destacadas como o que veríamos no futuro. Videofones, carros que se dirigem sozinhos e tudo o mais. Há coisas que acontecem que você nunca previu, outras, você prevê, mas nunca se tornam realidade. Onde esta meu jetpack? Eu continuo perguntando isso (risos).
Quando se fala em robôs no espaço, as pessoas pensam em modelos como o C3PO ou R2D2, de Guerra nas estrelas. Mas o que se espera hoje de um robô que vai para o espaço?
Você quer o maior número de instrumentos possível para medição. Há sensores, câmeras, brocas, mecanismos. Talvez um pequeno laboratório, onde se possa colocar um pedaço da superfície marciana para analisá-la ou algo assim. Instrumentos de perfuração, para q possa cavar o chão. Esse tipo de coisa é a chave, uma combinação de instrumentos, eletrônica e coisas mecânicas que você possa manipular.
O Curiosity surpreendeu a todos com suas várias ferramentas.
Como deve ser o próximo veículo enviado pela Nasa a Marte?
Ele será um pouco maior e terá mais capacidade de operar por períodos mais longos. Mas há uma sequência de missões previstas para Marte. Há outro rover, um satélite e a discussão sobre um avião, o que seria muito legal. Apesar de fina, há uma atmosfera em Marte. Então, algo pequeno o suficiente e com asas grandes pode voar lá. Ele iria mais longe e tiraria fotos do alto, seria muito bacana. Mas a coisa em que todos estão focados e que pode ser feita em 10 anos é uma missão que traga à Terra amostras da superfície de Marte.
Qual deve ser a nova tecnologia que vai ajudar robôs e
humanos em viagens espaciais?
O que realmente precisamos buscar é a tecnologia para sair deste planeta. Melhores foguetes ou algum tipo de alternativa. Uma das coisas que fizemos com a nossa tecnologia de foguetes, e não só os americanos, mas todos os que têm um foguete, incluindo o Brasil, foi torná-la mais confiável, mais capaz, mais fácil de operar e menos cara. Em cada geração, nós melhoramos apenas um pouco. E estamos para atingir o ponto em que não poderemos fazer muito mais. Eu acho que nós estamos sob a mesma maldição que afetava a aeronáutica nos anos 1940. Quando tínhamos aviões muito bons, mas, para atingir o próximo nível, tínhamos de ir para os jatos. E era um tipo diferente de tecnologia. Podemos fazer isso com foguetes? Eu não sei o que poderia estar nessa categoria. Há muitas ideias, e algumas são muito legais. Mas nenhuma delas existe no presente.
Que ideias são essas?
Coisas como a maglev, uma superfície magnética espacial de levitação. Ela fica nesse grande trilho de metal, que é um ímã, e pode voar a grandes velocidades em um ângulo pela lateral de uma montanha e passar por sua órbita. É algo como um elevador espacial, uma ideia fascinante. Na teoria, podemos construir um, mas é muito difícil. Há vários tipos de coisas assim, como um laser que pode levantar uma aeronave. Parece um pouco com o que chamamos de discos voadores, porque são redondos e voam usando o poder do laser. Pessoas estão trabalhando nisso, é fantástico. O aparelho levitou uns 15m. Mas essa é a tecnologia nova. Ninguém sabe (a que resultados pode chegar).
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