quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Santa aliada das pernas - Celina Aquino‏

Viagens longas de avião ou ônibus nesta época do ano e chegada do verão deixam os membros inferiores inchados em muitas pessoas. Meia elástica é alternativa para aliviar o desconforto e a sensação de peso 

Celina Aquino
Estado de Minas: 19/12/2012 

Associar o uso da meia elástica a doença está fora de moda. A compressão pode e deve ser relacionada a prevenção. Especialistas garantem que o produto é uma ótima alternativa para quem sente algum tipo de desconforto nas pernas, não necessariamente causado por problemas de saúde. Como faz pressão decrescente do tornozelo para a coxa, a meia elástica facilita o retorno do sangue ao coração, aliviando sintomas como dor, câimbra e inchaço. A chegada do verão é um motivo a mais para usá-la, pois o calor dilata as veias, o que faz aumentar a sensação de peso nos membros inferiores. O período de férias também, principalmente para quem vai viajar e passar muitas horas dentro de um avião, do carro ou do ônibus.
Autor do livro Terapia da compressão, o angiologista Marcondes Figueiredo destaca que a meia elástica é indicada para pessoas que passam o dia inteiro em pé, como balconistas, seguranças e enfermeiros. De 40 trabalhadores que ficavam mais de oito horas parados, participantes de um estudo publicado na revista britânica Phlebology, 65% apresentaram melhora das queixas ao fim da jornada com o uso da meia. “O edema vespertino se manifesta de formas diferentes. Pode ser só peso nas pernas, câimbra ou coceira”, comenta o especialista mineiro. A meia de suporte ou preventiva, com compressão de 15 a 20 milímetros de mercúrio (mmHg), pode aliviar todos esses sintomas.

De acordo com Figueiredo, o Ministério do Trabalho avalia a possibilidade de classificar a meia elástica como equipamento de proteção individual (EPI) na indústria, tornando seu uso obrigatório, assim como capacete, protetor auricular e óculos.

Assim como os trabalhadores, o angiologista aposta que os atletas vão se acostumar a fazer atividade física com meia elástica. No ano passado, Figueiredo conduziu uma pesquisa com um time profissional de vôlei. As jogadoras fizeram exercícios específicos para panturilha por 30 minutos com e sem compressão. Uma hora depois, colheu-se o sangue delas para dosar o sofrimento da célula muscular. “A meia protegeu a célula muscular. A longo prazo, ela melhora a performance e a recuperação depois da atividade”, comenta. O especialista esclarece que as pesquisas ainda estão em andamento, mas se mostram promissoras, já que comprovam que a meia elástica ajuda na prática esportiva.

ALÍVIO NA PRÁTICA ESPORTIVA
 O estudante Hermano Lopes, de 18 anos, não abre mão de usar a meia elástica para jogar futebol e correr na rua. Desde que usou pela primeira vez, no ano passado, ele percebeu que fica menos cansado ao fim da atividade. “É como se tivesse menos desgaste muscular. Com a meia, a perna fica leve e a panturilha não dói tanto”, explica. De tão discreta, ela nem parece ser elástica.

Janeiro é época de consultório cheio para o angiologista Bruno de Lima Naves. A culpa é das viagens prolongadas de avião e ônibus. “A perna fica pendente por muitas horas e o sangue, parado. O ar do avião é rarefeito, o passageiro toma vinho e apaga. Se for uma pessoa mais gorda, que tenha varizes ou esteja usando pílula, pode chegar ao destino com trombose ou embolia pulmonar, e até morrer”, alerta. Nos Estados Unidos, surgem 2 milhões de casos de trombose por ano. Desses, 600 mil evoluem para embolia pulmonar, sendo que 60 mil pessoas morrem. Naves diz que a meia elástica previne 30% dos casos, porque aumenta a velocidade do retorno venoso. O que causa trombose é justamente a lentidão do sangue.

A meia elástica também deve ser usada durante a gestação, mas não para impedir o surgimento de varizes. Na verdade, explica Marcondes Figueiredo, ela serve para evitar desconforto nas pernas, que costumam ficar inchadas porque a mulher grávida acumula muito líquido. Além disso, a compressão é capaz de acelerar a passagem de sangue, que fica mais lenta no último trimestre de gravidez, quando o útero passa a comprimir os vasos sanguíneos.

Não há necessidade de prescrição médica para usar a meia elástica com compressão de 15mmHg a 20mmHg, indicada para todas as situações descritas. O autor do livro Terapia da compressão defende, porém, que o melhor é procurar um especialista para não errar na escolha. “A meia é igual a antibiótico, não dá para tomar sem saber a via nem a dosagem. O médico vai medir a sua perna durante a manhã, quando não está inchada, e indicar qual modelo você deve usar”, pondera.
FORÇA NA PANTURRILHA Figueiredo faz outro alerta: usar meia elástica não é garantia de boa saúde vascular. “Você tem que se mexer, deixar de ser fumante, obeso e sedentário. Faça exercício físico, caminhada, eleve a perna a cada duas horas para não ficar totalmente estático”, diz. O angiologista Bruno Naves lembra que a panturrilha é o coração venoso periférico, que funciona como uma bomba que impulsiona o sangue na direção do tórax. “O grande segredo da boa saúde vascular é ser batatudo”, brinca. “A nossa grande preocupação é motivar as pessoas a trabalhar a panturilha, por isso falamos para fazer alguma coisa que force a musculatura. Quando você exercita a panturilha, cria uma meia muscular.”

O QUE VOCÊ PRECISA SABER
 
» A meia elástica deve ser confortável. Se ela apertar demais ou provocar mal-estar, pode ser que esteja na compressão ou medida inadequadas. 
 
» Em um primeiro momento, a meia elástica pode incomodar. Para que o corpo se acostume, o ideal é passar por um período de adaptação. Use-a apenas pela manhã na primeira semana e 
vá acrescentando duas horas a cada semana. Só a partir da quarta semana passe o dia 
todo com ela.
 
» A meia elástica deve ser calçada sempre ao se levantar. Isso pode ser feito nos primeiros 30 minutos, ou seja, dá tempo 
de ir ao banheiro, escovar os dentes e até tomar banho. O 
que não pode é vesti-la três horas depois de ter saído da cama e caminhado.
 
» Dormir com a meia elástica, nem pensar, a não ser que seja a antitrombo. A compressão dela bloqueia a circulação arterial, alterando o fluxo do sangue que desce do coração para os pés.
 
» A meia elástica de uso diário deve ser trocada a cada quatro meses. Como é de borracha, depois desse período, ela perde o poder de compressão.
 
» A compressão oferece benefícios apenas quando a meia está sendo usada. O efeito hemodinâmico que ela provoca no membro cessa em cerca de uma hora.
 

 OUTROS USOS DA MEIA ELÁSTICA
 
» Cicatrizar úlcera varicosa, que acomete 3% da população adulta. A longo prazo, a insuficiência venosa crônica faz com que o sangue saia de dentro dos vasos, provocando uma isquemia no tornozelo. A meia elástica só pode ser prescrita para tratar feridas pequenas e sem secreção. 
 
» Melhorar linfedema. O problema surge quando vasos linfáticos retornam com líquido das extremidades do corpo para 
o coração. A meia elástica oferece benefícios depois 
que o edema regride.
 
» Prevenir a trombose venosa profunda. A meia elástica antitrombo ou antiembólica é recomendada em pós-operatório e para acamados, já que estimula o fluxo de sangue na perna enquanto a pessoa estiver deitada. Na Europa e Estados Unidos, o uso é obrigatório em hospitais. Se 
um paciente que não usa meia tiver trombose, o médico pode ser processado.
 
» Evitar complicações decorrentes de varizes. Como o sangue já corre devagar nas veias, sem a compressão a pessoa pode ter problemas mais graves, entre eles flebite, trombose, eczema 
e úlcera varicosa. A meia só 
não previne o surgimento 
de vasinhos, apenas alivia 
os sintomas.

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